ESTIMATIVAS

Vem aí a segunda onda do coronavírus no Maranhão, alertam especialistas

Muitos infectologistas já falam sobre uma possível segunda onda, em decorrência da flexibilização das regras de isolamento e da falta de comprometimento da população

Reprodução

Quando Raíssa Azulay, 37, recebeu o resultado do exame que atestava positivo para a Covid-19, uma nova realidade surgiu na sua frente. A servidora pública, que foi o segundo caso confirmado no Maranhão, não apresentava os sintomas graves da doença, e até chegou a cogitar que a dor que sentia no corpo estava relacionada com os rins. Porém, após descartar outros tipos de infecções, ela realizou o teste para Covid-19, e, para sua surpresa, estava infectada.

“Quando eu descobri que estava com o vírus foi bem complicado, principalmente por não ter conhecimento sobre a doença. Como era tudo muito novo, até os hospitais ainda estavam inseguros em relação ao tratamento, mas, felizmente, deu tudo certo”, conta a servidora pública que não precisou ficar internada. ” Eu não sei como peguei o vírus, já que ainda não havia casos confirmados aqui em São Luís, mas provavelmente tenha sido através do contato com uma pessoa assintomática ou com uma superfície contaminada”, supõe.

Raíssa Azulay foi o segundo caso confirmado no Maranhão e não apresentava os sintomas graves da doença

Hoje, quase três meses após a segunda confirmação de coronavírus no estado, o Maranhão já apresenta 43.313 casos confirmados e 1.095 óbitos, de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Ainda de acordo com o boletim divulgado, 213 municípios apresentam casos da Covid-19, sendo São Luís a cidade com o maior número de infectados, 9.935.

Poucos testes

Para o médico epidemiologista, Antônio Augusto Silva, os números só não são maiores, pois poucos testes estão sendo aplicados na população, situação que atrapalha a real análise  do cenário e que compromete a saúde pública.

“A Covid-19 está em ascensão no Maranhão, especialmente no interior do estado. Houve uma redução de casos e óbitos em São Luís nos últimos dias. Entretanto, como estamos testando muito pouco, temos um conhecimento precário da dinâmica da infecção, pois estamos enxergando apenas os casos notificados, que são os casos mais graves. Nesta semana, foram testados 66.717 pessoas, das quais 61% atestaram positivas. Ou seja, só estamos examinando quem tem uma probabilidade muito alta de doença”, explica o especialista.

Médico epidemiologista Antônio Augusto Silva acredita que a falta de testes pode esconder números de contágios maiores

Curva de contágio

A curva de contágio, ferramenta utilizada para indicar o número de novas pessoas infectadas pelo vírus, continua subindo no estado. No mês de maio, por uma determinação judicial, foi instaurado o lockdown na capital, medida que visava achatar a curva epidêmica e que chegou ao fim após 12 dias. Porém, apesar de ter surtido efeito por um tempo, os índices continuam altos.

“A probabilidade de contágio neste momento ainda é muito alta. Sair de casa representa grande risco de contrair a doença, pois neste momento o vírus está se multiplicando em aproximadamente 180 mil maranhenses, ou seja, 2,5% da população”, informa Antônio Augusto.

Segunda onda

Apesar do Maranhão ainda estar na primeira onda de casos do novo coronavírus, muitos infectologistas já falam sobre uma possível segunda onda, em decorrência da flexibilização das regras de isolamento e da falta de comprometimento da população com as medidas de proteção. Fatores que, unidos a inexistência de uma vacina contra a doença, prolongam a pandemia.

“Ainda não conseguimos controlar a primeira onda. Quando ela passar, uma segunda onda será inevitável. Por isso, até a criação de uma vacina, não teremos vida normal. Teremos, forçosamente, que nos adaptar ao que se tem chamado de novo normal. No novo normal, só sairemos de casa usando máscaras, adotando todos os cuidados de higiene das mãos e mantendo uma distância segura das pessoas. As atividades que envolvem aglomeração deverão ser evitadas, pois, nessas situações, o risco de contágio é muito elevado. Só devemos sair de casa para o essencial, como trabalho, compra de alimentos e outros bens indispensáveis”, afirma Antônio Augusto Silva.

Infectologista Maria dos Remédios Carvalho defendo que isolamento é uma das melhores formas de combate à doença

Para a infectologista Maria dos Remédios Carvalho, o isolamento social é a melhor opção para evitar o contágio, até mesmo para quem já foi contaminado, pois ainda não se sabe se o paciente fica imune ao vírus.

“A princípio, a pessoa se cura e não se contamina mais pela Covid-19 por algum tempo. Não se sabe se essa proteção será permanente ou transitória por alguns meses ou anos. Como a doença é nova, só saberemos a duração dessa proteção ao decorrer dos dias”, destaca a especialista.

Isolamento e cuidado

Até que uma vacina seja criada, a melhor forma de evitar o contágio da Covid-19 é manter as medidas de segurança, como usar máscara, álcool em gel e, principalmente, seguir em quarentena, como recomenda Maria dos Remédios.

“Cada pessoa é capaz de transmitir o vírus para outras três pessoas. E como não tem vacina, a maneira mais efetiva de prevenir a transmissão é o isolamento social. Se o indivíduo não entra em contato com outras pessoas, ele não tem chance de se contaminar”, explica a médica.

E são essas precauções que Raíssa Azulay continua seguindo para evitar que outras pessoas passem pela mesma situação que vivenciou.

“A sensação de estar curada é um alívio, ainda mais por conhecer pessoas que perderam entes queridos por causa da doença. Agora, é preciso continuar seguindo a quarentena, para que não sejamos vetor do vírus”, afirma.

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