PERIGOSO

Entenda os riscos do formol para o organismo

A concentração da substância em produtos de beleza foi limitada a 0,2% pela Anvisa, mas, alguns cabeleireiros continuam abusando na quantidade

Reprodução

No final de dezembro de 2019, mais uma mulher morreu após fazer uma escova progressiva com formol, em São Paulo. O caso reacendeu a discussão sobre o produto, que tem a concentração limitada a 0,2% das fórmulas de acordo com determinação da Anvisa. No entanto, continua sendo usado abusivamente por cabeleireiros que tentam tornar os produtos mais “potentes”.

No último dia 16 de dezembro, Lidiane Ferreira dos Santos, 31 anos, morreu de parada cardiorrespiratória após desenvolver uma forte reação alérgica a produtos químicos usados em uma escova progressiva, procedimento estético para alisar os cabelos, realizado em um salão de beleza em Ilha Solteira, no interior do estado de São Paulo.

A irmã da vítima, Adriana Ferreira dos Santos, foi informada pelos médicos que Lidiane teve uma síndrome conhecida como Stevens-Johnson, uma reação alérgica extremamente grave que causa lesão na pele, olhos e mucosas.

Adriana contou, também, que a moça começou a passar mal logo depois de voltar do salão: “Ela disse foi colocada em uma sala, sem máscara, sem toalha, só ligaram um ventilador pequeno.”

O formol é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como cancerígeno e o contato com ele pode promover irritação, queimadura, descamação e queda de cabelo. A solução ou o vapor dela podem alterar a coloração e a textura da pele, além de causar necrose cutânea local, dermatite, desidratação, hipersensibilidade, rachaduras e ulcerações, que aparecem com a exposição prolongada.

“Pode também gerar bolhas, é como uma queimadura mesmo. Nos olhos, além da irritação, pode levar à cegueira, são danos irreversíveis. Além disso, o formol nunca é eliminado do organismo e pode trazer danos a longo prazo”, explica a dermatologista Lúcia Miranda.

Por evaporar durante a aplicação (são usadas até duas fontes de calor, como chapinha e secador), o formol acaba sendo inalado em grandes quantidades. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a exposição por tempo prolongado aumenta o risco de câncer de nasofaringe e leucemias, principalmente.

Os efeitos colaterais da exposição ao formol não são apenas instantâneos, e podem aparecer horas ou dias depois da aplicação. Em 2017, Márcia Gomes Alves Fernandes, 48 anos, também faleceu depois de uma progressiva. Ela apresentou intoxicação respiratória aguda, bronquite e asma na noite do dia em que alisou os cabelos com formol.

Opções

Não há consenso entre médicos e cabeleireiros entrevistados pela reportagem sobre a existência de outros produtos alisantes que não usem formol. Para a dermatologista Lúcia, o composto está presente em todas as fórmulas, mesmo que em outras versões. “À medida que se aquece, com o uso da chapinha, ele se transforma em formaldeído. Não existe aminoácido ou vitamina que alise cabelo”, diz a médica.

O cabeleireiro Filipe Marcel, afirma que existem tratamentos com ácidos que produzem o efeito liso. “A guanidina, por exemplo, é usada nos produtos fabricados por grandes multinacionais e transforma o fio de dentro para fora. Seria o jeito mais ‘saudável’”, explica. Ele conta que, apesar de ser um tratamento mais caro e menos agressivo, normalmente é incompatível com outras químicas e, por isso, pouco usado – uma tintura à base de amônia, em contato com o cabelo tratado, poderia quebrar todos os fios.

“O formol seria indicado para quem já tem o cabelo pintado, ele manteria a cor sem desbotar”, afirma o profissional. Mas, apesar de a quantidade de 0,2% da substância ser aprovada pela Anvisa, a dermatologista Lúcia alerta que todo produto passado nos cabelos (ou nas unhas, como no caso das bases fortalecedoras) acaba entrando no organismo. “Não acho uma quantidade segura, e muitos salões ainda adicionam mais formol. A partir do momento que você já fez, se continuar fazendo, a exposição é contínua e ele vai se acumulando no corpo”, ensina.

Ela afirma que, se a opção for por alisar os fios, é preciso procurar um cabeleireiro de confiança, prestar atenção no odor do produto (não é possível mascarar o cheiro de formol) e na fórmula.

De todo jeito, não importa qual o produto escolhido: o alisamento não é saudável para os fios. O cabeleireiro Bruno Oliver explica que o formol atua como uma maquiagem permanente, alisando e plastificando o fio – assim, não há como transportar nenhuma hidratação ou óleo para dentro do cabelo. E, uma vez que ele é aplicado, não sai mais. “Sou totalmente contra esse tipo de procedimento”, diz.

De olho na polêmica, a Anvisa estuda proibir outras substâncias depois de uma avaliação de segurança. Confira, na tabela abaixo, a situação dos princípios ativos:

Sociedade Brasileira de Dermatologia
Fonte: Sociedade Brasileira de Dermatologia

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