O Brasil nas mãos do Centrão
O PMDB, depois de Michel Temer na Presidência, está jogando no lixo toda a sua trajetória democrática, incluindo aí a pré-história do tempo de MDB. Ao romper a ditadura militar na oposição e ser o protagonista da transição para a democracia, com Sarney presidente, um partido que hoje tem uma banda no Palácio do Planalto […]
O PMDB, depois de Michel Temer na Presidência, está jogando no lixo toda a sua trajetória democrática, incluindo aí a pré-história do tempo de MDB. Ao romper a ditadura militar na oposição e ser o protagonista da transição para a democracia, com Sarney presidente, um partido que hoje tem uma banda no Palácio do Planalto e outra na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, no Rio de Janeiro, chega a 2017 transformado. Virou um ninho, onde habitam políticos respeitáveis e um magote de malfeitores. O PMDB expulsou a senadora Kátia Abreu e não fez nada contra Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, Gedel Vieira Lima e
Henrique Alves, todos encarcerados por corrupção.
O velho Tancredo Neves, o arquiteto da Nova República, Ulysses Guimarães e Renato Archer podem estar em greve de fome no outro mundo. De indignação. O partido que eles deram vida e com eles fez um vigoroso pedaço da história contemporânea brasileira, está à beira do precipício. Uma parte já escapuliu. O presidente Michel Temer não preside. Está nas mãos do Centrão, que não tem legenda definida,
programa aprovado, muito menos ideologia.
O Centrão é uma feira de negócio sem produtos. Só funciona ao redor do Poder Central de Brasília e se organiza para agir como uma caterva. No Centrão, pratica-se a política do toma lá, dá cá. É um grupo de parlamentares fisiológicos que decidem no Congresso. Age conforme o vento governista e os aperreios do presidente para aprovar matérias complexas e impopulares. O grupo ganhou força desde que o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começou a comandá-lo há três anos.
Este é o novo Centrão da Câmara dos Deputados. Formado por uma lista de 13 partidos conservadores que vai do PP ao PSD, o grupo chegou ao auge quando elegeu o próprio Cunha presidente da Câmara, com 267 dos 513 parlamentares. O Centrão deu apoio quase maciço – e decisivo – ao impeachment de Dilma Rousseff e, recentemente,
salvou o presidente Michel Temer das duas denúncias formuladas
pela PGR. Tem agora entre 260 e 270 parlamentares, número suficiente para deitar e rolar. Pode aprovar simples projetos ou emendas constitucionais (308), como a reforma da Previdência. Dependendo dos acordos fechados entre paredes, em almoços e jantares palacianos.