CORONAVÍRUS

Covid: Após anunciar estabilização, Ministério da Saúde vê curva disparar

Ao ser questionado se houve um erro ou precipitação na avaliação de que o país estaria entrando em uma fase de alinhamento da curva, o secretário de Vigilância justificou: ”A cada semana a gente vai analisando os casos. É uma doença que a gente vai aprendendo com ela”

Secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia. (foto: Reprodução/ Youtube)

Ao contrário do que acreditava o Ministério da Saúde, a tendência de estabilização na curva de casos e mortes por covid-19 no Brasil não se concretizou. Com a nova avaliação em cima do fechamento da semana epidemiológica 25, a percepção foi de que o país não vive um momento de tranquilidade. “A gente vê que nessa semana tivemos um aumento significativo de casos novos”, avaliou o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia. 

Ao ser questionado se houve um erro ou precipitação na avaliação de que o país estaria entrando em uma fase de alinhamento da curva, o secretário de Vigilância justificou: “A cada semana a gente vai analisando os casos. É uma doença que a gente vai aprendendo com ela.”

A mesma divergência ocorreu em relação aos óbitos, inclusive com um novo recorde de registros semanais, contabilizando mais 7.256 mortes. Anteriormente, a semana 23 era a mais fatal, com 7.096 perdas. 

“Até semana 24 nos parecia que havia um platô, por assim dizer, em relação ao crescimento no número de óbitos. Houve um aumento. Mas, quando você compara a inclinação do crescimento de casos novos com o crescimento do número de óbitos entre 24ª e a 25ª semana, a gente verifica que, na verdade, o número de óbitos foi muito menor em termos de inclinação, agressividade quando compara com o número de novos casos confirmados de covid”, afirmou Correia. 

A justificativa dada pelos técnicos para que ocorresse um novo salto foi o comportamento climático no Brasil. “Estamos vivendo agora uma transição entre estações. O início do inverno na região Sul e Centro-Oeste coincidiu com o aumento do número de casos notificados e confirmados de covid nessas regiões. Então a gente imagina que, aliado a isso tudo, a transição epidemiológica está ocorrendo no Brasil”, explicou o diretor do departamento de análise em Saúde e Vigilância, Eduardo Macário. 

O secretário-executivo, Élcio Franco, completou: “Cabe considerar também que é no Sudeste e no Sul onde temos a maior densidade populacional do país. Como agora está começando a incidência mais forte da curva epidemiológica nessas regiões, a quantidade de casos também começa subir de maneira mais significativa.”

Regiões 

A única região que apresentou redução no número de casos e óbitos pela covid-19 da 24ª semana epidemiológica para a 25ª foi a região Norte. Já no Nordeste, a pasta observou uma redução no número de óbitos, mas o número de casos aumentou de uma semana para outra. No Sudeste, o aumento de casos e óbitos de uma semana para a outra foi vista no Rio de Janeiro e São Paulo, os dois estados com mais infectados e mortes no Brasil. E no Sul a tendência de crescimento também foi constatada. 

O Centro-Oeste foi a região que teve o maior aumento de infectados e óbitos entre a 24ª semana epidemiológica e a 25ª. Houve aumento de 98% do número de casos e 59% do número de mortes pela covid-19. Na última semana epidemiológica concluída, a 25, todos os quatro estados da região tiveram recorde de novos casos de covid-19 em comparação com as semanas anteriores. 

Até o momento, 4.937 dos municípios do Brasil, ou seja, 88,6%, têm pelo menos um caso de covid-19 registrado. Quando o recorte são as cidades que já confirmaram óbitos pela doença a porcentagem cai, mas ainda chama atenção. Quase metade dos munícipios, 42,6%, já confirmaram uma morte. 

Flexibilização

Ao contrário da justificativa do Ministério da Saúde para o aumento de casos, especialistas acreditam que a tendência da flexibilização é ponto central para explicar o fenômeno. 

“Observamos uma sequência de flexibilizações justamente em um período que a epidemia está crescendo. E isso reflete no aumento de casos e mortes muito mais do que fatores como diferenças climáticas. O vírus ganha espaço para se interiorizar devido a questões econômicas e políticas, sobretudo pela falta de uma coordenação nacional”, afirma o pesquisador José Alexandre Diniz Filho, professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás (UFG). 

O virologista da Dasa, empresa de diagnóstico do grupo do laboratório Exame, José Eduardo Levi, critica a flexibilização feita em um momento com números da doença no país em um “alto patamar”. “Fizemos uma flexibilização em um momento ainda muito alto de circulação do vírus, onde registramos 1.200 mortes por dia. Ninguém fez flexibilização nesse patamar”, ressalta.   

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