BRINCADEIRA

Arte de empinar pipas encanta gerações na ilha

Papagaio, pipa, barilete, pandorga, sura, cafifa, curica, raia, rabiola – as denominações são as mais variadas para chamar o artefato simples, feito de varetas de bambu, papel, cola e linha

Papagaio, pipa, barilete, pandorga, sura, cafifa, curica, raia, rabiola – as denominações são as mais variadas para chamar o artefato simples, feito de varetas de bambu, papel, cola e linha.
A brincadeira de empinar pipas deixa um colorido especial nos céus de São Luís nesta época do ano onde os ventos mais fortes contribuem para que mais pessoas entrem nessa diversão que tomou conta de muitos bairros, principalmente quando chega o final de semana.
O espaço onde funciona a feirinha livre da Cohab é um dos locais preferido dos apaixonados por essa antiga prática, que embora encante as crianças, a equipe de O Imparcial encontrou no último domingo dia 11, pessoas de todas as idades empinando pipas. O aposentado de 72 anos, que se identificou como Loreto, um dos mais veteranos da turma, começou a confeccionar seus próprios brinquedos voadores. “Me aposentei e com a idade chegando eu vi que podia, e comecei a fazer meu “papagaio”, além de distribuir alguns para os colegas. Eu não vendo, é um hobby que eu tenho. Isso me ajuda a viver melhor”, disse ele entusiasmado.
Pipas

O local que movimenta um comércio informal ao redor da brincadeira tem atraído vendedores. O vendedor de pipas, Alisson Cardoso, 28 anos, tem uma loja no bairro da Cidade Operária, mas percorre o circuito dos “pipeiros” em busca dos compradores. Ele falou da atipicidade dos ventos nesse período e comemora as boas vendas. “Eu vendo pipas durante o ano inteiro, principalmente no período de alta temporada, que é o período chuvoso onde temos um vento mais de brisa onde as pipas sobem tranquilamente. Esse ano foi diferente, esse tempo de ventos fortes que começaram em agosto tem rajadas de até 45 km/h, então a pipa fica muito rápida, muito arisca e as vendas aumentaram”, disse o vendedor em tom de satisfação.

Apesar de ser uma brincadeira saudável, um clima de competição imperava entre os empinadores de pipa, na área que fica localizada entre os bairros da Cohab e do Cohatrac, em São Luís. Cada grupo ocupava determinado espaço e a disputa era “cortar” as pipas das equipes diferentes. O contato entre as linhas causava o atrito necessário e cortava a linha do oponente. O uso do tradicional cerol (mistura de cola com pó de vidro) já foi muito utilizado para isso, hoje é usada a linha chilena, quatro vezes mais cortante. A linha é produzida de quartzo e óxido de alumínio, e era facilmente encontrada à venda no local.
Pipas

Enquanto muitos adultos praticavam o “corte”, crianças e adolescentes ficavam “escorando” as pipas que caiam do céu e para isso, utilizavam varas improvisadas de madeira ou bambu, para ter acesso aos artefatos ainda no ar, antes de tocarem o chão e assim obter alguma vantagem. A cada pipa cortada era ouvido o grito de “lá vai” e começava uma correria desenfreada pelas avenidas e ruas próximas, com riscos de atropelamento para esses jovens, já que a atenção fica voltada para o céu.

Em São Luís, existem mais de 20 grupos que se reúnem a cada final de semana, organizam eventos e tem agora o sonho de fundar uma Associação. Um dos responsáveis pelo projeto é Agnaldo Silva, 58 anos, ele empina “papagaios” desde os 13 anos. “Estamos pensando em criá-la para fortalecer o movimento dos “pipeiros” e “papagaieros” de São Luís para ter a nossa área para brincar sem perigos, muitos falam que a linha com cerol tem riscos, mas se brincarmos com segurança não tem por que temer”, finalizou.
Perigos
Embora a atividade encante tantas pessoas, é preciso muita atenção na hora de “soltar” pipas. Um dos principais cuidados para a diversão não se tornar um risco é em relação à rede elétrica. Segundo a Cemar, os riscos são inúmeros e a prática deve ser praticada longe das redes de energia elétrica, dando preferência a locais abertos como campos ou praias. Evitar também o uso do cerol, pois pode provocar acidentes, pois o vidro é condutor de energia, além de ser um risco para ciclistas e motociclistas e jamais subir em postes para resgatar “papagaios” ou pipas enroscadas na rede elétrica.
História da pipa
A brincadeira de empinar pipas é muito antiga e tiveram outras finalidades ao longo dos anos. Acredita-se que a primeira pipa a ganhar o céu era chinesa, teria sido criada por um general de nome Han Hsin há aproximadamente 200 anos antes de Cristo. O intuito do militar chinês era de medir a distância de um túnel a ser escavado no castelo imperial. Logo depois de sua criação, ao mesmo tempo em que eram usadas para fins militares, as pipas tornaram-se uma arte popular naquele país. Com o passar do tempo, elas se espalharam pelo Oriente, principalmente no Japão e na Coréia. Com a chegada dos europeus ao Oriente, foram trazidas para Europa.
Consta que os japoneses por volta do século XI usavam as pipas para transmitir mensagens secretas a seus amigos aliados. Além do uso para fins militares, as pipas nos países orientais adquiriram um forte sentido religioso e místico. Relacionadas com felicidade, sorte, nascimento, fertilidade e vitória. Assim, pipas pintadas com dragões tinham relação com a prosperidade; tartarugas, com vida longa; corujas, com a sabedoria. Antes das grandes invenções, as pipas foram experimentos de pesquisas. Em 1749, o escocês Alexander Wilson usou vários termômetros presos a pipas para medir a temperatura nas alturas. Em 1752, Benjamin Franklin empinou uma pipa forrada de pano, num dia de chuva, com uma chave presa ao fio. A eletricidade das nuvens foi captada pela chave e ele descobriu o para-raios. Em1883, o inglês Douglas Archibald prendeu um anemômetro (medidor de vento) à linha de uma pipa e mediu a velocidade do vento a 360m de altura. Guglielmo Marconi, em 1901, usou uma pipa para erguer uma antena e fez a sua primeira transmissão radiotelegráfica sem fio.
No Brasil, as pipas chegaram com a colonização portuguesa e são conhecidas por diversos nomes. Na Bahia são arraias; no Rio de Janeiro e São Paulo, são pipas; em São Luís, além do nome pipa, são também tradicionalmente chamados de papagaios.
Alguns grupos organizados de São Luís
Pipeiros de São Luís
Turma da Árvore
Pipaterapia
Pipas Clube
Los Pipeiros
Otávio Pipas
Castelo das Pipas
Eu Curto Pipa
Clube dos Pipeiros
Pipeiros do Maiobão
Pipeiros da Alemanha
Pipeiros da Madre Deus
Pipeiros do Santa Cruz
Pipeiros do Monte Castelo
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