COVID-19

Pacientes que se curaram do coronavírus contam como é voltar à rotina

Enquanto cientistas e médicos estudam se existe o risco de reinfecção em casos de pacientes curados da Covid-19, a recomendação é manter as medidas de prevenção.

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Enquanto o Distrito Federal continua a escalada de casos de coronavírus, sobem também os números de pessoas recuperadas da Covid-19. Mais da metade dos infectados, enfrentaram a doença e se curaram. Até o fechamento desta edição, a Secretaria de Saúde contabilizava 705 pacientes recuperados. Pouco a pouco, essas pessoas vão retomando as rotinas, mas médicos alertam: não é possível garantir a imunidade, e os cuidados para evitar contágio devem ser mantidos.

Assim está fazendo a advogada Gabriela Bessa, 31 anos. Ela suspeita que tenha sido infectada no início de março, antes mesmo da quarentena, após ter ido a uma festa infantil. Em 16 de março, ela teve os primeiros sintomas: moleza no corpo, dor de cabeça, nas costas, e no fundo dos olhos. Fez o exame e recebeu o diagnóstico positivo. A partir daí, começou o isolamento no quarto de casa, com medo de contaminar o esposo e os filhos pequenos. “Eu chorava e tinha muito medo. Falava com os médicos e achava que ia morrer, não pelos sintomas, mas porque o nosso psicológico fica abalado”, lembra.

Passados 14 dias de isolamento, prazo dado pelos profissionais de saúde, recebeu alta médica e pôde retomar o contato com a família. “Tive medo das chances de pegar de novo, mas o médico me garantiu que estou imune por um ano. Ninguém sabe se isso é passageiro ou transitório”, pondera. Ainda assim, ela não deixa de se prevenir. Ao sair, está sempre de máscara, ao voltar para casa, deixa os sapatos do lado de fora, e álcool em gel se tornou um companheiro inseparável. Nesta semana, após autorização do governador Ibaneis Rocha (MDB), ela está reabrindo o escritório de advocacia. “Mas vamos trabalhar em escala, e todos mantêm dois metros de distância, com uso de equipamentos de proteção individual.”

O infectologista do Hospital Santa Lúcia Werciley Júnior salienta que não é possível afirmar, por ora, que quem foi curado não vá mais contrair o coronavírus. “A maioria das pessoas está se recuperando bem, porém, a gente não sabe ainda se está com imunidade para se defender em uma próxima infecção. Tudo é suspeita”, avalia. “Portanto, deve tomar todas as precauções de uma pessoa que nunca teve a doença, para não se arriscar.”

Rotina de precaução

A Covid-19 é transmitida por um vírus de RNA, e portanto, pode sofrer múltiplas mutações, como explica o infectologista do Hospital Brasília, Guilherme Marreta. “Há casos relatados de (alguém recuperado) apresentar sintomas novamente, porém, não se sabe se é uma doença nova ou, simplesmente, um reafloramento da primeira doença que tiveram.” Segundo ele, após receber o resultado negativo para presença do coronavírus, a pessoa pode voltar à rotina imediatamente, desde que não apresente sintomas, como cansaço ou fadiga.

Guilherme frisa que o paciente não deve suspender os cuidados de prevenção, até porque não é possível ter certeza da imunidade. “Digamos que (a pessoa) esteja imunizada. Ela pode entrar em contato com o vírus, ele se instala sem gerar a doença, e ela acaba transmitindo”, alerta. “A gente pode ser carregador de agente patogênico e contaminar quem está em situação de maior fragilidade.”

É a precaução que faz com que a arquiteta Rafaella Brasileiro, 30 anos, quase não saia de casa. Mesmo com a possibilidade de reabertura dos escritórios, optou por continuar com o home office na empresa dela. Em 17 de março, Rafaella, o esposo, e os dois filhos testaram positivo para coronavírus. A família viajou no início do mês para São Paulo, e ela acredita que tenham retornado de lá com a doença, embora os sintomas só tenham surgido dias depois.

A arquiteta teve perda do olfato, e o esposo chegou a ter pneumonia. Passado o susto, a família está recuperada e de volta à rotina, mas evitando estar na rua. “Faço compras por aplicativo, e o mercado aqui perto entrega.” A casa foi esterilizada com água sanitária, e Rafaella não abre mão do uso de álcool em gel. “Será que existe a reinfecção? Uns dizem que sim, outros que não. Na dúvida, todo cuidado é pouco”, avalia.

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