ENTREVISTA

Paulinho Moska traz novo show para São Luís

O artista conversou com O Imparcial sobre seu trabalho atual, as turnês e suas parcerias musicais.

O artista se apresenta neste sábado (15), no Circuito do Lençóis Jazz e Blues Festival. (Foto: Reprodução/Internet)

O cantor e compositor Paulinho Moska é um dos melhores artistas de sua geração e representante muito bem o que é a produção criadora de seu tempo. Ele já comemora seus trinta anos de carreira na musica, mas acumula projetos que passam pelo cinema, fotografia e teatro.

São atuações em filmes e peças, ensaios fotográficos, e, somado a tudo isso, seus dez discos. O cantor se apresenta neste sábado (15), em São Luís, durante Lençóis Jazz Blues Festival, com a turnê “Os Violões Fênix do Museu Nacional”. O artista conversou com O Imparcial sobre seu trabalho atual, as turnês e suas parcerias musicais.

O Imparcial: Você está com vários projetos musicais nesse momento, mas queria saber como anda a turnê “Um par ímpar”, com Zélia Duncan?

A turnê com a Zélia Duncan era pra ter começado antes da pandemia. Estávamos com tudo preparado já, o cenário, figurino, ensaiando, e fomos todos surpreendidos pela pandemia e adiamos a turnê, e voltamos agora em maio desse ano. Então é uma grande alegria está no palco com a Zélia. O repertório é formado por parcerias nossas. Temos umas doze canções e quase todas estão no repertório, além de músicas dela que eu amo e de músicas minhas que ela gosta.

Então fizemos um repertório bem legal que cobre um pouco da carreira dos dois e nossos encontros, é Zélia é uma amiga de muito tempo, desde nossos primeiros discos, desde quando lancei meus primeiros discos; somos muito amigos e parceiros, e além da música dividimos as coisas da vida, conversamos coisas muito profundas.

Zélia é uma rainha da minha geração, eu a admiro profundamente, não só artisticamente, mas tem a coisa criativa dela, como escritora de poema, de letra de música, de livro, mas também o ser humano que ela é, as posições sociopolíticas dela e o quanto ela defende as minorias; enfim, a Zélia é um espelho.

Para São Luís será a turnê “Os Violões Fênix do Museu Nacional”, que tem uma história curiosa sobre a fabricação dos violões. De onde veio essa ideia?

Vou usar dois violões construídos com madeiras de rescaldo do incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, incêndio de 2018, que destruiu todo o acervo e milhares de itens. Então o prédio foi quase todo destruído só sobrando chão e parede, mas ele está sendo construído.

O caso curioso dos violões é por que um dos bombeiros, chamado Davi Lopes, que estava lá apagando o fogo, tem como atividade paralela a construção de violões, ele é Luthier. E eu já o conhecia antes do incêndio, já tinha um violão construído por ele, porque ele já tinha esse costume de pegar madeiras de incêndios que ele apagava.

Então quando apagou o incêndio do Museu Nacional ele teve a mesma ideia. Mas não foi tão fácil, a gente teve que forma um grupo de pessoas para conseguir todas as autorizações burocráticas do IPHAN e da própria direção do museu, para a gente convencer que aquela madeira pertence ao povo, pertence ao Brasil. Então era preciso que elas tivessem autorização para o sonho desse bombeiro que queria fazer violões para leiloar, e, com esse dinheiro, ajudar na reconstrução do museu.

Então diante dessa história linda e sedutora, nós reunimos um grupo que intitulamos Fênix, porque justamente dessas cinzas a gente teria que produzir uma nova beleza, uma nova vida para essa madeira.

E o Davi já conseguiu produzir seis instrumentos: são dois violões, um de cordas de aço, e outro de nylon, uma viola caipira, que está com Almir Sater, um violino que está com o Felipe Prazeres, um cavaquinho que está com a sambista Nilze Carvalho, um bandolim com o genial Hamilton de Holanda.

Eu sou padrinho dos dois violões e todos os padrinhos têm o dever de contar essa história porque ela é uma grande metáfora da nossa vida e da capacidade que temos de trabalhar na nossa vida para renovar depois de algumas tragédias na vida, porque a vida não é só felicidade e beleza, então temos que aprende que tudo é novo de novo mesmo se agente fizer o movimento de reconstrução e é disso que se trata a ideia de dos violões, é explanar a ideia de que tudo se transforma e que a vida segue apresar das dores.

“Os Violões Fênix do Museu Nacional”

Durante sua carreira, você trabalhou com outras mídias, como TV, teatro e cinema. O artista, hoje, precisa dessa diversidade? E como esse mult ajudou na sua música?

Acho que atividade artística depende de cada um. Acho que a gente escolhe uma coisa só, música, teatro, cinema, e é muito lindo quando alguém se dedica a uma coisa só. Eu sou caçula de quatro irmãos com pais que foram casados até falecerem, então nasci assim num mundo muito diverso, porque cada irmão gostava de uma coisa, tinha uma atividade diferente, e ninguém era arista, mas minha casa era muito diversa.

Eu fui colecionador na infância, colecionava tudo, adorava a diversidade, a diferença entre os objetos que eu colecionava, catalogava tudo, era organizado, e fui me interessando para essa coisa circense, sabe, de que você vai ao circo e tem o domador de leão que também faz papel de palhaço e que também vende bala.

Então esse espírito coletivo da equipe sempre me atraiu, de estar com outras pessoas, por isso fui me interessando também por várias outras atividades, como fotografia, e me formei em teatro, trabalhei com televisão, cinema, então acho que isso é uma forma de continuar colecionando como a minha criança fez, então essa minha vontade de ter muitas atividades é por que cada uma delas melhora a outra, fotografar me ajuda a escrever, escrever me ajuda e interpretar, interpretar me ajuda a tocar melhor meu violão, e, quanto melhor eu toco meu violão, melhor minha música, e tudo vai se somando, mas não acho que todos os artistas têm que ser assim, mas para mim arte é sinônimo de liberdade e então eu me sinto livre para fazer até aquilo que eu não me considero profissional. 

Desde Inimigos do Rei, passando pelo seu disco “Vontade”, de 1993, são mais de 30 anos de carreira, certo? Esse é o melhor momento do seu trabalho, em relação a amadurecimento, ou podemos esperar muito mais ainda?

São trinta nos de carreira. O disco “Vontade” é de 1993 e são já dez discos durante esse tempo. Mas, assim, a gente sempre quer mais, e eu quero mais, quero acreditar que existe mais de tudo: mais discos, mais fotografia, mais televisão, mais ciência, mais livros; acho que enquanto a gente tá vivo a gente tem que melhorar, tem que viver e eu acho que viver é melhorar e cada pessoa melhora conforme sua capacidade, e sua curiosidade, e sua vontade de superar a si mesmo, e há tantas maneiras de melhorar; eu gosto de todas elas e procuro nessas atividades que faço aprender, e acho que a melhor coisa da vida é a gente continuar aprendendo e entender que aprendendo agente melhora e pode produzir mais.

Você mantém um repertório bastante eclético, que vão da MPB ao rock e às baladas, mas o que mudou na concepção do último disco em relação aos anteriores?

Eu acho que tudo muda o tempo inteiro e cada dia é diferente do outro, cada instante é diferente do outro, então quando você vai produzir uma obra você já é outro, já não é o mesmo da obra anterior, naturalmente. As mudanças vêm do seu entendimento, da sua obra e de si mesmo, e do mundo à sua volta e daquilo que você quer dizer naquele momento, e tudo isso entra em jogo quando você está produzindo alguma coisa nova.

É um espírito de renovação de fazer alguma coisa diferente. Eu não gosto da sensação de estar me repetindo; eu gosto sempre do desafio, da ideia de que você não está preparado para aquilo, e é fazendo que você aprende. Não dá pra dizer o que muda, só sei que muda; você vai ficando cada vez mais exigente, o funil vai apertando, você vai cobrando que aquilo seja melhor, mas é sempre o prazer e a alegria, que são o rei e a rainha dos projetos; eu tenho que sentir muito prazer e muita alegria quando estou fazendo um projeto, mesmo que seja uma música triste, por exemplo, eu a componho com muita alegria, essa é a base de tudo.

E como foram as parceiras nas composições, nos arranjos e a volta da produção com o Liminha?

A produção do Liminha é maravilhosa, ele é um mestre com muita experiência e muitas vitórias, então se aprende muito com a agilidade e afetividade e com as ideias dele, sempre muito assertivas. O disco “Beleza e Medo” foi meu segundo disco produzido por ele. O primeiro foi “Loucura Total”. Então ali a gente se conheceu. Então convidei o Liminha e foi uma gravação maravilhosa, com músicos maravilhosos.

Eu queria fazer um disco com uma pegada mais Pop Rock, porque o ano de 2018 já estava sendo um ano difícil, já prenunciava o que a gente ia passar nesses quatro anos que estão acabando; então este é um disco gritado, eu acho que é um disco de afirmação da vontade de continuar lutando e da negação ao que estava por vir.

O disco não se chama ‘beleza e medo’ à toa, ele reflete a vontade de produzir beleza, mesmo sentido medo, e assume também que a gente sente medo até quando produz beleza e que esses dois atributos da natureza são complementares, porque se não existisse beleza no mundo a gente não ia ter medo de perdê-la, e, se agente não sentisse medo de nada, talvez a gente não sentisse nenhuma inspiração para produzir beleza.

Em São Luís será um show com banda? Quais músicas que podemos esperar no repertório?

O show será com os violões, porque não tem como fazer show elétrico com eles. Será a turnê “Os Violões Fênix do Museu Nacional”. É um show muito delicado e não tem banda tocando porque fica tudo muito alto para os violões.

Eles são instrumentos delicados, com captação delicada, e ainda mais ao vivo, ao ar livre, é muito complicado trabalhar com som acústico, porque tem vento, e sentar no teatro, dentro daquela caixa também, mas agente acha que vai dar muito certo.

E é lindo, tocar neles é sempre uma emoção muito grande e o público fica sempre impactado com a história e com a oportunidade de escutar o som diferente dessas madeiras que estão na terceira vida né, porque foram árvores, de pelo menos cem anos, e depois fizeram parte do museu durante uns duzentos anos, e, agora, têm uma terceira vida, como instrumento, para divulgara ideia metafórica de renovação. Nesse show eu não levo banda, mas viro coadjuvante dessas duas estrelas especiais e principais que são os violões feitos pelo mestre David Lopes.

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