MARIA DOS REMÉDIOS

“O sistema de saúde entrará em colapso”, diz infectologista

Em coletiva realizada no último dia 12, o governador Flávio Dino descartou medidas mais extremas como lockdown no estado

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Em comparação com os primeiros dias de janeiro, os casos de Covid-19 até então duplicaram no Maranhão, passando de 5 mil casos ativos para 10.913 até o último dia 11. Também no dia 11, o estado registrou 838 novos casos e 34 mortes por Covid-19, segundo os dados epidemiológicos da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Até então o estado já registrou  226.172 casos confirmados e 5.413 vidas perdidas por causa da doença.

Em coletiva realizada no último dia 12, o governador Flávio Dino descartou medidas mais extremas como lockdown no estado, emitindo um decreto que suspende atividades de bares e restaurantes no período de 15  a 21 de março, além de manter as medidas do decreto anterior referentes a horários de estabelecimentos comerciais e suspensão das aulas. Porém, para especialistas, o momento pede  atitudes mais rígidas.

A médica infectologista Maria dos Remédios Branco, a pedido de O Imparcial, deu sua opinião sobre  a situação no estado. “Percebe-se, especialmente desde o início de janeiro deste ano, o aumento considerável do número de casos e de óbitos por Covid-19. Isso é bastante evidente quando se olha para os dados publicados pelos hospitais privados, pela cobertura da imprensa e pelo que acontece ao nosso redor com nossos familiares, amigos e conhecidos. Entretanto, os dados da vigilância epidemiológica da SES/MA são muito ruins devido à baixa testagem de casos (na rede pública são testados apenas os casos graves, internados e os profissionais de saúde), ao atraso de semanas e de até meses na notificação de casos e óbitos. Isso é lamentável, porque os dados da vigilância epidemiológica não conseguem mostrar o que acontece em tempo real”, disse.

De acordo com a especialista, o grupo de modelagem da Universidade Federal do Maranhão, que é ligado ao Observatório COVID vem analisando os dados públicos disponibilizados pela SES/MA e fazendo projeções sobre o que pode acontecer aqui em São Luís. “As análises mostram que estamos vivendo a segunda onda com aumento rápido do número de casos. Adicionalmente, as projeções baseadas no número de internações clínicas e em UTI mostram que a curva de internação em leitos clínicos vem aumentando de forma exponencial e que a curva de internação em UTI está estável, significando que estamos tendo muito óbitos”, acrescentou.

O Maranhão passou da situação estável de 3 a 4 óbitos por dia, para 30, por exemplo, o que deixou o estado dentre os que mais estão com crescimento de óbitos por Covi-19 no país.  O dado positivo, é que o estado continua entre os  que tem a menor taxa de letalidade do Brasil, de 2,39.

Para Maria dos Remédios, seria o momento de fazer o confinamento total da população, o lockdown. “Porque se as pessoas não se deslocam, o vírus também não circula. Embora a SES/MA e os hospitais privados venham aumentando o número de leitos de UTI, as taxas de ocupação permanecem muito altas, indicando que em algum momento a capacidade dos hospitais em aumentarem o número de leitos de UTI vai se esgotar. Em outras palavras, o sistema de saúde entrará em colapso como já estamos vendo em alguns municípios do país. Está comprovado que o confinamento da população e a vacinação em massa são capazes de conter a circulação do vírus. Ainda que a vacinação no país esteja muito lenta, já é possível perceber a queda de internação entre os idosos já vacinados”.

Imunização – Sobre a eficácia da vacina contra a nova variante do vírus, a médica diz que artigos especializados têm comprovado que sim, mas que quanto mais o vírus circula, maior a possibilidade de aparecerem mais mutações e das vacinas se tornarem ineficazes contra as novas cepas. “Então, todo esforço deve ser feito para diminuir a circulação do vírus. Essa variante, a P1, é 2,5 vezes mais transmissível e produz uma carga viral 10 vezes superior à cepa que circulou no ano passado no país. A alta carga viral está relacionada a maior gravidade, por isso temos visto o aumento no número de internações hospitalares e em UTI. Outro dado preocupante é o aumento do número de casos graves e de óbitos de menores de 50 anos de idade sem comorbidades, o que pode estar relacionado à exposição a maior carga viral em aglomerações e no ambiente de trabalho, já que são pessoas na fase ativa da vida”, disse.

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