Aprovação das cotas

O estudo é sério e não é conversa de botequim. Para quem sempre esculachou o processo seletivo de ingresso na universidade pública pelo critério das cotas, agora vai dar com os burros n’água. É o outro lado da história de inclusão social, para a qual as elites brasileiras torcem o nariz. Levantamento realizado pela Folha […]

O estudo é sério e não é conversa de botequim. Para quem sempre esculachou o processo seletivo de ingresso na universidade pública pelo critério das cotas, agora vai dar com os burros n’água. É o outro lado da história de inclusão social, para a qual as elites brasileiras torcem o nariz. Levantamento realizado pela Folha de S. Paulo, publicado domingo passado, mostra que os estudantes “cotistas” se formam com desempenho próximo aos demais alunos em mais da
metade dos cursos. Eles só ficam atrás nas ciências exatas.

Com base no desempenho de 252 mil estudantes nas edições do Enade de 2014 a 2016, o levantamento mostra que, em 33 dos 64 cursos, a nota média dos estudantes beneficiados por cotas ou outra ação afirmativa foi superior ou até 5% inferior. Essa não é a única pesquisa. Outras, acadêmicas, apontam para o excelente desempenho do mesmo
grupo de alunos beneficiários das cotas.

Por exemplo, a pesquisa do professor Jacques Wainer, da Unicamp, e da professora Tatiana Melguizo, associada da Rossier School of Education da University of Southern California, com uma amostragem sobre o desempenho de um milhão de alunos no Enade, entre 2012 e 2014, concluiu que a qualificação dos formandos por cotas equivale ou até supera a qualificação dos demais alunos. Na média, os bolsistas têm
desempenho igual aos não cotistas. No Prouni, os bolsistas têm um desempenho ainda superior aos não bolsistas.

A crítica central da oposição à Lei de Cotas, de 2012, era de que tal política agride a meritocracia e compromete a excelência nas universidades públicas, e que esses dois valores devem orientar o acesso à graduação superior. A meritocracia, portanto, não pode ser considerada fora das condições socioeconômicas e históricas. Porém, numa sociedade escandalosamente desigual, o isolamento estudantil
só contribui para reproduzir e perpetuar a desigualdade social, a racial e a exclusão generalizada.

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