Ousadia, seu nome é Gal. A dona de uma das mais belas vozes da música popular brasileira, na adolescência, tinha como referência as cantoras do rádio. Ainda Maria da Graça, em meados da década de 1960, ao dar os primeiros passos na carreira, influenciada por João Gilberto, assumiu-se bossanovista. À época, dividiu o palco do Teatro Vila Velha, em Salvador, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia no show Nós por exemplo — ponto de partida da trajetória de todos eles.
Tempos mais tarde, no Festival da Record, já como Gal Costa transmutou-se em roqueira ao defender Divino maravilhoso, de Caetano e Gil, com quem embarcou na nave do Tropicalismo, da qual tornou-se a musa. Com a partida dos dois para exílio em Londres, imposto pela ditadura militar, passou a ser A porta-voz deles no Brasil, interpretando as canções que compunham naquele período.
A estrela da MPB brilhou intensamente nos anos 1970, quando lançou os LPs Legal, Fatal e Índia, e gravou compositores tão díspares e tão importantes, como Luiz Gonzaga, Roberto Carlos, Lupicínio Rodrigues e Luís Melodia. Fez um disco em que reverenciou o conterrâneo Dorival Caymmi, e reencontrou Caetano, Gil e Bethânia no Doces bárbaros, antológico espetáculo comemorativo dos 10 anos de estrada dos quatro.
Quatro décadas depois, Gal mantém acesa a chama do vanguardismo — que nunca deixou de alumiar sua caminhada em fases anteriores — ao lançar Estrastoférica. Inquieta, nesse álbum a exemplo do antecessor Recanto, propõe ruptura em relação a tudo o que vinha fazendo antes. Trouxe para o novo projeto a contemporaneidade de Alexandre Kassin e Moreno Veloso, responsáveis pela produção.