DISTRITO FEDERAL

Professor pode ter sido envenenado com chumbinho

O professor morreu na última terça após passar mal em escola, no Distrito Federal. A polícia já confirmou que ele foi envenenado

Reprodução

O professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, de 50 anos, enviou mensagens de áudio para o WhatsApp de uma amiga nos quais relatou passar mal após tomar um suco de uva oferecido por outra funcionária do Centro de Ensino Fundamental (CEF) 410 Norte, onde trabalhava. Em determinado momento, ele indagou: “Será que essa desgraçada me envenenou?”

A mensagem foi enviada pouco depois dele tomar o suco, na última sexta-feira (31). Logo após isso, o docente precisou ser socorrido ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e ficou internado em estado gravíssimoEle morreu na terça-feira (04).

Áudios enviados pelo professor enquanto ele passava mal:

Análise de peritos do Instituto de Medicina Legal (IML) e do Instituto de Criminalística (IC) confirmou que a morte do professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos, ocorreu por envenenamento. Essa, agora, se consolida como a principal linha de investigação da 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte).

Peritos da Polícia Civil estiveram no CEF na noite desta quarta-feira (05) para produzir novos laudos para auxiliar a investigação sobre a morte do professor Odailton Charles de Albuquerque Silva, 50 anos.

Diagnóstico médico indicou possível contaminação por organofosforado, substância presente em inseticidas, agrotóxicos e no veneno para rato conhecido como chumbinho.

O corpo do professor foi velado na manhã desta quinta-feira (06), na Igreja Adventista de Águas Claras. O sepultamento está marcado para as 16h, no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul.

Especialistas do Instituto de Criminalística (IC) estiveram na escola para analisar o funcionamento das câmeras do circuito interno de segurança. No entanto, elas não estariam operando no dia em que Odailton Charles sofreu o mal-estar.

Os peritos também elaborarão uma espécie de croqui estrutural, que será usado para definir o roteiro de dinâmica de como todo o caso ocorreu. Será apontado onde o professor tomou o suco, assim como os locais por onde ele passou no colégio até ser socorrido.

Desespero

Em depoimento na 2ª DP, a mulher do professor, Priscilla Santana de Lima Albuquerque, 39, relatou que Odailton Charles tinha ido à escola para conversar com uma colega de trabalho com quem mantinha uma relação conturbada desde o fim de 2019. A esposa também mostrou áudios de WhatsApp, nos quais o professor contou a colegas de trabalho que tinha passado mal após tomar um suco de uva oferecido por essa funcionária.

Priscilla disse que estava com a filha quando ligou para o celular do companheiro. Uma mulher atendeu o telefonema e informou que Odailton Charles estava passando mal e tinha sido encaminhado ao Hran. Ela descreveu que, quando chegou à unidade hospitalar, o professor estava “inconsciente, babava sem parar e se contorcia bastante”.

Após acompanhar Odailton Charles no Hran, Priscilla registrou um boletim de ocorrência na 2ª DP. Na delegacia, entregou uma bolsa térmica com gelo, onde estavam as roupas usadas pelo professor no momento em que ele passou mal. As vestimentas estavam umedecidas com o vômito e foram encaminhadas para análise no Instituto de Criminalística. Os áudios de WhatsApp também foram entregues para perícia.

De acordo com um dos professores que recebeu uma primeira mensagem de Odailton Charles, o docente relatou, no áudio, ter ficado desconfiado ao ganhar o suco da colega de trabalho. “O professor já tinha me dito que ia à escola resolver uma documentação e folhas de pontos. Ele estava me pedindo orientação e inclusive disse que tinha achado estranho ter recebido suco dessa pessoa com quem todos sabiam que ele tinha problema”, descreveu, sob condição de anonimato.

Pouco tempo depois, Odailton Charles teria entrado em contato novamente com o colega, se queixando de estar com dor de barriga. “Ele disse que estava no banheiro e que suspeitava que a funcionária teria colocado algo no suco dele. Pouco tempo depois, parou de responder as mensagens e não atendia minhas ligações”, contou.

O trabalhador reforçou que, logo em seguida, um segurança da unidade entrou em contato com ele e disse que Charles havia vomitado muito, tido convulsões e precisou ser levado ao hospital pelo Corpo de Bombeiros. “Ele era uma pessoa muito boa e amava aquela escola. Alguém cheio de planos”, lamentou.Continua depois da publicidade

Transferência 

Após a morte do professor, quatro funcionários do CEF 410 Norte teriam pedido transferência da unidade de ensino. A informação foi repassada ao Correio por um dos dois profissionais que conseguiram mudar o local do emprego. De acordo com um dos docentes, que preferiu manter a identidade em sigilo, colegas de Odailton Charles ficaram com medo após a morte dele.

“Professores que eram amigos dele pediram remanejamento. Ninguém quer ficar lá. Eu já comecei a trabalhar em outra unidade e outros três ainda estão tentando”, informou o funcionário. De acordo com ele, a expectativa dos colegas de trabalho é de conseguir a troca até o início do período letivo, na segunda-feira.
Uma outra professora, que também pediu anonimato, também relatou o pânico que a morte do Odailton Charles causou entre o quadro de funcionários. “Todos ficamos muito tristes, abalados e horrorizados com essa situação. Não dava para continuar na instituição sem sabermos o que ocorreu. Eu pedi a transferência na segunda-feira, antes mesmo de o Charles falecer”, revelou.

“Sair da escola (CEF 410 Norte) foi um alívio para mim. Passei a me sentir melhor mentalmente. Querendo ou não, situações como essas nos estremecem. O que todos esperamos, agora, é que a verdade do que ocorreu com o Charles seja revelada. Acredito muito no trabalho da polícia e sei que eles conseguirão elucidar esse caso”, destacou a servidora pública.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) para confirmar os pedidos de transferências dos professores do CEF 410 Norte. Entretanto, até o fechamento desta edição, não recebeu um posicionamento. Mais cedo, a pasta se limitou a informar que “irá aguardar as conclusões do inquérito policial para adotar as medidas que forem cabíveis ao caso.”

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