RESISTÊNCIA ARTÍSTICA

Projeto Alter-Cidades inicia atividades em São Luís

Entre andanças, observações, encontros e desencontros, a artista baiana conduz, em São Luís, o projeto Alter-Cidades, com residência artística e mostras da experiência criativa

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O Centro Histórico de São Luís como base de investigação. Uma pesquisa sobre o cerne da cidade. Trabalhar a cidade, o corpo, a dança e suas expressões. O projeto Alter-Cidades, da baiana Clara Domingas, será finalizado neste sábado, 11, e foi iniciado no dia 20 de junho, especialmente em andanças pelas ruas Oscar Galvão/Jansen Miller e o Convento das Mercês, com foco especial nas Rua da Palma, Rua do Giz, Rua da Saúde e Rua da Estrela. Concebido para qualquer cidade do mundo, o projeto de Clara Domingas, formada em dança, é uma proposição que corresponde a um modo de fazer/operar artístico, indissociado das experiências do corpo, e ampliado à coletividade.

São Luís é a primeira cidade de realização do projeto. Na primeira semana, a pesquisa aconteceu de maneira individual, realizada pela artista. Expedições etnográficas de ficção em espaços públicos e privados do centro histórico da cidade. Caminhadas e perambulações, observações e coleta de dados a partir dos encontros e situações que foram surgindo. Um corpo-captura em movimento.
“Começar por São Luís não foi exatamente uma questão de escolha, mas de destino. Na Bahia, até agora não foram publicados editais de financiamento a projetos artísticos, tampouco existem perspectivas de que sejam até o final deste ano. Ou seja, um ano praticamente morto com relação as políticas públicas de incentivo à produção artística na Bahia. Apesar do cenário desanimador, conheci a Lígia Benigno, uma produtora maranhense que vive em Salvador. A Lígia foi quem fez a ponte: me apresentou a Maristela Sena e ao Erivelto Viana, que viraram parceiros da realização em São Luís. A Maristela viabilizou a viagem, fez a produção. E o Erivelto, que conduz o projeto Conexão/Espaço/Habitação viabilizou a residência artística Open Space 6 na Guest House, onde pude desenvolver minha proposta junto a um grupo de 9 residentes/participantes”, explica Domingas.
De São Luís, os nove artistas tiveram uma semana de atividades intensivas, na segunda etapa do projeto. Áurea Maranhão, Diones Caldas, Yuri Azevedo, Layo Bulhão, Ruan Paz, Nathália Ferro, Raimundo Araújo, Daniel Barbosa, Geane Viana participaram de práticas corporais para alterar dos estados de cada um e expansão da percepção física. “Em seguida, trabalhamos na elaboração do nosso inventário de narrativas e imagens – material emergido dos percursos urbanos, acidentes, encontros, recorrências e acasos ocorridos naqueles dias. Todo o processo foi nutrido de referências teóricas, artísticas, conversas e discussões. Desenvolver a possibilidade de responder criativamente aos acontecimentos da vida, metamorfosear-se, fabular histórias e relatos do cotidiano.”, comenta Domingas.
Nesta semana, que se encerra o projeto, realiza-se o terceiro eixo de investigação: o procedimento de montagem com um mural nas paredes internas da Guest House, no local de entrada/saída. Um mapeamento afetivo das experiências vividas por cada um. Um mapa que possa constituir um espaço de livre invenção.
Para isso os residentes foram encorajados a seguir com a experiência criativa e produzir arquivos de diversas naturezas para o mural: desenho, pintura, foto, estêncil, vídeo, áudio, objeto, relato oral ou escrito, gesto etc.
O que está no cerne desta proposição, segundo Domingas, acompanha a história das cidades do período colonial aos dias atuais: a lida com o outro. Em busca de relações, encontros com nosso patrimônio imaterial, novas maneiras de pensar e ocupar espaços urbanos sem intenção de apropriar-se do terreno, mas sim de abri-lo a um “uso comum”.
Clara Domingas é formada em Ballet Clássico (Royal Academy of Dancing – Salvador, 1987-2001). Sua formação em Dança e Educação Somática reconfigurou-se através de experiências de viagem e moradia em outras cidades do mundo (Nova Iorque, Buenos Aires e Ensenada/Tijuana). A partir de 2007 inicia uma série de iniciativas autorais em Artes Visuais – desenho, pintura, estêncil, graffite, vídeo, fotografia, animação e o que mais surgir – Uma investigação aberta que articula potenciais da performance, filosofia, antropologia e urbanismo. Atualmente vive e trabalha en Itapuã, seu bairro de infância na cidade de Salvador, onde desenvolve a ocupação Nativa Relativa.
Ficha Técnica
Projeto Alter-Cidades
Concepção e projeto: Clara Domingas (Salvador, BA)
Realização: Conexão/Espaço/Habitação – Erivelto Viana
Residentes: Áurea Maranhão, Diones Caldas, Yuri Azevedo, Layo Bulhão, Ruan Paz, Nathália Ferro, Raimundo Araújo, Daniel Barbosa, Geane Viana
Produção: Maristela Sena

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CINCO PERGUNTAS//CLARA DOMINGAS

Que sensações peculiares teve ao percorrer os espaços visitados?
“As questões que surgiram de maneira natural no processo de Alter-Cidades em São Luís estão conectadas com o universo erótico do Centro Histórico, o potencial afetivo do passado do bairro, a conhecida ZBM (Zona do Baixo Meretrício) que corresponde aos lugares onde o projeto aconteceu e está acontecendo. O encontro com Maria de Jesus é um exemplo disso. Ela chegou no bairro aos 12 anos e tem toda uma história de vida conectada a esse lugar. Maria de Jesus, a Dijé, trabalha com prostituição há décadas e demonstra uma enorme consciência política. Foi uma das pessoas que mais me ensinaram nos últimos dias aqui. E para chegar até ela, foi necessário toda uma rede de encontros interligados, que expõe a complexidade de nossas realidades urbanas.
São justamente essas redes, narrativas e articulações que buscamos recriar coletivamente em forma de mural na Guest House”.
Como organizar, expor, dispor e compor nossas imagens e imaginações?
“Isso é exatamente o que estamos explorando/descobrindo/inventando durante essa semana. A montagem é processual e não pretende fechar-se em um fim. Na sexta, estaremos trabalhando até o momento de ir embora, a montagem é uma performance”.
Esse projeto vai para outra cidade?
O projeto pode ser realizado em qualquer cidade do mundo, mas faz-se necessário montar, a cada vez, a estrutura de realização de maneira específica pra cada lugar. Por isso preciso construir redes e parcerias para além da Bahia – é um lindo desafio e elemento propulsor de criação.
E sobre o que tem feito aqui? Está dentro do que você imaginou?
“Minha imaginação sobre o projeto estava muito aberta, não sabia o que esperar e vieram muitas riquezas. Essa é a grande beleza desses processos artísticos, o que é feito/produzido/realizado, depende do encontro com o lugar”.
O que haverá no encerramento do projeto?
“Teremos a mostra do mural coletivo incluindo imagens em diversas mídias e a ação de montagem acontecendo ainda, sendo realizada por mim e pelos 9 residentes”.
SERVIÇO
O quê? Encerramento Projeto Alter-Cidades
Quando? Sexta-feira (10), às 20h
Onde? Guest House (Rua da Palma, Centro)
Quanto? Não informado
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