REALIDADE

Mulheres relatam casos de violência em comentários do clipe de Clarice Falcão

”Para ser mulher nesse mundo tem que ter coragem”, escreve internauta que teve amiga assassinada pelo marido um dia antes de Clarice lançar ‘Survivor’

Além de tornar-se um dos assuntos mais comentados no Twitter em todo o mundo e ultrapassar a marca de 250 mil visualizações em menos de 8 horas, o novo vídeo de Clarice Falcão abriu espaço para o desabafo de mulheres que já foram — ou são — vítimas de violência.
O cover de Survivor, do trio norte-americano Destiny’s child, concentra-se na letra que trata, em inglês, da força feminina diante de um relacionamento abusivo. O clipe apresenta mulheres de diversas idades e aparências, em atitudes de libertação. Algumas chegam a chorar no vídeo, assim como ocorreu com parte das que assistiram o produto final e registraram suas histórias nos comentários do Youtube.
Letra consagrada na voz de Beyoncé trata da mulher como ”sobrevivente” após relação abusiva; no vídeo, Clarice e suas convidadas usam batom para simbolizar a libertação
Letra consagrada na voz de Beyoncé trata da mulher como ”sobrevivente” após relação abusiva; no vídeo, Clarice e suas convidadas usam batom para simbolizar a libertação
“Esse clipe não poderia sair em hora melhor. Ontem eu perdi uma amiga porque o marido a matou, porque ele estava traindo ela, que descobriu e pediu divórcio. Ele levou os dois filhos na vizinha, um menino de 3 anos e uma menina de 10 meses, deu 2 tiros na mulher e depois se matou. Para ser mulher nesse mundo tem que ter coragem”, escreveu uma usuária da plataforma de vídeos.
O comentário recebeu dezenas de respostas que, em diferentes graus, trazem à tona histórias que corroboram os índices sustentados por políticas públicas. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que, entre 2009 e 2012, 16,9 mil mulheres foram mortas no Brasil em crimes unicamente relacionados ao gênero — uma taxa de 5,82 homicídios para cada 100 mil mulheres.
“Tenho uma amiga cujo ex-namorado deu 5 tiros nela e depois se matou. Por sorte, ele morreu e ela não(…). Mas o incrível é perceber como esse tipo de tragédia é comum”, observou outra mulher nos comentários do vídeo de Clarice. Segundo o Datasus, órgão de pesquisa ligado ao Ministério da Saúde, 7 em cada 10 assassinatos de mulheres em 2012 foram praticados por maridos.
“Lembro desde sempre da minha mãe apanhando do meu pai e hoje sou eu quem apanho. Ele diz: ‘você pode ir lá fazer BO, mas o juiz não vai te dar uma casa'”, desabafou outra internauta. A crença na impunidade é comum entre agressores, apesar da existência de uma lei que pune especificamente os autores de violência em relações domésticas. Entre 2006 e 2011, 26.416 prisões em flagrante e outras 4.146 preventivas foram efetuadas no país pela aplicação da Lei Maria da Penha, informa o Conselho.
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