HOMENAGEM

O Gênio Irreverente do Carnaval Brasileiro

Carnavalesco Joãosinho Trinta se estivesse vivo completaria nesta quarta 93 anos de vida. Gênio maranhense morreu na Ilha sem ver seu último projeto ser realizado e caído no esquecimento.

O carnavalesco Joãosinho Trinta, se estivesse vivo, completaria 93 anos. (Foto: Divulgação)

Conhecido pela sua irreverência e criatividade o carnavalesco Joãosinho Trinta, é lembrado até os dias de hoje como um dos mais brilhantes brasileiros do século XX. Com maestria, o artista maranhense transformou o Carnaval do Rio de Janeiro e do Brasil. E se estivesse vivo, nesta quarta-feira (23) completaria 93 anos de uma vida marcada por sua genialidade, que fez dele uma figura impar na cultura do país.

O eterno gênio do Carnaval, marcou sua trajetória com frases que refletiam sua irreverência e visão única sobre a festa mais grandiosa do Brasil. “Fui concebido em fevereiro. Sou fruto do carnaval”, afirmava Joãosinho, ressaltando sua ligação intrínseca com a festa que o consagraria como um dos maiores carnavalescos brasileiros.

Para Joãosinho, o desfile das escolas era mais do que um espetáculo, era uma “ópera de rua”. Sua visão transcendia o mero entretenimento, elevando o Carnaval a um patamar artístico digno das maiores produções teatrais. “O dinheiro é a desgraça da humanidade, o dinheiro escreve os maiores dramas”, proclamava, evidenciando sua crítica à sociedade materialista e seu reconhecimento da influência do dinheiro nos acontecimentos dramáticos da vida.

“Ninguém tem o direito de dizer não ao absurdo”, declarava Joãosinho, revelando sua disposição em desafiar convenções e ousar em suas criações. Sua coragem em explorar o inusitado se tornou uma marca registrada de sua carreira.

Entre sucessos e polêmicas

Já com uma trajetória marcada por sucessos e polêmicas, um dos casos mais icônicos foi “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, enredo criado por Joãosinho Trinta e apresentado pela Beija-Flor no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro de 1989. A escola ficou em segundo lugar na apuração, perdendo para a Imperatriz Leopoldinense (que desfilou com Liberdade, Liberdade), porém marcou a Passarela do Samba com um dos desfiles mais impactantes da história do carnaval carioca. Sua mensagem ressoava na avenida, provocando uma reflexão sobre a realidade brasileira e celebrando a criatividade em meio à adversidade.

O carro abre-alas traria uma reprodução do Cristo Redentor vestido como um mendigo. Às vésperas do carnaval, porém, a Arquidiocese do Rio de Janeiro conseguiu uma ordem judicial proibindo a apresentação da alegoria. Joãosinho Trinta não se deu por vencido: cobriu a alegoria com um plástico preto e acrescentou uma faixa com a frase: “Mesmo proibido, olhai por nós”. Com essa atitude Joãosinho, desafiava restrições e buscava transcender limites impostos. Sua ousadia se manifestava mesmo diante das proibições, tornando-se um símbolo de resistência artística.

Imagens do desfile de 1989. (Foto: Reprodução)

Outro momento marcante do carnavalesco aconteceu no desfile da Grande Rio, em 2004 com o enredo “Vamos Vestir a Camisinha, Meu Amor”. O desfile tentava aliar a seriedade do tema, a epidemia da Aids, com a euforia do Carnaval. “Não preciso apelar para a pornografia”, dizia Joãosinho, respondendo à proibição do carro alegórico do Kama Sutra. Sua perspicácia e senso de humor evidenciavam sua habilidade em enfrentar adversidades com inteligência e criatividade.

Os exemplos citados, são alguns dos enredos criados por Joãosinho, que questionavam as tradições e incentivavam a adaptação às transformações sociais. Sua visão progressista, ele sempre buscava romper com amarras do passado, abrindo caminho para novas expressões culturais. Com sua irreverência e ousadia Joãosinho Trinta, deixou um legado que transcende o Carnaval, influenciando gerações e desafiando os padrões estabelecidos, moldando a história do maior espetáculo a céu aberto do mundo.

O sonho carnavalesco não realizado

Nascido em São Luís, Joãosinho Trinta partiu antes de ver seu último projeto, “Cortejo e Celebração”, ganhar vida na Passarela do Samba. O espetáculo, concebido em homenagem aos 400 anos de fundação da cidade de São Luís, foi uma iniciativa da então governadora Roseana Sarney.

O grandioso desfile, que estava marcado para o dia 8 de setembro de 2012, prometia ser uma viagem pela rica história da Ilha do Amor. Desde a chegada dos franceses até os tempos contemporâneos, Joãosinho Trinta imaginou um espetáculo com cerca de 5 mil componentes, apresentando as influências culturais francesas, portuguesas, holandesas e africanas que moldaram o Maranhão. Os croquis das fantasias e alegorias foram revelados à imprensa, mas o falecimento do carnavalesco mergulhou o projeto no esquecimento.

O “Cortejo e Celebração” estava destinado a ser um espetáculo grandioso, com grandes carros alegóricos, uma orquestra sinfônica, uma imponente bateria de 250 ritmistas, além de participação de escolas de samba, passistas, blocos tradicionais e tribos de índios. O evento encerraria com uma espetacular queima de fogos de artifício, visando apresentar o Maranhão ao mundo de maneira esplêndida.

Joãosinho Trinta revelou na época que o desfile aconteceria na Avenida Litorânea, com arquibancadas, camarotes e uma decoração à altura do evento, contando com o apoio do Governo do Estado e o patrocínio de grandes empresas. A intenção era atrair não apenas o público local, mas também personalidades e autoridades nacionais e internacionais, incluindo figuras da França, Portugal e África. A possibilidade de transmitir o evento por uma emissora de televisão também estava nos planos do carnavalesco.

Após anos residindo em Brasília e no Rio de Janeiro, Joãosinho Trinta retornou ao Maranhão, em 2011 para integrar uma equipe de consultoria encarregada de planejar as festividades de comemoração dos 400 anos de São Luís. Infelizmente, o carnavalesco faleceu aos 78 anos antes de ver seu último projeto ganhar vida. Sua morte ocorreu em 17 de dezembro de 2011, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital UDI, em São Luís, em razão de um choque séptico, infecção generalizada, e apresentava quadro de pneumonia e infecção urinária. A cidade perdeu não apenas um artista, mas um visionário que sonhava em celebrar a cultura maranhense e brasileira de maneira única e inesquecível.

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