SAÚDE

Alcoolismo cresce durante a pandemia no Maranhão

Segundo a associação Alcoólicos Anônimos do Brasil (AA Brasil) os pedidos diários de auxílio para parar de beber praticamente triplicaram neste período

Reprodução

O incentivo ao uso de bebidas alcoólicas é grande e é proporcional ao estímulo feito em redes sociais, nas mídias como um todo, muito em função das lives que tem ocorrido frequentemente nesse período de distanciamento social. Mas não é só isso. Resguardados em casa, por causa da pandemia, o conhecido “só uma cervejinha” se tornou hábito.

E esse hábito, para quem tem tendência a ser dependente químico, é um risco. Seja para fugir de algum problema, por diversão, ou por algum transtorno de saúde, o abuso de bebida alcoólica tem sérios agravantes.

“A gente tem tentado convencer ele a pedir ajuda naquele grupo de Alcoólicos Anônimos. Mas ele diz que não precisa, e que isso é besteira”, comenta a comerciária que quis se identificar apenas como Ana Maria. Ela é irmã de Pedro (nome que ela atribuiu), de 39 anos. E ela disse que ele bebe desde que tinha 15 anos, quando eles moravam no interior, em um povoado perto de Anajatuba. Com o isolamento social, o consumo de bebidas por ele aumentou. “Ele trabalhava de pedreiro. Aí parou o serviço e todo dia era dia de beber. A nossa sorte é que ele não é agressivo, mas já perdeu empregos por isso, e quando começa não quer mais parar”, contou.

A gente tem tentado convencer ele a pedir ajuda naquele grupo de Alcoólicos Anônimos

No caso de Pedro, que já tem o hábito de beber, o consumo aumentou mais ainda. Para outras pessoas, isso acabou sendo uma válvula de escape.

Segundo a associação Alcoólicos Anônimos do Brasil (AA Brasil) os pedidos diários de auxílio para parar de beber praticamente triplicaram neste período, passando de 4 a 6 para 10 e 15. Aqui no Maranhão, embora o Comitê Trabalhando com os Outros (CTO) não tenha os números com precisão, houve também registro de aumento.

Para atender à nova demanda em meio ao isolamento social, o AA procurou se adaptar. As videoconferências já existentes migraram para nova plataforma, a fim de possibilitar a adesão de mais pessoas durante as reuniões.

De acordo com Elenildo, responsável pelo CTO no Maranhão, e membro do AA da área 16, há 23 anos, a busca pelo atendimento remoto, uma vez que as reuniões presenciais estão suspensas, tem sido expressiva. “Foi um período de descobertas Nossos grupos presenciais foram fechados cumpridos com as normas dos órgãos de saúde, mas tivermos um avanço muito interessante, porque as nossas reuniões continuam virtualmente, tanto no caso de recuperações de pessoas que já estavam conosco, quanto de visitantes, aquelas pessoas que ainda não tinham tido a oportunidade de ir aos nossos grupos”, disse Elenildo.

No ponto de vista dele, o acesso à tecnologia para as reuniões virtuais aproximou essas pessoas, que por um motivo ou outro, ainda tinham alguma resistência em participar dos grupos de Alcoólicos Anônimos. “O problema do alcoolismo atingiu um número muito grande de pessoas acomodadas em casa e isso fez com que as reuniões online atraíssem essas pessoas no nosso site oficial do AA. E elas aceitaram ingressar no grupo, coisa que para gente era algo que ainda não se tinha visto nessa proporção. As pessoas tinham a timidez de ir, e através do virtual elas começaram a se interessar. Adolescentes, jovens, adultos, homens, mulheres, nossas reuniões são muito visitadas”, disse Elenildo.

Outra observação que Elenildo destaca é quanto à participação de mulheres nas reuniões do AA.

“Talvez por elas estarem mais tempo em casa, convivendo com outras pessoas que já tem o vício. Outro exemplo é que muitas mulheres que tiveram redução de peso, ou fizeram cirurgia bariátrica, sentiram, em algum momento, a necessidade de buscar substituição para a comida e cobriram essa falta em cima da bebida. E essas mulheres se tornaram dependentes do álcool. Aí você vê que o lance do alcoolismo não atinge qualquer pessoa, a doença ela é crônica”, completou.

No Maranhão há 70 anos, o Alcoólicos Anônimos tem 96 grupos registrados e 4 em experiência.

Na capital são 46 grupos.  Há pelo menos 3 mil pessoas em São Luís ingressos no grupo, e que frequentam assiduamente são cerca de 1.300. No Brasil são mais de 4.676 grupos.

“O alcoolismo é uma doença incurável que não atinge só o alcoólatra. Adoece tanto o dependente, quanto o familiar. Em alguns pontos a família adoece primeiro do que o próprio alcóolatra, porque quando ele chega ou sai de casa a preocupação fica, e atinge todos os que estão ao redor, por isso que a doença atinge todo mundo. O AA é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas próprias esperanças. Nós recebemos todo mundo. Não perguntamos quem está com problema, quem não está. Eu por exemplo, admiti que poderia ir em busca do Alcóolicos Anônimos, aceitando os 12 passos para recuperação”, disse Elenildo.

Quem estiver necessitando de ajuda pode buscar, aqui em São Luís, informações pelo telefone: 3222-4050, ou pelo site alcoolicosanonimos.org.br, que tem uma plataforma exclusiva para atendimento on-line, videoconferências e reuniões virtuais. Também aqui no estado as reuniões têm se mantido de forma virtual, tanto por conferências, quanto por aplicativos de mensagens.

Recomendação da OMS
Ciente do aumento do consumo de bebidas alcoólicas, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) orientou países a restringir venda de bebidas na pandemia. Foi no mês de abril, em que o órgão chegou a emitir um comunicado pedindo aos governos que limitasse o acesso a bebidas alcoólicas, alertando que o abuso do álcool durante o isolamento pode acarretar consequências graves, inclusive o aumento da violência doméstica.

Estudos mostram que o consumo de álcool tem influência negativa no sistema imune, tornando o organismo mais vulnerável a infecções por bactérias e vírus. Além disso, o álcool colabora para a ocorrência de depressão, ansiedade e violência doméstica, que podem ser mais frequentes durante o isolamento.

O uso constante, descontrolado e progressivo de bebidas alcoólicas pode comprometer seriamente o bom funcionamento do organismo, levando a consequências irreversíveis, com prejuízos não apenas para a própria vida, mas impactando no ambiente familiar, e na vida profissional e social.

O médico psiquiatra, Ruy Palhano, comentou que dentre os sintomas de sofrimento mental que podem ocorrer durante um período como esse, principalmente para quem já tem problemas com a saúde mental, está o transtorno de ansiedade, favorecido pelo consumo do  álcool, especialmente nesse período. ”Hoje já se sabe que a população brasileira e a população mundial estão consumindo bebida alcoólica de todos os tipos, tanto fermentada quanto destiladas e em grandes quantidades”, disse o médico.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo excessivo de álcool durante a quarentena, pode provocar sérios danos, além de debilitar mais o organismo de uma pessoa acometida pela Covid-19.

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