Entrançado de letras e posturas

As eleições do Maranhão, que envolvem quase todos os 35 partidos com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), virou um entrançado de siglas, costuras e ideologias políticas. As coligações são tão complexas que um eleitor como o Zeca Peba, nascido em Jaguarana e só conhecedor de uma urna eleitoral depois de 1988, por benevolência da […]

As eleições do Maranhão, que envolvem quase todos os 35 partidos com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), virou um entrançado de siglas, costuras e ideologias políticas. As coligações são tão complexas que um eleitor como o Zeca Peba, nascido em Jaguarana e só conhecedor de uma urna eleitoral depois de 1988, por benevolência da Constituição Cidadã, não vai entender, nem um tiquinho, desse jogo pesado de eleger políticos que mandam e desmandam em seu nome.

O Maranhão conta com 851 mil eleitores analfabetos, como o Zeca Peba. Só eles resolveriam, com folga, a eleição de governador, se todos votassem em um só candidato. Guiado democraticamente pela biometria, ou o dactilograma do polegar direito, o eleitor analfabeto terá, certamente, imensa dificuldade de compreender o que se passa pelos acordos entre partidos, que resultam nas coligações. Esse cidadão, que ainda usa o sistema decimal da “braça” para medir a cerca da roça, e a “légua de beiço” para calcular distâncias mais longas
(“bem ali!”), não sabe o que é direita, esquerda e o centrão.

Se o candidato se apresentar como defensor do marxismo, do capitalismo ou liberalismo, danou-se. O ‘cabra’ não vai entender nada. No máximo, ele saberá identificar os candidatos mais conhecidos pela foto. Quanto a essa história de ideias, propostas e ideologia, é tão surreal quanto se pegar um carro brasileiro e tentar dirigir no trânsito de Londres, pela mão inglesa. É sobre esse eleitor distante, desconfiado e desamparado que os políticos fazem a festa para obter o voto dele.

Infelizmente, os grotões analfabetos, de moradores de casas de taipa, cobertas de palhas de babaçu, que durante séculos se resolve muito da política maranhense. Os analfabetos não gostam de anular voto, votar em branco ou não comparecer. Eles levam a eleição mais a sério do que os moradores da Península, em São Luís. Parece inacreditável, mas o pobre, muitas das vezes, ingenuamente, tem imenso respeito pelo direito de votar. Mesmo sem saber desentrançar o significado das siglas, armadas como arapucas, pelos sabidos engravatados, o analfabeto vota valendo – com o dedo e o civismo.

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