FRIMES

Drag ludovicense é apontada como “futuro do pop” por cantora britânica

Por trás da montagem, a drag é Rafael Paes, que conversou com O Imparcial sobre como reagiu ao reconhecimento de Charli XCX, sua vida e sua luta

Frimes, drag queen ludovicense, no clipe de sua música "Fadinha". (Foto: Divulgação)

Na última segunda-feira (17), quando a cantora britânica Charli XCX indicou a drag queen ludovicense como um dos “futuros do pop” ao adicionar a música Fadinha à sua playlist no Spotify, Frimes, que cria e edita suas produções na cozinha de sua casa, não conseguiu acreditar. “Pensei que ela tinha confundido e, na verdade, queria ter adicionado a Grimes”, declara a artista, emocionada. “É muito doido pensar que alguém que mora num lugar extremamente periférico conseguiu ter visibilidade internacional”.

A playlist em questão chama-se “The motherfucking future” e põe Frimes ao lado de grandes nomes do pop internacional, como Ariana Grande, Lana Del Rey e Dua Lipa. No tweet em que Charli XCX a divulgou, dizia, traduzido: “com todas as minhas novas músicas favoritas/ artistas que são totalmente à frente e são o futuro do pop”. Ela pode ser ouvida aqui.

Por trás de perucas e maquiagens, Frimes é Rafael Paes, um rapaz de 25 anos que cursava teatro na Universidade Federal. Sempre artístico, fez ginástica olímpica quando criança e foi criado em família de músicos, mas só resolveu se arriscar na área depois do falecimento de seu pai, há 13 anos. Sem nenhuma noção de produção, o aspirante a músico começou a experimentar, por si só.

(Foto: Divulgação)

À medida que se envolvia com seu lado artístico, que juntou a ginástica, suas habilidades com biscuit, passos de dança e encenações no teatro, descobria seu lado drag queen – o ponta-pé final para Rafael se transformar em Frimes foi o reality show RuPaul’s Drag Race, o que acredita ter sido também inspiração para muitos outros rapazes acoados que resolveram assumir o lado performático. “Parece que, toda a minha vida, eu vinha me preparando para isso”.

Drag: uma mistura de arte e política

“Estamos deixando este velho mundo em chamas e construindo algo novo, onde todos podem viver sem medo. A revolução está apenas começando” é parte do discurso proferido por Frimes na abertura de seu clipe, Fadinha, dirigido pelo ludovicense premiado Lucas Sá. Originalmente, entretanto, as palavras de militância não estavam lá. Rafael explica que a ideia desse protesto no vídeo surgiu depois de ele ser retirado do YouTube em sua primeira postagem.

(Foto: Divulgação)

Segundo o músico, drag queens são o que tem gerado dinheiro na indústria da arte ultimamente. “Antes, nós éramos seres noturnos, marginalizados ou éramos vistos como um cara vestido de mulher sendo chacota”, afirma a drag. “Hoje, ligamos a TV e vemos Pablo Vittar no Encontro com Fátima Bernardes”.

No Brasil, ainda assim, a intolerância é algo comum para quem quebra os papéis impostos a cada gênero, principalmente com os estigmas degradantes em torno desses artistas a exemplo disso, o seu clipe ter sido deletado sem razões plausíveis, além das violências físicas movidas à homofobia. Ao lado de queens ludovicenses – Enme Paixão, Butantan, Only Fuego -, Frimes transgride esses papéis em seus shows (ou no simples ato de pôr seus cílios postiços), e declara: “ser drag é um ato político”.

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