PESQUISA

Estudos questionam se o cérebro realmente entra em declínio com o tempo

Pesquisas sugerem que algumas habilidades, como o aprendizado de novas palavras e o reconhecimento de faces, atingem o ápice na terceira idade

Eles trocam os nomes dos filhos e estão sempre esquecendo onde colocaram as chaves. Às vezes, confundem as datas e, não raramente, têm de recorrer aos netos para ajudá-los com o controle remoto. Por causa desses comportamentos tão comuns entre os idosos, sempre se acreditou que, com o tempo, o cérebro vai perdendo a força. Como o corpo, que enfraquece com o passar dos anos, a mente também entraria em declínio a partir da meia idade. Ainda hoje, é a visão que prevalece entre leigos e médicos. Mas alguns cientistas começam a desafiar essa lógica.
Nas últimas décadas, as pesquisas melhoraram muito o conhecimento que se tem sobre o cérebro, ainda tão misterioso. Há até muito pouco tempo, por exemplo, acreditava-se que não existia reposição de neurônios. Agora, já se sabe que, até o fim da vida, novas células cerebrais são produzidas, mesmo que em menor quantidade. Outro conceito importante que vem mudando a neurociência é o da plasticidade, ou seja, a capacidade do órgão de se reorganizar, compensando funções comprometidas.
Essas descobertas começaram a pôr em dúvida diversas crenças. Um dos cientistas que questionam o lugar-comum do envelhecimento da mente é Joshua Hartshorne, pós-doutorando do prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. Com a colega Laura Germine, da Universidade de Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, o neurocientista resolveu investigar se o declínio cognitivo vem, necessariamente, com a idade avançada. O resultado, publicado na revista Psychologycal Science, foi surpreendente.
O desempenho de 50 mil pessoas de 10 a 89 anos em uma bateria de testes cognitivos on-line levou Hartshorne e Germine à conclusão de que, enquanto algumas funções diminuem com a idade, outras melhoram — e muito. Determinadas habilidades vão atingir o pico somente entre os 60 e os 70 anos. Para os neurocientistas, essa é mais uma evidência de que a dicotomia velho/novo está ultrapassada e precisa ser adaptada aos conhecimentos atuais sobre o funcionamento do cérebro. “Os efeitos do envelhecimento sobre a cognição têm muito mais nuances do que sugere a simples divisão entre inteligência cristalizada e inteligência fluida”, afirma Hartshorne.
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