MEDITERRÂNEO

Tragédia no mar

As mortes no Mar Mediterrâneo guardam outras tragédias subjacentes, muitas vezes ignoradas pelas autoridades. Elas envolvem o drama de pessoas humildes, cansadas da guerra, fartas de uma vida sem esperança. De repente, alguém lhes oferece uma chance de recomeçar e de reencontrar a paz. Os coiotes cobram até 2,5 mil euros pela viagem de travessia. […]

As mortes no Mar Mediterrâneo guardam outras tragédias subjacentes, muitas vezes ignoradas pelas autoridades. Elas envolvem o drama de pessoas humildes, cansadas da guerra, fartas de uma vida sem esperança. De repente, alguém lhes oferece uma chance de recomeçar e de reencontrar a paz. Os coiotes cobram até 2,5 mil euros pela viagem de travessia. Mas o sonho, na maioria das vezes, termina nas águas do Mediterrâneo ou em centro provisório de imigrantes na Europa. O desespero quase sempre dá lugar à morte ou à deportação.
Somente neste ano, cerca de 1.800 imigrantes morreram afogados no Mediterrâneo – em 2014, foram 3.400. A Operação Mare Nostrum, encampada pelo Ministério da Defesa italiano, não conseguiu mitigar o problema, apesar de ter abordado vários barcos lotados de imigrantes. Em uma medida pouco racional e mais movida pelo desespero e pelo medo do impacto financeiro em seus países, a União Europeia estuda bombardear as embarcações dos coiotes, antes que eles alcancem os imigrantes. A questão é: como discernir pescadores de contrabandistas?
Talvez a ação mais plausível para lidar com o drama fosse a intervenção imediata e cooperativa com os países de origem dos refugiados. Os governos europeus deveriam firmar parcerias com nações africanas e do Oriente Médio para viabilizar oportunidades de desenvolvimento e mediar a paz em regiões conflituosas. É preciso fazer desaparecerem as razões para que seus cidadãos se sintam compelidos a fugir.
Sem clientes, os coiotes do Mediterrâneo teriam de mudar de ramo e as mortes durante a travessia seriam contidas. A mentalidade colonizadora do passado, comum em vários países europeus, deveria dar lugar a uma postura construtivista. Mas os governos de Líbia, Síria e outras nações fomentadores de imigrantes também precisam demonstrar boa vontade para colaborar com as autoridades europeias, sem se incomodar com possíveis transgressões à soberania. Ainda é possível salvar milhares de vidas e possibilitar que tantos cidadãos marcados pela guerra e pela fome reencontrem alguma esperança.
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