Quebrar o silêncio e a abrir o diálogo são as melhores armas para combater o abuso e exploração sexual infantil
A cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil.
Clarinha, uma menina de 10 anos, costumava brincar com sua prima Laura na casa ao lado, mas algo mudou. Sua mãe, Clarisse Borges, notou sinais de desconforto e tristeza em sua filha. “Ela começou a chorar toda vez que a deixava lá, e perdeu o desejo de ir à escola”, relata Clarice. Inquieta com os sinais, sua patroa alertou: “Tua filha deve estar sendo abusada.”
Cheguei em casa, abracei meu anjinho e fomos conversar, ela não disse nada. Larguei o trabalho e todo dia repetia o gesto de abraçá-la e ela começou a chorar e disse: o tio passa a mão no meu corpo. Gelei…
O relato de Clarice não é único. Com o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes se aproximando em 18 de maio, é vital aumentar a conscientização sobre essa questão.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, os dados mostram que, a cada 24 horas, 320 crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil – no entanto, esse número pode ser ainda maior, já que apenas 7 em cada 100 casos são denunciados. O estudo ainda esclarece que 75% das vítimas são meninas e, em sua maioria, negras.
Identificando sinais de abuso e exploração sexual
A coordenadora do curso de Serviços Sociais do Centro Universitário Estácio São Luis, Maysa Barbosa Moreira, destaca a importância da identificação dos principais sinais de abuso sexual infantil para pais e professores. Definindo o abuso sexual como qualquer ação praticada por adultos contra crianças ou adolescentes visando estimulação sexual das vítimas ou satisfação do agressor, a coordenadora ressalta “os sintomas físicos como dor nas partes íntimas, coceira, sangramento, além de sinais emocionais como mudança de humor e comportamentais como isolamento podem ser indicativos”.
A assistente social reforça a necessidade de considerar o abuso como uma possibilidade, destacando que a maioria dos casos acontece dentro da própria família. Diante de suspeitas, é crucial buscar as redes de proteção para oferecer apoio à criança e protegê-la de danos adicionais.
Já o psicólogo Erickson Carvalho, do Centro Universitário Estácio São Luís, destaca a importância de abordar o tema do abuso sexual de forma precoce e sensível com as crianças. Ele ressalta: “muitos pais evitam discutir sexualidade com seus filhos, transferindo essa responsabilidade para as escolas”
No entanto, Carvalho enfatiza que é fundamental que os pais estabeleçam uma comunicação aberta desde cedo, compreendendo os sinais e comportamentos dos filhos, educando-os sobre seus corpos e ensinando sobre os limites de toque, tanto por desconhecidos quanto por conhecidos.
O psicólogo Erickson Carvalho complementa: “É essencial abrir um diálogo com as crianças, educando-as sobre seus corpos e estabelecendo confiança para que possam relatar experiências desconfortáveis.” Ele enfatiza que a maioria dos abusadores são pessoas conhecidas das vítimas, tornando crucial que os pais e a comunidade estejam atentos aos sinais.
Em caso de suspeita de abuso, é fundamental acionar os órgãos responsáveis, como o Conselho Tutelar e a Delegacia da Criança e do Adolescente. Além disso, é essencial oferecer apoio psicológico às vítimas para que possam compreender e superar os traumas.
O abuso e a exploração sexual infantil são crimes que deixam marcas profundas nas vítimas e suas famílias. A prevenção, identificação e apoio são pilares fundamentais na luta contra essa forma de violência, e é responsabilidade de toda a sociedade proteger nossas crianças e adolescentes.