A produção de coco no perímetro irrigado Curu-Paraipaba, na região metropolitana de Fortaleza, está reduzida atualmente a 40% da área prevista. Em razão do baixo nível do Açude Pereira de Miranda, que levava água para a área, a atividade produtiva depende agora dos poços que alguns produtores conseguiram cavar para manter os coqueiros.
Dos 815 produtores que fizeram planos para desenvolver projetos na região, apenas 300 conseguiram manter o cronograma inicialmente esquematizado. “O produtor está muito desanimado. Não há produção. O perímetro está em decadência por falta de água”, diz a presidente da Associação do Distrito de Irrigação Curu-Paraipaba, Socorro Barbosa.
O Curu-Paraipaba é um dos quase 30 projetos irrigados, sob a supervisão do Departamento de Obras Contra as Secas (Dnocs), que sofrem as consequências da seca no Nordeste. De um total de 37 áreas produtivas distribuídas em seis estados, o órgão estima que 80% estão prejudicados pela falta de água para irrigação.
Perímetros irrigados são áreas com potencial hídrico, divididas entre produtores da região. Diante de cenários de estiagem e de reservatórios com capacidade reduzida, a prioridade de uso da água é o consumo humano. “Temos ainda alguns projetos com produção. É um malabarismo muito grande mantê-los porque, quando você para um projeto desses, gera desemprego, falta produto no mercado e os preços sobem”, disse o diretor de Produção do Dnocs, Laucimar Loiola.
Loiola acrescentou que, quando um projeto é paralisado, há desestruturação dos produtores. “No momento, a situação é muito perversa para quem vive disso”, disse. Segundo ele, a situação hídrica nos perímetros irrigados está um pouco mais confortável no Piauí, onde há seis projetos.
Os prejuízos nos perímetros este ano ainda não foram contabilizados pelo Dnocs. No entanto, Loiola cita o desemprego como uma das conseqüências mais marcantes. “No Baixo-Acaraú [Ceará], uma empresa que atua no perímetro irrigado anunciou a demissão de cerca de 2 mil funcionários. Como não há produção, não há como mantê-los”, disse. Segundo o presidente da Associação do Distrito de Irrigação Curu-Paraipaba, os produtores passam por um problema adicional: a perda de mercado em estados onde vendiam a produção, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Bahia.
O diretor afirma que, no momento, não há muito a ser feito para minimizar os prejuízos decorrentes da falta de água. Solução adotada no perímetro irrigado Curu-Paraipaba foi a perfuração de poços. No entanto, ele explica que a vazão é baixa e a água tem pouca qualidade para a irrigação. “O Dnocs tem procurado perfurar poços, mas nosso potencial não consegue atender a todos os que precisam e o volume de recursos financeiros, diante da situação econômica do País, não é grande”, acrescentou.
Uma solução que vem sendo estimulada pelo Ministério da Integração e estudada pelo Dnocs é a conversão dos sistemas de irrigação antigos em sistemas mais modernos, sustentáveis e eficientes, com menor consumo de água. “O sistema usado no Curu-Paraipaba, por exemplo, já tem 40 anos. Gasta muita água. Estamos buscando modernizar esses sistemas para que, quando os reservatórios tiverem recarga, possamos usar a água de forma racional”, afirmou.