Sem isolamento social, Brasil corre o risco de ficar sem UTI em julho
Quatro dos seis estados com mais de mil mortes por covid-19 possuem taxa de ocupação dos leitos de emergência acima dos 80%
O Brasil bateu recorde de número de casos do novo coronavírus em 24 horas. Segundo o balanço do Ministério da Saúde, ontem, 26.417 registros foram computados pelos estados. Com isso, o país totaliza 438.238 infectados pela covid-19. A pasta também registrou mais 1.156 mortes. Ao todo, foram 26.754 vidas perdidas. A situação das UTIs agrava o cenário. Quatro dos seis estados que têm mais de mil mortes pela doença possuem taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva acima de 80%. São eles: Rio de Janeiro, Pará, Ceará e Pernambuco. Sem isolamento social, a previsão é de que o Brasil fique sem UTI na primeira semana de julho, exigindo uma demanda 46 vezes maior do que a oferta atual para atender a infectados pela covid-19. Neste cenário, a data estimada para um pico de casos no Brasil seria 2 de julho.
O cálculo, feito por meio de uma calculadora desenvolvida por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) com apoio da Organização Panamericana de Saúde (Opas/OMS), usa dados de casos confirmados de covid-19 pelos órgãos oficiais de saúde brasileiros e de quantidade de leitos registrados na plataforma do Ministério da Saúde voltada para o combate à pandemia. Os parâmetros de entrada assumem uma taxa de ocupação de 74% e 14.924 leitos disponíveis.
Segundo as estimativas, serão necessárias 678.182 UTIs no auge da demanda, caso não haja capacitação de novos leitos e adoção de estratégias para diminuir a circulação do vírus. Considerando média de 50% de isolamento social, a partir de agora, durante 70 dias, o Brasil pode ficar sem leitos com respiradores na primeira semana de agosto.
Além de adiar o pico, a medida diminuiria a demanda, que seria de 76.211 novas UTIs, ou seja, seis vezes mais do que a oferta atual. Este cenário prevê que 150 de cada 100 mil habitantes morreriam no surto. O número corresponde a 1,49% de todos que ficaram doentes. O modelo também indica que 21,36% dos brasileiros serão infectados pelo vírus, mas apenas 53,28% destes desenvolverão sintomas visíveis.
A média de ocupação de leitos de UTI destinados a pacientes com covid ultrapassa a taxa de 70% no país. Em alguns casos, a situação é mais grave. Em Pernambuco, 96% dos leitos reservados para tratar casos críticos com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) estão ocupados. Mesmo assim, 190 pessoas aguardam na fila por uma vaga em UTI. A condição é semelhante no Ceará, onde 91% dos leitos estão preenchidos.
Considerando não só os leitos específicos para coronavírus, mas, sim, toda a rede de saúde estadual do Rio de Janeiro, a taxa de ocupação dos leitos de emergência já está em 86%, deixando mais de 220 pacientes suspeitos no aguardo por uma vaga. No Pará, 84.36% dos leitos de UTI adulto reservados para pacientes com a doença estão preenchidos.
São Paulo e Amazonas são os únicos estados com mais de mil mortes com mais de 20% dos leitos desocupados. Em São Paulo, epicentro da doença no Brasil, 77,4% dos pacientes estão internados. Segundo o governo paulista, o número leitos de UTI no estado dobrou. Outro ponto que ajudou a desafogar a rede de saúde foi a abertura de sete hospitais de campanha: quatro na capital e três no interior.
Rumo ao quarto lugar
Com mais de mil mortes diárias sendo confirmadas consecutivamente nos últimos dias, a previsão é de que o Brasil, que soma 26.417, ultrapasse, hoje, o número de óbitos da Espanha, 27.119, chegando ao quinto lugar no ranking mundial contabilizado pela universidade Johns Hopkins. A diferença entre as duas nações é de 702 óbitos. O Brasil também pode tomar a quarta posição da França nos próximos dias. Em fase de diminuição da curva, os franceses têm 28.665 mortes.
Um dia após anunciar a reabertura econômica, São Paulo bateu um novo recorde e registrou 6.382 casos de covid-19 em 24 horas, ontem. A covid-19 matou 6.980 pessoas e infectou 95.865 no estado. Além de SP, outros cinco estados já bateram as mil mortes. São eles: Rio de Janeiro (4.856), Pará (2.704), Ceará (2.733), Pernambuco (2.566) e Amazonas (1.964). Juntos, somam 21.803 óbitos, ou seja, 81,4% de todas as mortes confirmadas no país.