Francisco Oliveira: um amor definido nas lentes das câmeras
Com pouco mais de 8 anos de carreira, Francisco Oliveira guarda um grande talento com as câmeras. Recém chegado da Índia, Francisco conversou com O Imparcial sobre carreira e a arte da fotografia
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade…
Vinícius de Moraes
Amor. Palavra composta por quatro letras. Quando juntas, seu significado extrapola a imaginação do ser. Muitas vezes esse sentimento acaba passando despercebido pela monotonia do dia a dia, mas a construção dele é um processo complexo. Quando esse amor é cultivado desde criança, o apreço pelas coisas é bem maior e mais fácil de ser percebido.
Francisco Oliveira sabe bem o que esse sentimento representa. Com uma tatuagem em letra cursiva leva as inscrições da palavra para onde quer que ele vá. Os dizeres “Mãe eu te amo” declara ao mundo amor incondicional a pessoa que lhe ensinou o poder de registrar os melhores momentos. “Minha mãe fotografava a gente desde criança. Lembro minha mãe com uma câmera boa fotografando a gente nessa infância do sítio e eu posando para foto”, conta Oliveira.
Natural de Caxias, Francisco teve uma infância feliz. “Fui criado em sítio. Vivia subindo em árvore, jogando bola”, lembra o fotografo. Aos 11 anos, sua vida teve uma mudança brusca: morar em São Luís. A distância de pouco mais de 361 km, trouxe ao adolescente uma nova vida. “Quando cheguei aqui, morava próximo a um campinho no Renascença. Todos os dias estava lá, me sentia bem. Consegui fazer muitos amigos dessa época”, recorda.
Desenho de um sol amarelo
“Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu”
Vinícius de Moraes
Quando Vinícius de Moraes escreveu os poemas da Arca de Noé convidava todos a embarcar em uma viagem pela liberdade da infância. Um sentimento que segundo Francisco Oliveira pode ser considerado o início da carreira.
“Quando eu era criança eu tinha um primo que desenhava muito bem. Foi o primeiro momento que eu me deparei com o que era realmente talento”, lembra Francisco. Segundo ele, o estilo de vida do primo e o talento fizeram para que passasse a desenhar. Aos poucos ele foi se tornando uma criança diferente. Enquanto os outros meninos se interessavam pela bola, o mundo artístico tomava a atenção. “Eu via muita novela, muito filme”, comenta.
Para ele o desenho possibilitou a construção do repertório amplo. Como os renascentistas, Francisco foi aprendendo a cada rabiscada a importância do claro e o escuro para a construção da imagem. “Eu não sabia por que gostava tanto de novelas e filmes. Acho que já deveria estar vendo a luz”, brinca o Francisco.
Mas foi no Rio de Janeiro das novelas que Francisco Oliveira percebeu seu talento. “Eu não sabia nem ligar um câmera. Mas quando chegou ao Rio e começo a fotografar, naquele momento descubro que já sabia fotografar”, afirma. As imagens dessa época eram direcionadas pelo amor que Oliveira tem pelos folhetins. Cada ponto capitado pelas câmeras era um local consagrado pelos maiores nomes da teledramaturgia nacional.
O fotógrafo lembra que foi durante a viagem, que pode acompanhar um dia der gravação. “Olha como as coisas vão se encaminhando para onde a gente quer chegar. Eu vejo uma gravação e fico ali olhando durante horas aquilo”, conta. Para Francisco Oliveira foi um verdadeiro encanto poder acompanhar todo o processo de produção de uma cena e o número de profissionais envolvidos. “Lembro que tinha dois atores e a equipe era mais ou menos umas 40 pessoas em volta. Era tanta gente trabalhando da equipe que pouco dava para olhar a cena”, comenta.
O Observador
“De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.”
Vinícius de Moraes
“Essa luz está em 45º; tem uma principal; e um recorte lá”, repara Francisco em sua mente. Sentado em frente a câmera, o vídeo é montado rapidamente sem sua mente. Não demora muito para que ele pergunte se essa era a iluminação ideal.
Para o jovem profissional, a análise do espaço é uma necessidade do fotógrafo. “Um estudante de fotografia tem que primeiro entender o espaço sem a câmera no olho. Ele deve sentir e vivenciar aquilo que fotografa”, pondera Francisco Oliveira . Esse exercício banal, à primeira vista, é fundamental para conquistar o melhor ângulo e forma de fotografar. “O cara que é fotografo tira poucas fotos porque já imaginou muito antes como pode realizar aquela mulher”, provoca.
Francisco, que é um fotógrafo dos anos 2000, ressalta que a popularização das câmeras de celulares facilitou a perda do olhar contemplativo. “Hoje em dia as pessoas estão muito a foto. Elas já não olham mais, não contemplam mais”, critica. Segundo ele, as melhores fotos foram aquelas que ele não tirou.
Esse carinho especial construção da imagem fotográfica, revela o amor inconstitucional que o fotógrafo tem por eternizar bons momentos. “Eu vivo meu trabalho muito intensamente. Parece um caldeirão que tá a todo momento borbulhando na minha cabeça. Passo noites sem dormir pensando como irei fazer a fotografia de amanhã”, confessa o jovem.
“Para ser um bom fotógrafo você tem que amar estar em contato com as pessoas, com a natureza. Um fotógrafo tem que ter as sensações. Tem que admirar primeiro uma paisagem, se emocionar, para depois saber o que irá enquadrar”, aconselha.