OPINIÃO

Leia ‘O Brasil, os brasileiros e os interesseiros’, do médico e professor Ruy Palhano

Ver políticos consagrados, tradicionais, raposas em suas áreas de atuação, gemerem e tremerem nas bases, ante a possibilidade de irem para a cadeia. Realmente, pensei que não viveria o suficiente para ver tudo isso.

Ruy Palhano, neuropsiquiatra e professor

Esse país que tanto amamos, elogiamos, lutamos e gostamos de viver nele tem, de fato, passado, nesses últimos 15 anos, por momentos muito difíceis, em todos os sentidos. Diria, momentos ambíguos, contraditórios, grotescos e até inacreditáveis, nos levando, as vezes, a não acreditar no que estamos vendo. São acontecimentos grotescos, inimagináveis que pudessem acontecer, até a um certo tempo.

Quem, apostaria que ex-governadores, poderosos, cheios de si, ricos, milionários, enjaulados e tirando fotos com roupa de presidiários. Ex-Presidentes da República, destituídos de seus cargos, acima de tudo, por pressão popular. Outro Ex-presidente, com o dedo cruzados, para não chegar sua hora. Presidentes de mega-empreiteiras, que sempre mandaram em quase todos os setores desse país, especialmente na construção civil, estarem rezando para assumirem delação premiada, para não irem presos, e se o forem, com mais beneplácitos. Juízes, médicos, advogados, presos, por corrupção, lavagem de dinheiro, propinagem, etc. Senadores, deputados, vereadores, prefeitos, com mandatos judiciais, impedidos de assumirem suas funções parlamentares e executivas e outros, já com funções perdidas, por determinação da justiça. Prefeitos, mulheres dessas autoridades na cadeia.

Ver políticos consagrados, tradicionais, raposas em suas áreas de atuação, gemerem e tremerem nas bases, ante a possibilidade de irem para a cadeia. Realmente, pensei que não viveria o suficiente para ver tudo isso. Ver, tantas coisas importantes, acontecerem nesse cenário políticos atual, que há anos gostaria de ver, isso é maravilhoso. Vê o pais sendo passado a limpo, como diria, Boris Casoy.

Como médico, acho que todos esses eventos, ditos traumáticos, mexeu com as bases políticas, econômicas, sociais, éticas e democráticas da nação, a um só tempo, e isso a abalou profundamente. Ao ponto de dar sinais de desadaptação profunda. Suas bases anômalas, estão sendo retiradas e o país não estava preparado para tantas grandiosas mudanças.

Normalmente, quando não estamos preparados para suportar profundas mudanças, tendemos a manter o “status quo” da doença, para mantê-la incólume. O doente, se acostuma com sua própria doença. É uma espécie de defesa, de conformação, mesmo com as coisas desagradáveis. A lei de menor esforço.

Surgem as fragilidades, as dores, o desânimo, o isolamento social a angustia e a amargura, ante o descobrimento de tantas mazelas e de tantos problemas. Ao mesmo empo, um desejo ardente de nos livrarmos, de tanta agonia. Digo isso, fazendo analogia com o momento histórico porque passa nosso país. Analogias ou comparações, entre as situações atuais com as situações que passa o médico em seu cotidiano. Sendo assim, metaforicamente, eu diria que nosso país está muito doente, com medo assustado e apreensivo. Veja, quando alguém, passa a se queixar de algum tipo de dor, febre, mal-estar difuso e inexplicável, ou alguma situação que provoque sofrimento e que o próprio enfermo reconhece que não pode mudar a situação por si só, isso é um sinal claro de doença.

Passa-se, então, a um segundo momento. Qual seja, a de se proceder uma rigorosa investigação, laboratorial e clínica, para se saber o que doente tem, se essa doença é grave, sua extensão, seu curso e, por fim, seu tratamento.

Pare e pense. Esse pais, lindo e maravilhoso que vivemos, está de fato andando bem com suas pernas? Está cumprindo seus compromissos, internos ou externos, adequadamente, como seria o de esperar, no cumprimento de seus deveres?

As pessoas que aqui vivem, estão de fato tranquilas, seguras, equilibradas em suas finanças, tendo esperanças em seu futuro, de poder crescer, se desenvolver plenamente, como deveríamos esperar de um povo que vive em um pais equilibrado?

A população, está podendo honrar plenamente seus compromissos, a partir de seu trabalho, de seu salário? A indústria, matriz energética da economia, os serviços, estão crescendo rumo ao progresso? Não, claro que não. Nosso país está enfermo, está titubiante. E isso não é novo. Quando começamos a escancarar nossos problemas verdadeiros, a revelar o país que vivíamos, a conhecer mais a fundo seus dirigentes, seus mandatários, conhecer mais de perto os ditos sistemas democráticos que nos regem, passou–se a ver melhor suas bases onde o país se ancora.

Passou-se a conhecer melhor a classe política, como eles se organizam, o país não aguentou. Passou a demonstrar profundos sinais de fragilidade, de insegurança e a buscar os meios para se safar disso. Percebemos, a quem de fato estávamos entregues. Esses sinais de fragilidade não são novos, a doença vinha evoluindo muito. O Brasil, já vinha apresentando sinais da doença há anos, estava em condições crônicas, nos levando a supor que teremos que ter calma, paciência e competência para tirá-lo do UTI.

Como em outras situações, esse brasil doente, exige uma equipe técnica de
peso para salva-lo. Exige profissionais experientes, para dá um remédio certo na hora certa. Dá um remédio, se não for o mais indicado, pode matar o paciente. Remédio, por exemplo, fora da validade é o menos indicado, em qualquer situação, pois pode piorar muito a situação do enfermo.

Foi o que ocorreu na Câmara dos Deputados, na semana passada. Deputados neófitos, imaturos e arrogantes, com um discurso bonito, enfático, apelativo e propalando justiça e igualdade, na sua maioria, tentaram passar as pernas no que há de mais sagrada em nosso momento histórico, que é a esperança. Esperança de salvarmos o Brasil. Esperança de vermos esse pais, sem os vermos políticos, que legislam em causa própria. Vermos, esse país, livre de políticos, que mentem, vilipendiam, roubam e riem da ética, da moralidade e do povo desse país. Esperança, de salvar nosso país da morte iminente.

Esses deputados, insensíveis, indiferentes e inescrupulosos, em um momento difícil porque passa a nação, completamente inadequados, cheio de vícios e maneirismos, faz passar na calada da noite, um Projeto de Lei que, entre outras coisas, que retalia os artificies da Operação Lava-a-Jato: Ministério Público Federal, Justiça Federal, Polícia Federal e muitos outros órgãos dignos e importantíssimos em todo esse processo de saneamento ético, promovido por essa Operação. Eles, de forma oportunisticamente e sem vergonha na cara, propõe medidas ou recomendações esdrúxulas e inconsequentes à guisa de igualdade de direitos.

Não irei discutir o mérito das propostas, desses deputados, porque as considero absolutamente inoportunas e extemporâneas, em seus propósitos. Muito menos a de inferir quais seriam suas reais intenções, em fazê-las, em um momento politicamente tão frágil e com sua democracia titubeante.

Entendo, que a condição porque passa nosso pais, é grave. Muitas de nossas referências éticas, políticas e sociais estão indo por terra-a-baixo. Outras, sendo substituídas por propostas voláteis, inconsequente e incongruentes. Essa gravidade, irá fazer com que todos nós, brasileiros, independentemente de cor, credo, partido político, crença ou religião, colabore para salvar nosso país.
Possa prosseguir com a terapêutica, que é a de estancar a sangria, verificada em uma artéria fundamental que manterá a vida desse paciente, sem a qual não viveremos, que é o combate da ladroagem, a propinagem, a corrupção, o desmando na gestão pública, a incompetência desvairada, que impera entre os gestores públicos, os conchavos políticos espúrios e nojentos e a negligencia na promoção da moralidade e da justiça.

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