Número de doadores de sangue é insuficiente para demanda no Maranhão
A falta de doadores no estado acaba causando um déficit no banco de sangue da Hemomar. “A gente sempre tá com nosso estoque no mínimo por causa das perdas que a gente tem na sorologia e por causa da demanda, que cresce a cada dia”, alerta assistente social
O Centro de Hematologia do Maranhão (Hemomar) não consegue ofertar a quantidade necessária de bolsas de sangue para atender às demandas dos hospitais do estado. Segundo a assistente social da casa, a causa deste déficit é a quantidade insuficiente de doadores, mesmo com as constantes campanhas de conscientização em universidades, escolas e centros religiosos.
Por dia, o Hemomar recebe cerca de 280 doadores voluntários. De cada um, 450mL de sangue são colhidos e selados em uma bolsa. “Mas nem todo sangue doado é sangue liberado”, explica a assistente social do local, Francinete Araújo. Segundo a profissional, uma média de 30 bolsas – mais ou menos 13,5 litros de sangue – deste total são descartadas após passarem pelo exame de detecção de doenças, a sorologia.
A solução para sanar a quantidade desperdiçada, segundo Francinete, é convocar mais voluntários. “O ideal é ter, todos os dias, mais de 300 bolsas. Assim, mesmo com aquelas que se perdem, ainda teríamos o mínimo para fornecer aos hospitais. (…) Nosso objetivo é trazer o máximo de gente para doar, para atingirmos o mínimo da demanda. Tem mais pessoas precisando de sangue do que pessoas doando”, revela.
O posto do Hemomar é aberto em tempo integral e fornece bolsas de sangue para hospitais de todo o Maranhão. Instituições de saúde, de públicas a privadas, do interior e à capital, visitam o local com frequência para ‘abastecer’ seus estoques e sanar as necessidade sanguíneas de seus respectivos pacientes. “Cada hospital tem o seu armazenamento [de bolsas de sangue]. Se eles não têm mais, vêm buscar aqui. Nosso objetivo é conseguir atender a essa demanda e ainda manter bolsas no nosso próprio estoque”, explica Francinete.
Por causa da quantidade insuficiente de doações, o sangue disponível acaba sendo direcionado apenas a emergências. Enquanto isso, pacientes em situações de menor gravidade recebem tratamentos provisórios até que terem a chance de obter uma bolsa. “Está difícil ter um estoque satisfatório. Nós sempre estamos com o nosso no mínimo por conta das perdas que temos durante a sorologia e da demanda, que cresce a cada dia”, alerta a assistente.
Questionada sobre o porquê de não haver tanto interesse por parte da população na doação de sangue, Francinete pontua: “falta as pessoas despertarem para a importância dessa ação para quem precisa. Existem medicamentos paliativos, mas não resolvem o problema. Quem precisa de sangue, sempre vai precisar de sangue. Tem que ter a transfusão”, afirma. “O recado que eu dou para as pessoas é que se interessem. Quantas aqui vieram só uma vez para doar e nunca mais voltaram? Doaram para um amigo ou parente… Mas, como ninguém conhecido nunca mais precisou, não voltaram. Falta pensar no outro. A doação de sangue é uma questão de solidariedade. É um gesto de amor ao próximo que tem que ser frequente, senão não resolve”.
Não é difícil doar sangue
O procedimento para a doação não é burocrático, mas exige algumas condições específicas. Além de precisar pesar mais de 50kg, é necessário que o doador tenha de 16 a 69 anos, esteja bem alimentado e com boa saúde, sem ter ingerido bebidas alcóolicas nas últimas 12 horas, e não ter se exposto a situações de risco, como o uso de drogas e relações sexuais desprotegidas.
Ao chegar, basta se cadastrar; verificar a pressão, pulso, temperatura, presença de anemia e peso; passar por uma entrevista com médico ou enfermeiro; e pronto. É assinado um termo, onde se decide quem receberá a doação: se será uma pessoa específica ou uma aleatória. A coleta dura, em média, 15 minutos. Depois, há direito a lanche.
De cada doador, os quase meio litro de sangue coletados são repostos pelo organismo em apenas 24 horas. A recomendação é que, após da retirada, haja um tempo de descanso e recuperação – sem drogas, bebidas ou esforços físicos. O espaço mínimo entre uma visita e outra ao Hemomar é de três meses para mulheres e dois para homens.
Colhido, o sangue passa por um exame capaz de detectar presença de doenças como hepatite B e C, AIDS, sífilis, HTLI/II, doença de chagas ou malária. “A sorologia é um rigoroso controle feito antes da bolsa ser liberada”, assegura Francinete. Caso identificada alguma destas irregularidades, a coleta é descartada.
“Mas, mesmo assim, aquele documento que ela [a pessoa] assinou, na sala de doação, dizendo que ela está dando para alguém específico, dá direito a uma bolsa já boa, processada, pronta para a transfusão, para aquele alguém”, explica a profissional. Ou seja: em caso de incompatibilidade sanguínea ou de o sangue do doador ter sido descartado por não ter passado no ‘teste’, de qualquer forma, o receptor em questão irá receber uma bolsa em condições ideais.
“Isso que quebra esse hemocentro. Porque a gente dá bolsa boa em troca das que ainda vão passar por análise”, desabafa a assistente. “A nossa preocupação é se terá sempre uma reserva destas em boas condições aqui”.
Os heróis anônimos
“Eu sei que, doando, vou ajudar muitas vidas”, compartilhou Elaine de Castro, de 18 anos, deitada pela primeira vez na maca do Hemomar para proporcionar parte de seu sangue a ninguém específico, simplesmente por poder ajudar um ser humano, mesmo que no anonimato. “É também uma forma de influenciar mais gente da minha idade a vir”, afirma. “Doar sangue é a forma mais prática de salvar pessoas”.
Em outra poltrona está Gallyson Ferreira, de 35 anos. Foi atraído por uma campanha na empresa onde trabalha. “A gente mora longe, mas eu sempre pensei ‘qualquer hora eu vou lá, doar sangue’. Esse momento chegou”. Questionado sobre como se sentiu, diz que a picada da agulha não doeu e que a sensação é “boa até demais”. “Eu estou salvando uma vida”, bradou, sorrindo.
Responsável pela coleta dos voluntários, a técnica Lígia de Cássia trabalha no Hemomar há quatro anos. De acordo com ela, cada enfermeiro atende, em média, 20 pessoas diariamente. “É bem divertido. A equipe é muito unida e os doadores são muito atenciosos e animados”, diz. Ao fim do expediente, mesmo que o sangue estocado não venha das próprias veias, “a gente também se sente colaborando. É muita satisfação”. No mesmo centro, Lígia também se compromete a doar pelo menos duas vezes ao ano.
“Já é a quarta ou a quinta vez que venho”, tenta lembrar Jairo César, um vigilante de 39 anos, enquanto Lígia coloca a agulha em seu braço. De três em três meses, Jairo contribui para o Hemomar. Sua doação nem sempre é direcionada a alguém específico. “Às vezes, eu sinto vontade e venho”, relata. Segundo ele, doar sangue não é benéfico somente para quem recebe, mas também para quem dá. “Eu me sinto bem. No mundo em que a gente está hoje, é bom ajudar o próximo”, conclui.