Automedicação na pandemia vira problema
Data alerta a população sobre a importância de se usar adequadamente o medicamento e ressalta os riscos à saúde causados pela automedicação
A Covid-19 não tem remédio ainda, não tem vacina, e as medidas preventivas mais recomendadas são a higienização frequente das mãos e o isolamento. Porém, com o crescente contágio e o surgimento de novos casos em todo o país, cresce também a prática da automedicação preventiva ou de tratamento da Covid-19 sem a prescrição de um profissional da área. A automedicação é contraindicada por médicos e especialistas da área de saúde, e isso está mais latente agora no enfrentamento à pandemia de coronavírus.
A data de hoje, 5 de maio, foi escolhida para encampar a preocupação das autoridades sanitárias com a automedicação e os reais riscos embutidos no uso indiscriminado de medicamentos. No Maranhão, o Dia do Uso Racional de Medicamentos, uma campanha do Conselho Regional de Farmácia do Estado do Maranhão (CRF-MA), marca o calendário sobre a importância do tema, principalmente, neste momento de enfrentamento à pandemia do coronavírus. “A campanha visa conscientizar a população de que a informação é o nosso melhor aliado. Porém, para isso, é essencial consolidar essas informações corretas e com um profissional capacitado (o farmacêutico) para prestar essas informações confiáveis, baseadas em evidências, a respeito da Covid-19”, informou a Profª Drª Gizelli Santos Lourenço Coutinho, Presidente do CRF-MA.
Os farmacêuticos são os profissionais da saúde mais acessíveis à população. Por exigência legal, toda farmácia é obrigada a ter a presença do farmacêutico durante todo o seu período de funcionamento. “As farmácias, pela quantidade e facilidade de acesso, tem sido hoje, na maioria das vezes, o primeiro local que a população procura quando começa a sentir alguma coisa e o farmacêutico com competência e disponibilidade é o profissional da linha de frente que frequentemente se torna a primeira possibilidade de acesso ao cuidado em saúde. Assim, pacientes potencialmente infectados ou com outras enfermidades poderão procurar atendimento em farmácias quer sejam públicas ou privadas. Frente à pandemia, a atuação destes profissionais deve ter suas ações organizadas de forma a colaborar com o restante do sistema de saúde, reduzindo a sobrecarga das unidades públicas e privadas”, disse Gizelli Santos.
Desde que foram divulgadas as medidas de distanciamento, os estabelecimentos tiveram que se adaptar rapidamente as normas de biossegurança diante da pandemia. Mas segundo Gizelli, muitos não entendem. “Ainda temos que conversar com algumas pessoas, explicar a importância de usar EPIs, álcool em gel ou até a importância de se lavar as mãos. Temos que entender que precisamos cumprir essas medidas de proteção não apenas por nós, mas também para proteção dos nossos parentes e amigos”, disse.
A campanha visa conscientizar a população de que a informação é o nosso melhor aliado
Uso irracional ou inadequado é o problema
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, entende-se que há uso racional de medicamento quando pacientes recebem medicamentos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade.
O uso irracional ou inadequado de medicamentos é um dos maiores problemas em nível mundial. Exemplos de uso irracional de medicamentos incluem: uso de muitos medicamentos por paciente (polifarmacia); uso inadequado de antimicrobianos, muitas vezes em dosagem inadequada, para infecções não bacterianas; excesso de uso de injeções quando formulações orais seria mais apropriado; falta de prescrição de acordo com as diretrizes clínicas; automedicação inapropriada, muitas vezes medicamentos prescritos; não aderência aos regimes de dosagem.
A automedicação é um hábito da população brasileira que está enraizado. Uma prática bastante comum tanto com medicamentos quanto com remédios naturais, independente de escolaridade, classe social ou gênero. Porém, os efeitos que a automedicação podem trazer ao organismo e os transtornos à saúde precisam ser considerados. “Sempre que ocorre a automedicação, existem riscos potenciais de reações adversas que são um importante problema para a área de saúde, pois podem acarretar sofrimento e/ou piora da qualidade de vida, perda da confiança no tratamento, necessidade de exames diagnósticos e tratamentos adicionais e dificuldades no manejo de diferentes condições clínicas, além de aumento de custos, número de hospitalização, tempo de permanência no hospital e eventualmente mortalidade. Ainda, seu aparecimento pode representar a necessidade de se usar mais medicamentos, não só para o tratamento de reação adversa em si, mas como consequência de diagnósticos equivocados”, alertou Gizelli.
Segundo a doutora, o uso inadequado de substâncias e até mesmo drogas consideradas “simples” pela população, como os medicamentos de venda livre, tais como analgésicos, podem causar: reações de hipersensibilidade; resistência bacteriana; estímulo para a produção de anticorpos sem a devida necessidade; dependência do medicamento sem a precisão real; hemorragias digestivas e etc. Além disso, o alívio momentâneo dos sintomas pode mascarar a doença real, podendo agravar mais ainda o quadro do paciente.
O Conselho alerta a população sobre esse período atípico que estamos vivendo de pandemia. “O novo coronavírus está provocando mudanças significativas no comportamento das pessoas e aumentando a automedicação. Isso inclui também a automedicação e o uso de alguns analgésicos e anti-inflamatórios para combater febre e sintomas de gripes e resfriados. Nós lembramos que medicamentos que apresentam, na maioria dos casos, reações adversas, podem provocar danos irreparáveis à saúde da pessoa. Por isso, todo uso de medicamentos seja ele qual for deve ser feito sob a orientação de um profissional de saúde especializado, no caso de farmacêutico ou médico”, alerta.
O novo coronavírus está provocando mudanças significativas no comportamento das pessoas e aumentando a automedicação