IMPACTOS

Paralisação do transporte público muda rotina da população

Um dia de greve causou transtornos à população que depende dos coletivos. Muitos passageiros tiveram que recorrer ao transporte alternativo

Paralisação no transporte público altera rotina em São Luís (Honório Moreira/O Imparcial)

São Luís amanheceu ontem sem a circulação da maior parte da frota de ônibus do transporte público após o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Maranhão (Sttrema) decidir realizar paralisação por tempo indeterminado devido à falta de entendimento com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de São Luís (SET).

Apenas as empresas Pericumã, Autoviária Matos, Viação Pelé, Trans Requinte, Aroeira e São Marcos que realizaram os pagamentos e circularam normalmente durante todo o dia. As demais empresas tiveram os ônibus retidos nas garagens devido à fiscalização do sindicato.
Com o passar do dia, as paradas começaram a esvaziar à medida que os usuários desistiam de permanecer esperando por uma condução. Seu José de Ribamar, que trabalha como vigilante no Centro, até tentou voltar para casa de ônibus, mas desistiu após mais de 40 minutos de espera. A solução adotada por ele foi optar pelo serviço de um mototaxista.
“Na segunda-feira, eu até consegui chegar no trabalho pegando um ônibus, mas agora está difícil. Estou cansado, não tenho como ficar aqui esperando por mais tempo, vou pegar um mototáxi. É a opção que tenho, o ruim é para meu bolso”, ressaltou.
Na parte interna do Terminal de Integração da Praia Grande, pouca movimentação e apenas alguns usuários que tentavam ir para casa. A estudante do curso de Direito Rarisse Alencar teve que sair mais cedo da aula. O motivo foi que poucos estudantes conseguiram chegar à instituição de ensino.
“Muitos colegas não foram para a aula, a professora acabou liberando mais cedo a turma. Moro na Forquilha, tem alguns ônibus das empresas que realizaram o pagamento que passam próximo do bairro que moro. Agora é só aguardar e voltar para casa”, disse.
Transportes alternativos lucram com paralisação
Paralisação no transporte público altera rotina em São Luís (Honório Moreira/O Imparcial)

Com apenas 20% da frota de ônibus em circulação, os resultados da greve dos rodoviários de São Luís foram pontos lotados, passageiros nervosos e proprietários de vans, veículos escolares, mototaxistas e até mesmo carros particulares aproveitando para faturar uma grana extra.

A procura por veículos alternativos foi grande desde a manhã de ontem, mas os passageiros que utilizaram as vans reclamaram, por conta do aumento da tarifa da corrida, que variou entre R$ 3 e R$ 5.
No caso dos mototáxis, os preços variam de acordo com a distância que a pessoa percorre. Por exemplo, para levar um passageiro do Terminal da Praia Grande até o Centro é preciso desembolsar R$ 10 e, caso a pessoa queira ir para outros bairros, como São Francisco, a média é de R$ 20.
Na contramão do restante da população, os mototaxistas comemoraram a paralisação dos serviços de ônibus, aumentando enormemente o faturamento diário. “Até o meio-dia, eu fiz mais corridas do que um dia todo de trabalho”, contou o mototaxista João Rodrigo dos Santos.
A felicidade de João Rodrigo foi a mesma de Amarildo Pereira, dono de van que trabalha diariamente com transporte alternativo, que confirmou a melhora na renda por conta da greve. “Eu, que faço umas 15 corridas por dia, só hoje no primeiro dia da greve fiz cerca de 30, a passagem das vans varia de R$ 3 a R$ 5”, completou.
Foto: Honório Moreira/OImp/D.A Press.


Honório Moreira/OImp/D.A Press

Mototaxistas tiveram muito trabalho para atender passageiros

No outro lado da moeda, ficaram os passageiros, que consideraram os preços praticados pelos transportes alternativos como abusivos. Quem teve que ir para o trabalho na Ponta d’Areia utilizando este meio de transporte foi a babá Thayse Viana, que mora em São José de Ribamar.

“Não posso faltar trabalho, vir de São José de Ribamar para cá não é fácil. Já peguei uma van e agora um mototáxi. Quem sofre é a população com uma situação dessa, uma falta de respeito”, afirmou.
Assim como Thayse, a dona de casa Ivanilde Soares da Silva, moradora da Forquilha, teve que desembolsar um pouco mais para conseguir chegar ao seu destino.
Nem todos têm dinheiro para pagar os carros de lotação ou vans de R$ 5 durante a ida e volta pra casa e, sem alternativa, os motoristas se aproveitam do povo, cobrando caro por um pequeno percurso”, reclamou.
Paralisação no transporte público altera rotina em São Luís (Honório Moreira/O Imparcial)

Muitas pessoas aproveitaram para usar a criatividade e reavivar velhos hábitos, como o pedreiro Josevan Pinto, que não desanimou com a falta de ônibus e utilizou a bicicleta como meio de transporte. Ele mora no bairro de Fátima e saiu para ir até a Vila Embratel pedalando, para analisar uma proposta de trabalho no local.

“Emprego hoje não está fácil, temos que procurar. Como não tem ônibus, eu vim de bicicleta, não posso é deixar de ir. Estou desempregado há mais de cinco meses, então, o jeito é correr atrás”, afirmou.
Acordo
Foto: Honório Moreira/OImp/D.A Press.


Honório Moreira/OImp/D.A Press

Após paralisação em grande parte do dia e acordo entre as partes, ônibus voltaram a circular ainda na noite de terça-feira em São Luís

Após uma nova rodada de discussões na tarde de ontem, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Maranhão (Sttrema), juntamente com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de São Luís (SET), com intermédio da Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes (SMTT), decidiram pôr um fim na greve dos rodoviários.

As duas partes resolveram suspender a greve até sexta-feira, prazo dado às empresas para cumprir com as suas obrigações. Na reunião, ficou decidido o retorno progressivo dos coletivos às ruas e 70% da frota estará circulando na manhã de hoje, mediante o pagamento da segunda quinzena do salário que está atrasado por parte do sindicato patronal.
Durante a negociação, ficou acordado que o pagamento aos motoristas e cobradores será realizado hoje e amanhã, respectivamente. Com a conclusão do pagamento, 100% da frota voltará a circular gradativamente.

Liminar

A prefeitura obteve, no início da tarde de ontem, parecer favorável da Justiça do Trabalho que determinou a circulação mínima de 70% da frota de ônibus na capital. Em caso de descumprimento da determinação, o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Maranhão (Sttrema) e o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de São Luís serão multados no valor diário de R$ 50 mil. Além da determinação do restabelecimento do serviço, uma série de outras medidas foram pleiteadas para evitar depredações e outros prejuízos para a população. A ação de ilegalidade do movimento grevista foi impetrada pela Prefeitura de São Luís, através da Procuradoria Geral do Município (PGM).

Quanto ao Sindicato Profissional, a Justiça determinou que este não coaja os trabalhadores que não queiram aderir ao movimento, que se abstenha de praticar atos de vandalismo e que não bloqueie a livre circulação de carros e pessoas, bem como não impeça a saída dos ônibus das garagens.

“O não estabelecimento de um percentual mínimo de funcionários visando garantir a prestação de serviços inadiáveis à comunidade já demonstra a possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação, caracterizando o perigo da demora”, justificou a desembargadora Ilka Esdra Silva Araújo, relatora da liminar deferida em sede de Medida Cautela Inominada.
Para o procurador-geral do município, Marcos Braid, a greve é um instrumento legal, previsto constitucionalmente, mas que o interesse da população, bem como seu direito a um serviço essencial – caso do transporte coletivo –, também deve ser preservado.
 
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