DE MATADOURO À LIBERDADE 

100 anos de fundação da Liberdade

A história da Liberdade tem origem no antigo Matadouro Modelo de São Luiz, construído há um século, e onde hoje funciona a Unidade de Educação Básica Mário Andreazza, antigo Centro de Ensino Médio Nerval Lebre

Predio do antigo matadouro público no bairro da liberdade. (Foto: Honório Moreira)

Cem anos de fundação. Cem anos de Liberdade. Cem anos de um bairro que tem história, tradição cultural e um local que virou o maior conglomerado urbano de população negra. Campina, Matadouro, Floresta e depois Liberdade (por aprovação da Lei Municipal nº 1.749, de 17 de maio de 1967), o bairro, nascido do Matadouro Modelo, construído no Sítio Itamacaca, de propriedade de Ana Jansen Pereira, chega a um século querendo fazer mais história.

O jornalista Ed Wilson Araújo, no primeiro documentário de uma série, Memórias de São Luís, abordou a história do Matadouro com depoimentos, registros documentais e imagens. Ainda no ano passado, o vereador Cézar Bombeiro criou um projeto de lei que institui o Dia do Bairro da Liberdade, em 25 de maio, como de sua fundação. E O Imparcial vai contar um pouco dessa vasta história. Quem compartilha um pouco da sua memória afetiva sobre o marco da origem do bairro é o médico e professor da Universidade Federal do Maranhão, Alcimar Pinheiro, filho de Seu Doca, um dos moradores mais antigos do bairro Liberdade, falecido no ano passado aos 90 anos.

Alcimar nasceu e se criou no Matadouro (nome dado por causa do abatedouro de gado bovino e suíno que abastecia a população de São Luís), de onde saiu somente quando precisou se especializar na profissão. A sua mãe continua morando na mesma residência que ele nasceu.

“O Matadouro e as lembranças que tenho povoam todo o período da mina infância e adolescência. Era um evento interessante, alegre e divertido para o bairro, embora algumas pessoas achassem que não. Mas, para a turma jovem, era. Porque ficávamos observando os bois que chegavam para o abate e todo aquele ritual até eles entrarem no matadouro. As fugas, as buscas… Era diversão, não havia maldade”, conta Alcimar.

Naquela época, o bairro tinha um único acesso por terra, chamado Campina do Matadouro, mas o principal meio de entrada eram as embarcações (o acesso ao Matadouro Modelo era feito pelo Rio Anil).
Os dois acessos ao Matadouro eram via embarcação ou pela malha férrea. Com o tempo, parte da maré foi tomada por ocupações, a exemplo da Vila Maruim, Vila Sésamo, entre outras, e com a Avenida Quarto Centenário, o bairro passou por um processo de urbanização.

“Eles vinham de trem pela estrada de ferro São Luís/Teresina. Desciam na Rua Machado de Assis, que dava na época no Caminho Grande (Rua Grande). Ali o trem parava. Como vinham confinados, estressados, facilmente se desgarravam e ganhavam os bairros do entorno do Matadouro, que eram Brasília, Camboa, Baixinha, Floresta. Aí a molecada funcionava como ajudante dos vaqueiros, ajudando e dizendo para onde os bois tinham fugido. Era uma farra”, lembra o médico.

Renda para o bairro

O Matadouro também era um grande fomentador de emprego. Os moradores do bairro e entorno eram empregados lá fazendo os mais diversos serviços. Como o pai e o avô dele, Augustinho Pinheiro, que faziam serviços diversos e, por isso, os meninos do bairro tinham livre acesso ao local.

Além de ser um bairro de grande importância para a economia do estado, o Matadouro se destacava pelas atividades culturais e datas festivas. Boi de Seu Leonardo (Boi da Liberdade), Boi de Seu Apolônio (Boi da Floresta), tambores de crioula, festa do Divino são algumas das manifestações culturais diversas, advindas de vários cantos da Baixada Maranhense, além dos grupos e artistas do segmento do reggae, blocos tradicionais, casas de culto afro, entre outros.

“Foi um bairro sempre muito alegre. São João, carnaval eram datas muito alegres. Tinha cultura e também esporte. Tinha um time de futebol da segunda divisão onde meu pai era presidente, o Aliados, composto por atletas da Liberdade. Tinha o 11 Amigos, e o time da criançada era o 11 da Liberdade, que era da Dona Benedita, já falecida. O que fica é a memória afetiva de quem viveu aquela época. Uma infância alegre, saudável, divertida e que sinto muito orgulho de ter participado. São recordações que mexem com o coração da gente”, lembra Alcimar.

Comunidade quilombola

Conselho Cultural Comunitário Cultural da Liberdade.

Situado entre a Fé em Deus, o Monte Castelo, o Canto da Fabril, o Diamante e a Camboa, a Liberdade tem como referência o Sítio Itamacaca.

Segundo historiadores, a maioria dos moradores é descendente de africanos vindos da Baixada Maranhense. Com a construção do Centro de Lançamento de Alcântara, muitos moradores da região acabaram migrando também para a Liberdade. Juntos, os moradores vindos da Baixada Maranhense e de Alcântara, oriundos de comunidades quilombolas, fizeram da Liberdade a maior população negra de São Luís.

Já a sua urbanização começou a partir de ocupações ilegais, nos terrenos que eram da Marinha, por pessoas que chegavam à capital dos mais diversos municípios do estado.

O bairro

A Liberdade surgiu a partir de 1918, com a criação do Matadouro. Naquele ano, foi firmado um contrato entre a Prefeitura de São Luís e a Companhia Matadouro Modelo. O prazo do contrato era de 25 anos, contados da data de inauguração. Durante a vigência, o contratante teria “uso e gozo do estabelecimento com todos os ônus e vantagens pactuados”. Ao fim desse prazo, o matadouro passaria ao controle da prefeitura.

O antigo Matadouro do município de São Luís estava localizado no final da Rua de São Pantaleão, nas proximidades da Praia da Madre Deus. Após confecção de relatório sanitário, elaborado pelo Dr. Victor Godinho, foram apontadas as precárias condições do espaço ao intendente municipal Luis Torres.

Em 25 de maio do mesmo ano, Torres determinou a publicação da desapropriação, no Diário Oficial do Estado, do Sítio Itamaracá para a construção do Matadouro Modelo.

Predio do antigo matadouro público no bairro da liberdade. (Foto: Honório Moreira)

Em 1937, por ordem do prefeito Otacylio Saboia, o contrato com o Matadouro foi rescindido, sendo este reaberto em 1940 e funcionando até 1980, quando teve suas atividades encerradas definitivamente. Hoje, em parte do local, funciona a Unidade de Ensino Fundamental Mário Andreazza.

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