O bizarro “Caso Nenzim”
Bizarrice completa esse assassinato do ex-prefeito de Barra do Corda, Manoel Mariano de Sousa, de 78 anos, o Nenzim, que, de trabalhador rural pobre, virou político. De político, liderança regional e prefeito três vezes, além de fazendeiro e milionário, em patrimônio em Barra do Corda. Município é centro do Maranhão e de uma região longamente […]
Bizarrice completa esse assassinato do ex-prefeito de Barra do Corda, Manoel Mariano de Sousa, de 78 anos, o Nenzim, que, de trabalhador rural pobre, virou político. De político, liderança regional e prefeito três vezes, além de fazendeiro e milionário, em patrimônio em Barra do Corda. Município é centro do Maranhão e de uma região longamente
dominada por grileiros de terras devolutas, reservas indígenas e madeireiros, onde o cangaço, a pistolagem e a corrupção andaram sempre de mãos dadas.
Portanto, a Polícia do Maranhão, que agiu rápido e conseguiu prender os implicados na morte do Nenzim, com o filho dele, Mariano Júnior, ou Mariano de Nenzim, principal suspeito, faria um trabalho completo se fosse fundo em investigações mais amplas. O caso policial e familiar,
de extrema bizarrice, virou, também, um caso de política. Em meio ao clamor inicial, depois de constatado como um crime parricida, levou alguns a colocá-lo, maldosamente, na ciranda da disputa do governo do Maranhão em 2018. Houve tanto quem aplaudisse a presença de Roseana Sarney no velório, quanto quem recriminasse a ausência de
Flávio Dino, como se fosse obrigação oficial dele.
Bizarro ainda quando se noticia que o “Mariano do Nenzim” conseguiu surrupiar, com seus comparsas ladrões, carreteiros e receptadores, nada menos que 500 bois de uma única fazenda, sem deixar marcas imediatas. Talvez caso único do Maranhão, alcançado pela velha e ineficaz Lei do Abigeato (Lei art. 155 § 6º), que pune furtos e roubos no meio rural, principalmente de gado. Porém, o mais dramático desse enredo macabro é o filho participar da morte a bala do próprio pai, mantê-lo moribundo por quase uma hora, para só então levar o cadáver ao hospital. E ainda ir chorar no velório.
Segundo a Bíblia dos hebreus, parricidas são os filhos que matavam os pais sem nenhum motivo aparente. Já os dicionários modernos ensinam que tirar a vida de uma pessoa, por motivos torpes ou não, leva a sociedade a refletir até onde o ser humano é capaz de agir em poder de seu livre arbítrio. E quando a barbárie ocorre contra o pai, tratase
ainda mais grave. Revela o lado sombrio do ser humano – o que exige reflexão. Trata-se do assassinato de um ente que ocupa o lugar singular na vida do homicida, como o pai. É de uma torpeza inimaginável, cuja ocorrência quase sempre é motivada por ambição, tendo o lado patrimonialcomo pano de fundo.