DIA DAS MÃES

Mulheres contam, neste Dia das Mães, por que não querem ter filhos

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que o número de domicílios no Brasil sem crianças pulou de 13,5% para 18,8% em dez anos, de 2004 a 2014

A rotina de uma mulher no século XXI, com carreira, filhos e casamento, não parece ser nada fácil. A dupla, ou tripla jornada de trabalho com o cuidado e atenção aos filhos que, em muitos casos, não traz compensação social ou profissional não é um atrativo para todas as mulheres.
Em uma pesquisa recente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que o número de domicílios no Brasil sem crianças pulou de 13,5% para 18,8% em dez anos, de 2004 a 2014. A participação dos casais com filhos no total de lares recuou de 54,8% para 44,8%. No mesmo período, aumentou o número de lares ocupados por uma única pessoa, homem ou mulher. Os domicílios nos quais o homem vive sozinho passaram de 6,8% para 9,1%. Aqueles em que a mulher vive sozinha passaram de 7,8% para 10,4%.
A geração de mulheres que escolheram não ter filhos não escapou da necessidade de rótulos sociais, e ganhou nome, são as “NoMo” ou Não Mães (Not Mothers, do original, em inglês), e fazem parte, segundo o levantamento do Censo 2000, dos 14% das famílias brasileiras que não tinham filhos. Em 2010, a porcentagem cresceu para 20%, o equivalente a 22 milhões de pessoas que fizeram a opção.
Escolhas de vida
Mulheres que não querem ter filhos

Lares sem crianças, nem por isso são menos felizes que aqueles que as têm, como contaram à nossa reportagem mulheres que escolheram, por um motivo ou por outro não ter filhos, rompendo com o “mito de que uma mulher se realiza apenas pela maternidade”, nas palavras da doutora em Ciências da Literatura, Andrea Lobato.

Lobato, de 46 anos, é casada há 15 com o pesquisador Cláudio Guimarães, e não tem filhos, segundo ela, por um “processo natural da vida”. “Não ter filhos foi uma decisão de uma vida toda, de algum modo”, pondera. Andrea fala sobre como a maternidade é uma imposição latente na sociedade, ainda hoje, o que ela chama de “áurea que envolve as mulheres, o mito do instinto maternal”.
“Ser mãe nunca foi um desejo autêntico para mim. Os sacrifícios para ser mãe não eram algo que eu queria em minha vida. Naturalmente, foi sendo adiado. Um congresso, um mestrado, o doutorado. Cheguei aos 30, 32 e pensei: ‘Bom, agora estou começando a não ter mais idade para ter filhos’, e foi um alívio”, contou. Olhando para suas escolhas na vida, Andrea diz que a falta de desejo em ser mãe sempre esteve lá. “Sempre quis estudar muito, viajar, produzir coisas, e uma criança me tiraria essa liberdade. Não foi algo doloroso, porque não foi algo que eu tenha desistido”, pondera.
A assistente social Marcia Renata Sousa, de 55 anos, lembrou que os tempos estão mudando, e hoje possa ser mais comum uma mulher não casar ou não ter filhos, mas que em sua juventude foi a única entre as colegas de escola. “Na minha época só se podia ter filhos se estivesse casada, e eu não queria casar. Nunca quis. Minhas colegas de escola queriam terminar o ensino médio e já falavam em casar. Eu queria estudar”, lembra.
Marcia faz questão de desmistificar a ideia que de pessoas que optam por não ter filhos não gostam de crianças. “Eu adoro crianças, amo meus sobrinhos. Ajudei a cuidar deles muitas vezes, e até hoje gosto de ajudar. Mas nunca me vi tendo filhos meus”, explicou. Sobre as cobranças da família, ela disse que nunca teve de fato, já que sua mãe não lhe obrigou a nada. “Mamãe não me cobrava casar. Éramos só meu irmão e eu de filhos, e ela morria de medo era de me perder”, contou sorrindo.
A jovem estudante de Comunicação Social, Juliana Nascimento, de 20 anos, decidiu que não quer ter filhos, uma responsabilidade que, para ela, atrapalharia nas conquistas pessoais e profissionais, que ela classifica como “motivos egoístas”, mas que não abre mão. “Filhos demandam tempo, energia, dinheiro, responsabilidade. Tenho outros planos para o meu futuro, e ter um filho deixaria complicado fazer as coisas que quero”, contou. A decisão ou falta de desejo em ter filhos surge em fases muito diferentes da vida das mulheres, nem sempre desde cedo, como Juliana, ou como uma consequência das escolhas na vida, como Andrea, mas uma decisão conjunta tomada ainda no começo de um relacionamento. É o caso da dentista Carlinne Duarte, de 38 anos e casada há 6 com advogado George Cunha. “Namorei por 15 anos antes de casar. Foi uma decisão natural. O tempo foi passando e a necessidade de ser mãe nunca se apresentou”, conta. Assim como Marcia, Carlinne aponta que a aproximação com sobrinhos pode ter “suprido” esse contato com a criação de crianças.
Sem arrependimentos
Mulheres que não querem ter filhos

Juliana conta que pretende fazer outra graduação, viajar para estudar em outro país. “Tenho outras prioridades”, reforça. Quando questionada se não seria jovem demais, Juliana disse que não pode prever como será sua vida. “Pessoas próximas a mim sabem da minha escolha e têm reações diferentes. Tenho amigas que dizem não conseguir me ver com filho, mas, para minha mãe, eu vou mudar de ideia. Costumam falar que, quando for mais velha, me arrependerei, mas não posso saber disso”, avalia. Sobre o arrependimento e como filhos seriam um conforto na velhice, a assistente social Márcia Sousa toca em um ponto delicado na relação parental.

VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias