A DEPENDÊNCIA DO CELULAR

Você sofre de nomofobia?

As taxas estimadas de dependência de celular podem chegar até a 60% nos seus usuários

Reprodução

Desde a metade dos anos 1990, o uso de aparelhos eletrônicos tem aumentado cada vez mais rapidamente. Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), já são mais de 7 bilhões de aparelhos celulares em uso no mundo, sendo esta a maneira mais usada para acessar a internet. Com o advento dos smartphones, o aparelho já traz diversas facilidades muito além da câmera fotográfica e filmadora de alta resolução, como ampla acessibilidade a e-mails e redes sociais, pesquisas on-line, visualização de filmes e programas de TV, músicas, realização de transações financeiras e diversas outras possibilidades. Apesar de todas estas vantagens, algumas pessoas podem apresentar um padrão de uso problemático.

Antes da popularização do celular, outras dependências comportamentais haviam sido descritas: alimentar, exercícios, compra, trabalho (workaholics), jogo, internet e sexo. Mais recentemente, o termo nomofobia (uma abreviação, do inglês, para no-mobile-phone phobia) foi criado no Reino Unido para descrever o pavor de estar sem o telefone celular disponível. Na realidade, este neologismo atualmente tem sido muito utilizado para descrever a dependência (também conhecida como uso problemático ou compulsão) do telefone móvel.

As prevalências descritas do uso abusivo do celular variam amplamente, muito em decorrência da diversidade dos critérios diagnósticos utilizados e da variabilidade dos indivíduos estudados. As taxas estimadas de dependência de celular podem chegar até a 60% nos seus usuários. Um estudo brasileiro realizado pela pesquisadora Anna Lúcia King, da UFRJ, verificou que 34% dos entrevistados afirmaram ter alto grau de ansiedade sem o telefone por perto. Assim, com a enorme quantidade de pessoas com pleno acesso ao aparelho, estes índices são extremamente preocupantes.

Dependência precoce

Neste sentido, o ponto que mais chama a atenção aqui é que cada vez mais cedo inicia-se o uso do celular, com milhões de crianças (várias com cerca de dois ou três anos de idade!) e adolescentes com acesso livre, total e irrestrito. Sabe-se que o quanto antes ocorre uma dependência, piores são suas consequências físicas e psicológicas em longo prazo. Em termos comportamentais mais amplos, têm sido observado nestes jovens uma falta de habilidade nos relacionamentos interpessoais, com dificuldades no estabelecimento de vínculos de amizade e/ou afetivos plenos e duradouros.

Em nível neurobiológico, sabemos que existe um “sistema de recompensa cerebral” (SRC) que tem como função estimular comportamentos que colaboram com a manutenção da vida (como sexo, alimentação e proteção). Quando o SRC é ativado, com a liberação do neurotransmissor dopamina, isto proporciona imediatas sensações de prazer e satisfação. Tal qual para as drogas de abuso, as dependências comportamentais (incluindo a nomofobia), são capazes de levar a uma hiperatividade do constante SRC, podendo causar alteração no funcionamento cerebral. Entretanto, as consequências de longo prazo do funcionamento alterado pelo excesso do uso do celular ainda são incertas.

Além disso, as pessoas que apresentam uso abusivo do celular têm maior chance de desenvolver transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e sintomas de impulsividade, embora a relação de causa-efeito nem sempre seja fácil de ser estabelecida. Problemas físicos frequentemente ocorrem, incluindo fadiga, patologia ocular, dores musculares, tendinites, cefaleia, distúrbios do sono e sedentarismo. Além disso, é evidente a maior propensão em se envolver em um acidente automobilístico e de sofrerem quedas ao andar.

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