SEGUNDA CHANCE

História de mulher acusada de furto comove policiais

Jovem surpreendida praticando furto foi ajudada por policiais após tomarem conhecimento do motivo que a levou a cometer o ato desesperado

Aos 29 anos e desempregada uma mulher que prefere não se identificar viveu uma situação que até então nunca tinha passado. Motivada pelo desespero para sustentar sua filha de quatro anos com necessidades especiais, ela cometeu o seu primeiro crime. Poderia ser mais uma dentre as tantas histórias que tomamos conhecimento diariamente, mas esta não. Desta vez o final seria diferente.
O caso aconteceu em um dia qualquer, em uma loja de departamentos de um shopping de São Luís. A jovem entra com várias sacolas vazias, passa por algumas gôndolas e decidida, vai aos eletrodomésticos. Na sessão ela pega o primeiro objeto, um liquidificador. Em seguida, a jovem vai à sessão de brinquedos e pega uma boneca, logo depois, ela se apossa de algumas latas de leite em pó e alguns pacotes de fraldas descartáveis. Um policial à paisana, que estava no local, percebe o furto e intercepta a jovem que entra em desespero por ter sido pega.
Ela foi levada até a 1º Companhia do 8º Batalhão de Polícia Militar do Maranhão. Lá, foi ouvida pelo tenente Ricardo que questionou o motivo pelo qual teria levado a mulher a cometer o crime.
“Eu sempre trabalhei, sempre cuidei da minha família e agora estou de mãos atadas, sem emprego. Minha filha de quatro anos possui deficiência, não tem leite, não tem fralda, não tem brinquedo”, argumentou. O estranho era o porquê de um liquidificador fazer parte da lista de furtos. Continuando seu relato, a jovem explica: “O liquidificador era para bater a sopa, pois minha filha tem dificuldade em ingerir comidas sólidas”, comentou aos prantos.
Uma história comovente. Mas numa delegacia de polícia, onde vários casos são registrados diariamente, muitas histórias são contadas, como acreditar que aquela jovem falava a verdade? Foi então que o tenente Ricardo verificou no Sistema Integrado de Gestão Operacional (SIGO), se havia ficha criminal da jovem, e constatou que a mesmo não possuía passagem pela polícia.
“Estou na polícia há nove anos, nunca tinha visto uma situação como essa. Sensibilizei-me, mas como poderia ajudar aquela garota?”, indagou.
Enquanto prestava depoimento, o celular da jovem toca. Foi mais uma oportunidade para o tenente comprovar a veracidade do depoimento. O militar pediu para que atendesse o celular e comprovou que a jovem, de fato, tinha uma filha de quatro anos e que possui necessidades especiais.
“Com a comprovação do fato, levamos a garota até a loja do furto. Chegando lá, explicamos a situação ao gerente e questionamos se ele gostaria de dar continuidade ao trâmite”.
Jovem surpreendida praticando furto foi ajudada por policiais após tomarem conhecimento do motivo que a levou a cometer o ato desesperado
O gerente da loja não quis prosseguir com o inquérito. Foi ai que o tenente pediu para que registrassem os produtos no caixa, e junto com mais dois policias da guarnição, pagou pela compra.
Uma nova chance foi dada a ela, um novo começo, já que nessa situação, o procedimento normal seria a detenção da jovem pelo crime de furto.
“A história dela é comovente, mas o furto é inadmissível. Ela mesma disse que aprendeu com nossa sensibilidade em compreender seu problema. Fizemos jus à nossa condição de servidores públicos”.
A mãe
Apenas com o endereço, saímos em busca de conhecer a mulher que despertou a solidariedade dos policiais. Em um bairro muito carente de São Luís, o nosso carro de reportagem se enveredou por becos e vielas. A preocupação era saber como a mulher nos receberia e se aceitaria conversar conosco.
Poucas pessoas transitavam pelas ruas. Avistei uma senhora que passava com uma fantasia de festejo junino. Aproveitei para conferir o endereço. No impulso perguntei a uma senhora que passava se conhecia a jovem. Por sorte ou destino, a moça tinha um grau de parentesco com ela e me levou até a casa.
Na parte de baixo de um sobrado alugado, com uma grade preta na frente, a jovem reside com seus pais e irmãos.
Muito apreensivo, me identifiquei. Logo fui convidado a entrar na casa. Algumas crianças brincavam na área da entrada, entre elas, uma me chamou a atenção por soltar alguns gritos. Logo identifiquei como a filha daquela mulher.
Na sala, a mãe preocupada em me acomodar, tirou algumas roupas que estavam no sofá para que eu pudesse sentar. De início, questionei como ela se mantém.
“Sou separada, moro com meus pais. São eles que me ajudam a cuidar da minha filha. Por conta do problema dela (sua filha) desde 2003, sempre tenho que viajar para São Paulo para ela realizar tratamento com a fonoaudióloga”.
Nota Fiscal

Durante meu questionamento, a mãe da jovem chegou à casa e percebendo o que se tratava no momento, se emocionou. “Minha filha é uma pessoa do bem. Por conta do ocorrido, ela desenvolveu problema nervoso, toma dois comprimidos por dia. Ela está muito envergonhada e já nem sai mais de casa”, comentou a senhora.

Questionei os motivos do ato e se ela tinha algum arrependimento. Nesse momento a filha da jovem subiu no sofá e passou a brincar ao meu lado.
“Foi algo de impulso. Estou muito arrependida e envergonhada pelo que fiz. Aquele policial mais claro (se referindo ao tenente Ricardo) foi um anjo. Ele foi muito humano comigo, comprou tudo e ainda pediu para que me deixassem aqui em casa. Estou muito arrependida”, revelou a mãe, para logo em seguida se comprometer a não seguir mais o caminho que comprometesse sua dignidade.
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