SAÚDE E BEM ESTAR

Ciência revela que apêndice pode não ser tão inútil quanto se pensava

Presença do órgão pode estar relacionada a uma maior longevidade

Apêndice têm ligação com equilíbrio intestinal e o cérebro.(Foto: Reprodução)

Durante séculos, o apêndice, órgão de forma cilíndrica com cerca de 10 cm conectado à primeira parte do intestino grosso, foi um enigma. Em seu livro sobre a teoria da evolução, em 1871, Charles Darwin propôs a hipótese de que o apêndice não tinha nenhuma função, sendo um órgão remanescente que perdeu sua razão de ser “como consequência de mudanças na dieta ou nos hábitos”, versão mais difundida nas escolas.

Já em meados do século 20, a ideia mais propagada é de que o apêndice não serve para nada além do que se inflamar e colocar a vida em risco por meio da apendicite. E, no século 21, os cientistas têm descoberto que esse órgão está longe de ser apenas um pedaço em excesso.

Protetor do intestino

Em 2007, uma equipe do Centro Médico da Universidade Duke fez um grande avanço quando descobriu que o apêndice tinha uma rica biopelícula. Trata-se de uma capa de bactérias benéficas, das que vivem em nosso intestino, formam nossa flora e ajudam a extrair energia e nutrientes dos alimentos. Além disso, quando elas digerem fibra, produzem ácidos graxos de cadeia curta que podem ir para a corrente sanguínea e proteger o cérebro.

Foto: Reprodução/Tua Saúde.

O misterioso e desdenhado órgão passou então a ser visto como um reservatório dessas bactérias, prontas para repovoar o intestino quando as perdemos em episódios de diarreia por exemplo. Darwin nunca poderia ter imaginado essa função, já que a existência do microbioma humano só foi descoberta bem depois da sua.

O apêndice e a Teoria da Evolução

“Darwin estava errado (ao supor) que o apêndice fosse vestigial”, explicou à BBC Heather Smith, professora de anatomia na Universidade Midwestern, no Arizona (EUA), que esclarece: “Isso não significa que ele estivesse errado quanto às teorias da seleção natural e da nossa compreensão da adaptação.”

Em 2017, Smith e seus colegas decidiram comparar o apêndice humano com o de 533 espécies de mamíferos. Revelando uma história de mais de 80 milhões de anos, construíram uma espécie de grande árvore genealógica dos mamíferos, com a qual é possível mapear dados e estimar quantas vezes as espécies evoluíram em uma característica em particular – neste caso, no apêndice.

“Determinamos que o apêndice evoluiu ao redor de 30 vezes ao longo da evolução dos mamíferos, e isso implica que ele cumpre uma função importante, caso contrário não seguiria aparecendo na evolução.”

Ligação com o cérebro

Agora, o apêndice é foco de estudos que tentam compreender melhor sua função. Um deles, publicado em julho de 2021 por pesquisadores do Inserm e do Museu Francês de História Natural e inspirado pela grande árvore genealógica da equipe de Smith, analisou dados em 258 espécies de mamíferos e viu que a presença do apêndice pode estar relacionada a uma maior longevidade.

O papel da microbioma do cérebro tem sido cada vez mais investigado pela ciência. (Foto: Reprodução)

As pesquisas ainda são ambíguas, mas segundo o professor John Cryan, da Universidade de Cork (Irlanda), “uma coisa é clara: não podemos ignorar o apêndice no que diz respeito à sinalização entre cérebro e intestino”, afirma.

Apendicite

Mas existem casos em que realmente não podemos manter nosso apêndice. Embora um número crescente de estudos tenha apontado que, em casos de apendicite não grave, seja possível tratar a infecção com antibióticos (evitando uma cirurgia de extração do apêndice), essa ainda não é considerada uma opção segura.

Um apêndice perfurado, canceroso ou gravemente machucado é uma emergência médica grave com consequências potencialmente fatais, por isso precisa ser extirpado. Já está comprovado que podemos viver uma vida plena e feliz sem o órgão, e nada indica que a cirurgia de remoção afete a longevidade.

A apendicite na juventude – tratada com a cirurgia de remoção – é tida como benéfica, por fortalecer uma educação do sistema imunológico que o permita combater infecções posteriores com eficiência.

* Com informações da BBC Brasil, via Correio Braziliense

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