CPMI

Hacker acusa Bolsonaro de tentar invadir sistema das urnas para plano golpista

O plano do ex-presidente, segundo o hacker, era colocar dúvidas sobre as urnas eletrônicas para questionar o resultado das eleições.

Ex-presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Reprodução)

O depoimento do hacker Walter Delgatti Neto na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas implicou diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro numa trama para invadir o sistema das urnas eletrônicas, com o objetivo de mostrar suposta fragilidade dos equipamentos de votação.

Na avaliação da relatora do colegiado, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), a oitiva foi “bombástica” e, se as denúncias forem comprovadas, o ex-presidente será indiciado “sem dúvida alguma”.

Segundo Delgatti Neto, a ideia era criar um código-fonte fake para simular falha nas urnas eletrônicas, uma operação que seria revelada durante as manifestações do 7 de Setembro de 2022. Para esse trabalho, Bolsonaro teria oferecido ao hacker um indulto presidencial, caso fosse descoberto e preso.

A operação teria sido idealizada durante reunião, em 10 de agosto de 2022, no Palácio da Alvorada, com a presença de Bolsonaro; do então ajudante de ordens, Mauro Cid; do general Marcelo Câmara; e da deputada Carla Zambelli (PL-SP).

De acordo com Delgatti Neto, Bolsonaro pegaria uma urna emprestada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), e o hacker criaria um “código malicioso”, que faria com que um voto digitado fosse destinado a outro candidato na hora da confirmação. Ou seja, os votos no então presidente seriam revertidos para o petista Luiz Inácio Lula da Silva. A finalidade era colocar dúvidas sobre as urnas e as lisuras das eleições, para que fosse possível questionar o resultado do pleito.

“A conversa foi bem técnica, até que Bolsonaro me disse: ‘A parte técnica, eu não entendo, vou te enviar ao Ministério da Defesa e, lá, você explica isso'”, contou Delgatti Neto. O hacker afirmou ter ido à pasta cinco vezes. “Ele me disse que eu estaria ajudando a salvar o Brasil. A ideia era de que eu receberia um indulto do presidente. E ele havia concedido o indulto a um deputado federal (Daniel Silveira). Como eu estava com cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava esse indulto”, ressaltou.

No depoimento, Delgatti Neto relatou que Bolsonaro afirmou ter conseguido grampear o celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com o hacker, o então chefe do Executivo ainda sugeriu que ele assumisse a autoria do grampo.

“Falei com o presidente da República e, segundo ele, teriam conseguido um grampo, que era tão esperado naquela época, do celular do ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, esse grampo tinha sido realizado já e teria conversas comprometedoras do ministro”, destacou. “Ele (Bolsonaro) precisava que eu assumisse a autoria desse grampo. Lembrando que, à época, eu era o hacker da Lava-Jato. Então, seria difícil a esquerda questionar essa autoria, porque, lá atrás, eu teria assumido a Vaza-Jato, que realmente fui eu, e eles apoiaram. A ideia seria um garoto da esquerda assumir esse grampo.”

A conversa teria ocorrido por ligação telefônica, na qual Bolsonaro teria revelado detalhes sobre o grampo. “Ele disse que o grampo foi realizado por ‘agentes de outro país’. Não sei se é verdade, se realmente aconteceu o grampo, porque eu não tive acesso a ele”, frisou. “E ele ainda disse assim: ‘Se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz’. Ele usou essa frase”, acrescentou.

Na CPMI, o hacker enfatizou que a deputada Carla Zambelli atuava como mediadora dos interesses de Bolsonaro e sob conhecimento dele.

“A deputada me disse que eu precisava invadir algum sistema de Justiça ou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em si, algum sistema que demonstrasse a fragilidade do sistema de Justiça. Ela disse que seria uma ordem do presidente, mas apenas a deputada me disse isso, eu não ouvi isso do presidente”, ressaltou.

* Com informações do Correio Braziliense

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