TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Participação latina cresce no mercado de séries da TV paga

América Latina se destaca em tramas relacionadas ao narcotráfico. Neste ano, Pablo Escobar será tema de duas produções

ddd

Morto há 22 anos, Pablo Escobar, o colombiano que inventou o narcotráfico e criou o temido Cartel de Medellín, não vai sair da televisão neste ano.

Em 28 de agosto, a Netflix estreia a série Narcos, produção internacional em 10 episódios criada pelo brasileiro José Padilha (Tropa de elite) e com Wagner Moura no papel do traficante. Espertamente, o canal +Globosat começa a reprisar, uma semana antes, Pablo Escobar: O senhor do tráfico, série colombiana. O original teve mais de 100 capítulos e entrou para a história da TV de seu país em razão de seus recordes de audiência. No Brasil, a produção foi reduzida a pouco mais de 70 capítulos.
Ambas são apenas um exemplo do crescimento de ofertas de produções latinas na TV paga. Sim, os latinos especialistas em novelas também sabem fazer séries.
As ofertas estão crescendo gradativamente. Na última semana, a Fox começou a exibir a produção colombiana Cumbia ninja. Em agosto, a HBO lança O hipnotizador, gravada no Uruguai. E a própria Netflix lança ainda este ano sua primeira série filmada no México, Club de cuervos. Em comum, além do espanhol, as produções têm um elenco de diferentes nacionalidades.
Gerente de programação do Globosat, Ana Carolina Lima afirma que O senhor do tráfico, lançada no Brasil no ano passado, é responsável pela maior audiência do canal. “A repercussão foi impressionante, não apenas na TV como nos serviços de vídeo on demand. É o programa mais visto do canal no NOW e do Globosat Play (com exceção do Telecine)”, afirma.
Ela afirma que há ainda um interesse por séries sobre o universo das drogas, tanto que o Globosat lança, também em agosto, A rainha do tráfico, coprodução da americana Telemundo e da colombiana RTI que conta a história de Teresa Mendoza, mexicana que se torna a mais poderosa traficante do Sul da Espanha.
URUGUAI

ssss

Com uma cartela de séries que conta com produções como a chilena Prófugos e a mexicana Senhor Ávila, a HBO faz sua aposta latina deste ano com O hipnotizador, inspirada numa HQ argentina. Com elenco encabeçado pelo portenho Leonardo Sbaraglia (de Plata quemada), a série traz ainda atores uruguaios, espanhóis, portugueses, além de muitos brasileiros (Chico Diaz e Bianca Comparato entre eles). “A história se passa em uma cidade de fronteira e os personagens interagem em mais de uma língua”, conta Roberto Rios, vice-presidente de produção original da HBO Latin America.
Para ele, mesmo com a expertise da HBO em produção de séries, é muito complicado comparar os mercados latino e norte-americano. “São produzidas mais de 600 séries de TV por ano nos EUA. O talento requerido para se criar esse tipo de produto existe na América Latina e no Brasil, mas a maior parte da força produtiva e criativa no continente está altamente especializada na realização de telenovelas.”
Para Eduardo Zebini, vice-presidente de programação, produção e conteúdo da Fox International Channels Brasil, o que pode interessar o telespectador brasileiro que assiste à série latina é a proximidade com sua realidade. “Tanto os enredos quanto as discussões e localidades são mais próximos do cotidiano, o que agrega muito diante das produções norte-americanas.”
A Fox, que já exibiu no Brasil a colombiana Kdabra, lançou no dia 1º Cumbia ninja, voltada para o público jovem. A série, que em seu país natal já teve duas temporadas, aposta na música. “Ela é um verdadeiro fenômeno nos países da região. O principal atrativo é a música. E os personagens também têm grande similaridade com produtos que já fizeram grande sucesso no Brasil.” O cenário de Cumbia ninja é um bairro pobre que sofre com as brigas de gangue e o tráfico. Uma banda vem tirar os jovens da situação de risco.
E se os vizinhos chegam aqui, nós também vamos para fora. A HBO já exibiu produções brasileiras no exterior. E não só nos países latinos, como também nos Estados Unidos. A segunda temporada de O negócio estreia nos EUA no dia 10. “A série Alice conseguiu se conectar com o espectador do Chile e do México, e fez sucesso até com o público latino dos EUA. Psi ganhou um prêmio de TV paga na Argentina, Preamar e Mandrake e, atualmente, Magnífica 70 tiveram grande repercussão no continente inteiro”, diz Roberto Rios.
TRÊS PERGUNTAS PARA
Wagner Moura, protagonista de Narcos
Além de Narcos, há ainda um filme recente sobre Pablo Escobar (Escobar: Paraíso perdido, de 2014, com Benicio del Toro) e outro em produção (com Javier Bardem no papel do traficante). Por que este interesse pelo personagem justamente agora?
Não sei, mas, no caso da gente, vejo pelo trabalho do Zé Padilha. A série é uma ideia dele, a estrutura dramática do Narcos é muito parecida com a de Tropa de elite: câmera na mão, voz em off e a vontade do Zé Padilha de entender aquela realidade e explicá-la para as pessoas. Mas sempre balanceando o lado épico, um apelo dramático forte e muita ação. No caso de Narcos, é entender a origem do narcotráfico no mundo, o que é até hoje uma questão. É preciso que se diga que a série não é sobre Pablo, mas sobre a origem do narcotráfico. E você não pode falar disso sem falar do Cartel de Medellín.
Narcos é sua primeira série. Como foi o processo de produção e o fato de ter de interpretar em espanhol?
Foi a parte mais difícil, porque não falava espanhol. Fui para Medellín, me matriculei na universidade e estudei enquanto pesquisava sobre Pablo. Fui em abril (de 2014) por minha conta, antes de a Netflix me contratar. Em setembro, começamos a filmar. A sensação foi a de fazer um filme gigante, não tinha a sensação de novela, em que você grava 20 cenas por dia.
Qual é a sua opinião sobre a política de guerra às drogas?
Digo há muito tempo que acho que as drogas deveriam ser legalizadas. Não sou nenhum especialista, mas o que me parece evidente é que a política de confronto às drogas é ineficaz, muito ligada à política norte-americana. No Uruguai, é diferente, mas, em toda a América Latina, segue um pouco a política de confronto, uma guerra contra os narcotraficantes e até contra o próprio consumidor. Acho que a tendência é que isso vá se dilatando, tanto que hoje em dia o consumidor não é tão penalizado quanto há cinco anos. Mas vejo a questão das drogas sempre como um problema de saúde pública e não de segurança.
 
São produzidas mais de 600 séries de TV por ano nos EUA. O talento requerido para se criar esse tipo de produtoexiste na América Latina e no Brasil, mas a maior parte da força produtiva e criativa no continente está altamente especializada na realização de telenovelas
Roberto Rios, vice-presidente de produção original da HBO Latin America
Não sou nenhum especialista, mas o que me parece evidente é que
a política de confronto às drogas é ineficaz, muito ligada à política norte-americana
WAGNER MOURA, ator
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias