VIDA

Cecé faz 90 anos e ganha capa de O Imparcial do dia em que nasceu

Ao celebrar nove décadas de vida, publicitária Celutina Gedeon compartilha relatos da sua vida e notícias que marcaram a sua história

Celutina José Gedeon Lisboa Soares… ou simplesmente Cecé. Contabilista, publicitária, mãe, mulher. Uma personagem que, assim como O Imparcial, completa 90 anos neste mês de maio. Nove décadas de história, mas também de muito vigor e energia. Em homenagem ao seu aniversário, visitamos dona Cecé para celebrar a vida, mas também para conhecer alguns dos fatos que marcaram a sua trajetória. Em meio à visita, uma surpresa: a presenteamos com a capa de O Imparcial do dia 6 de maio de 1926, data do seu nascimento. Em uma conversa marcada por emoção, sabedoria e felicidade, Cecé compartilhou algumas das lições que aprendeu e as notícias que marcaram a sua vida ao longo destes noventa anos.
Amor pela notícia e pelo Maranhão
Dona Cecé é maranhense e se demonstra orgulhosa de sua terra, mesmo tendo vivido a maior parte da vida longe do estado. Nascida em Cururupu, deixou São Luís aos 18 anos para estudar em Fortaleza. Daí, passou pelo Recife, Rio de Janeiro (de onde carrega algum sotaque, adquirido em quase duas décadas morando na cidade) e São Paulo, onde permaneceu por 27 anos.
As notícias sobre o Maranhão, no entanto, mantinham constante vínculo com a sua terra de origem. E O Imparcial esteve presente em algumas destas ocasiões. “Quando eu saí para morar fora, eu já conhecia o jornal. Era, à época, o melhor jornal de São Luís… Um jornal gostoso, imparcial, dando notícias que o povo da minha terra precisava saber”, declara. Tamanha paixão pelo estado e um convite familiar a fizeram retornar a sua terra. “Voltei porque, já com 70 anos, a minha família aqui foi lá e disse: ‘Tia Cecé, o que a senhora faz aqui sozinha? Vamos pra casa, onde estamos todos lá esperando’. E foi a melhor coisa que eu fiz. Sou muito feliz nessa terra. Acho a minha terra maravilhosa”.
Mulher pioneira 
Celutina Gedeon

Pequena na estatura física, foi na profissão que dona Celutina se tornou gigante. Com três filhos pequenos por criar e viúva aos 34 anos, chegou ao Rio de Janeiro em busca de melhores oportunidades. Foi lá que, graças aos conhecimentos em inglês (que diz, orgulhosa, ter aprendido no Maranhão), conseguiu emprego em uma agência de publicidade internacional, onde seguiu carreira.

“Eu me lembro dos sonhos e da vontade de um Maranhão melhor de Bandeira Tribuzi, eu lembro de quando Sarney foi o deputado mais novo em Brasília (tive esperanças de que meu estado subisse), eu lembro do governador Vitorino Freire… eu soube, de certo modo, de tudo que acontecia no meu estado”, Celutina Gedeon

Iniciou como auxiliar de datilógrafa, mas já na primeira experiência chegou a ser uma das representantes da empresa, única mulher que ocupava o posto. Se, hoje em dia, isso ainda representaria algum desafio, há mais de cinco décadas, o contexto era ainda mais intenso.

“Tem um fato muito engraçado, num almoço que os Diários Associados estavam dando a nossa empresa. Quando cheguei lá, a hostess perguntou: ‘Você é secretária de quem, meu bem?’. Eu respondi, apontando para a mesa: ‘Eu acho que sou aquele Celestino Lisboa que está bem ali, naquele prato… Não sou secretária de ninguém”. Eles deram um broche na hora do almoço, me pedindo desculpas porque só tinham o broche masculino, para gravata. Eu, então, botei na lapela do meu tailleur… e recebi palmas de todo mundo. Foi muito emocionante. Eu era a única mulher e estava lutando, como outras, para que a mulher tivesse a condição de salário, posição e respeito que estamos conseguindo… que ainda estamos conquistando, mas ainda vamos chegar lá.”
Mesmo com o êxito que alcançou, é humilde. “Ah, eu tive muita satisfação como profissional, mas eu busquei uma coisa: não me encher de vento. Eu era um profissional procurando ser bom profissional. E fui, mas nunca essas conquistas me tiraram o fato de ser a mesma Celuta”. Sobre o preconceito enfrentado no trabalho, garante que sua resposta era clara e objetiva: resultados e atitude positiva. “Eu quero ser mulher fazendo o que uma inteligência – que não tem sexo – pode realizar. Se a gente puder eliminar do nosso coração o não e o nunca, nós podemos nos abrir para o quem sabe, talvez, vamos lá”, declara.
Manchetes na memória

“Quando eu saí para morar fora, eu já conhecia o jornal. O melhor de São Luís. Um jornal gostoso, imparcial, dando notícias que o povo da minha terra precisava saber”, Celutina Gedeon

Em nove décadas, muitas são as histórias e passagens marcantes na vida de dona Cecé. Em uma hora de conversa, vários acontecimentos foram citados. Comum a todos eles é a relação com a esfera política nacional e local, que a publicitária retoma com riqueza de detalhes.

Nas memórias a destacar, relembra um episódio histórico nacional. “Olha, tem uma coisa que me marcou muito porque eu achei muito dolorosa. Eu estava no Rio de Janeiro, quando aquela tropa ficou gritando e houve a saída de Jango Goulart. Eu fiquei muito impressionada com aquilo. Engraçado, podiam ser muitas coisas, mas aquilo me marcou… ”.

“Tem uma coisa que me marcou muito porque eu achei muito dolorosa. Eu estava no Rio de Janeiro, quando aquela tropa ficou gritando e houve a saída de Jango Goulart”, Celutina Gedeon

Quando fala sobre o Maranhão, embarca em uma viagem por diversas décadas e tendências no estado, sempre relacionadas aos anseios de vê-lo em melhor situação. “Ah, são muitas coisas… Por exemplo, eu me lembro dos sonhos e da vontade de um Maranhão melhor de Bandeira Tribuzi, eu lembro de quando Sarney foi o deputado mais novo em Brasília (tive esperanças de que meu estado subisse), eu lembro do governador Vitorino Freire… eu soube, de certo modo, de tudo que acontecia no meu estado. Ele é um estado de muita história e cheio de possibilidades reais que vão subir à tona um belo dia”, afirma.

Desejos para o futuro
Fazendo um balanço da sua vida, Cecé garante que, apesar de algumas dificuldades, foi feliz. E reflete sobre as responsabilidades e sobre o peso de sua experiência: “Ah, meu filho, se você soubesse… aquela coisa que diz assim ‘eu estou com a minha idade e posso dizer o que eu quero, pra quem eu quero, do jeito que eu quero’. Não senhor! Com a minha idade, deve-se pensar no que diz, dizer o que se deve e fazer o que se é preciso”.
Quando questionada sobre o que ainda quer fazer, dona Cecé é generosa. “Eu quero ser útil. Eu quero de algum modo ser útil, nem que seja sentada perto de alguém para que essa pessoa não se sinta sozinha. Eu quero poder abraçar, eu quero poder dizer – sem constrangimento – eu te amo, gostei tanto de te ver… Eu quero fazer isso até o fim da minha vida. E quero que papai do céu me conserve com saúde e lúcida, com sentimentos éticos, enquanto eu permanecer neste plano de desenvolvimento”.
Na data em que celebra nove décadas de vida, publicitária Celutina Gedeon compartilha relatos da sua vida e notícias que marcaram a sua história
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