POLÍTICA

Os interesses dos EUA na base de Alcântara: “baratear lançamentos na selva brasileira”

Imprensa internacional repercutiu a situação do CLA sob à ótica dos interesses norte-americanos

“A chave para baratear os lançamentos de foguetes americanos talvez esteja na selva brasileira”: assim a imprensa internacional repercute a situação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, que há mais de 20 anos tem sido visto como uma vantajosa fatia de bolo do mercado espacial por sua localização privilegiada, a dois graus da Linha do Equador – o que geraria uma economia de até 20% de combustível, se comparado a lançamentos feitos na Florida (EUA).

Para o site americano especializado em negócios CNBC, o Base de Alcântara tem sido sub-utilizado desde agosto de 2003, quando um foguete explodiu, vitimando 21 pessoas. Quando era ministro da defesa, ainda em 2018, Raul Julgmann disse a sites estrangeiros que o Brasil “levaria anos para colocar o serviço em ordem”, e que a expectativa era de que apenas em 2020 Alcântara estivesse apto para lançar novos foguetes.

No entanto, segundo informado na última sexta-feira (15), pelo Major-brigadeiro do Ar Luiz Fernando Aguiar, o local já está pronto para fazer novos acordos comerciais e lançar veículos de maior porte. Atualmente, apenas foguetes de treinamento estão sendo lançados.

Foto: Juliana Ribeiro / O Imparcial

Em fevereiro deste ano, Raul Jungmann informou à agência internacional Reuters que empresas como Boeing, Lockhead Martin, e outras norte-americanas de menor porte como a Vector Space Systems expressaram interesse em lançar foguetes em Alcântara, e chegaram a visitar o Centro de Lançamento em dezembro de 2017.

Em março, a agência voltou a explorar o assunto, revelando que representantes dos governos brasileiro e norte-americano fizeram uma conferência oficial para tratar das negociações relacionadas ao CLA.

De acordo com o jornal The New York Times, um porta-voz de Trump disse que o governo estadunidense “está encorajado pelo fato de que representantes brasileiros estejam expressando interesse em trabalhar mais próximo aos EUA no setor espacial”. O diário estadunidense também indicou que o Acordo de Salvaguarda Tecnológica previamente proposto “enfrentou resistência do governo esquerdista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi frustrado pelo legislativo brasileiro“. E segundo a agência de notícias Reuters, “é esperado que o novo acordo passe facilmente em um Congresso mais conservador“.

À The Rio Times, o atual ministro da Defesa Joaquim Silva e Luna defendeu como legítimas as preocupações dos norte-americanos em guardar seus segredos de negócio. “Se você não tem um acordo que garanta a propriedade intelectual dos foguetes e satélites que serão lançados, nada poderia ser lançado, porque a maioria deles carrega tecnologia americana”, disse, adicionando que “Brasil e EUA discutem como exercer essa defesa sem violar a soberania nacional“.

Soberania

Em agosto deste ano, Silva e Luna se reuniu com o secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, e na ocasião informou à Agência Brasil que “os americanos estão mexendo na proposta para viabilizar um acordo ainda este ano”, e que o secretário norte-americano “se comprometeu, no mais curto prazo, a ajustar os detalhes para que o acordo fique conforme nossos interesses”. Alguns dos pontos questionados pelo Congresso brasileiro na época em que o tratado foi negado, foram os fatos de que as cargas americanas não poderiam ser inspecionadas, e que os EUA teriam aval para impedir que outros países utilizassem os serviços do CLA.

O presidente da Comissão de Coordenação de Implantação de Sistemas Espaciais, Major-Brigadeiro do Ar Luiz Fernando Aguiar, disse que o Acordo de Salvaguarda Tecnológica não prejudica a soberania do país. “A proposta de comercialização do Centro prevê que nós disponibilizaremos a infraestrutura para empresas civis de países diversos, inclusive das nossas empresas, possam utilizar a nossa infraestrutura, e terminado o acordo retornar. Não é uma cessão permanente de uso para país A ou B, não perdemos soberania, mas vamos alavancar o Centro para que ele traga retorno financeiro para o país”, informou. Ainda de acordo com o oficial, a expectativa mínima é que o CLA gere R$ 140 milhões por ano apenas com taxas de lançamento.

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