Pesquisa identifica ponto fraco do coronavírus que pode ser explorado
Ao estudar as alterações provocadas em células, cientistas alemães encontraram vulnerabilidade do Sars-CoV-2. Substâncias existentes estão em teste em humanos
O aparentemente invencível Sars-CoV-2, causador da covid-19, também tem seus pontos fracos. Para conhecê-los, pesquisadores da Universidade Goethe e do Hospital Universitário de Frankfurt, ambos na Alemanha, fizeram observações detalhadas do processo pelo qual o vírus infecta as células humanas. Eles descobriram brechas que podem ser alvo de medicamentos já existentes. Em um artigo publicado na revista Nature, os autores relatam que uma empresa canadense iniciou testes clínicos baseados no resultado do estudo. Outra companhia, norte-americana, também prepara os primeiros ensaios em seres humanos.
No início de fevereiro, antes de a covid-19 ser considerada uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), virólogos da Universidade de Frankfurt começaram a cultivar células infectadas pelo Sars-Cov-2 para estudá-las. A primeira linhagem foi produzida a partir de amostras retiradas do cólon de indivíduos infectados em Wuhan, cidade chinesa considerada o berço do novo coronavírus.
Poucos meses antes, a Universidade de Goethe havia desenvolvido uma técnica baseada em espectrometria de massa, capaz de calcular a taxa da síntese de proteína dentro de uma célula. Usando esse método, as duas instituições passaram a estudar, em detalhes, como o micro-organismo altera os processos naturais celulares para benefício próprio.
Assim, os pesquisadores conseguiram visualizar a progressão da infecção por Sars-CoV-2. E, dessa forma, descobriram os pontos fracos. De acordo com os pesquisadores, ao entrar no organismo do hospedeiro, os micro-organismos usam o maquinário das células para se reproduzirem. A maioria dos vírus, ao fazer isso, “fecha a fábrica” de proteínas do infectado, em benefício próprio. Contudo, o novo coronavírus não age assim.
O estudo mostrou que, quando a célula é infectada pelo Sars-CoV-2, ela continua produzindo suas proteínas, embora, agora, também as virais. Com esse conhecimento, os pesquisadores conseguiram reduzir significativamente a reprodução do micro-organismo, usando substâncias conhecidas como inibidores da tradução, que interromperam a produção de proteínas do coronavírus. Outra molécula, que impede a produção dos blocos construtores do RNA viral, também foi capaz de brecar a multiplicação do Sars-CoV-2. Antes de publicar o estudo na Nature, os pesquisadores disponibilizaram o manuscrito on-line à comunidade científica, uma prática comum desde o início da pandemia. Com isso, companhias interessadas em produzir medicamentos contra a covid-19 começam a usar os resultados em estudos.