ELEIÇÕES 2024

O difícil caminho pela presidência da Câmara ao Palácio La Ravardière

A vontade de chegar ao cargo de prefeito é tão antiga quanto a incapacidade de transformá-la em realidade.

Palácio La Ravardière. (Foto: Reprodução)

Antes mesmo de assumir a presidência da Câmara Municipal de São Luís, o vereador Paulo Victor (PCdoB) já dava mostras de que não estaria contente em ocupar apenas o cargo máximo dentro do legislativo municipal da capital maranhense.

Uma insinuação aqui, outra frase ali, declarações de pessoas próximas ou simpáticas a ele já diziam que o vereador está com pretensões de concorrer à Prefeitura de São Luís. Desde o início de 2023 que esta ideia ganhou mais força e tem se tornado algo recorrente nas discussões políticas dentro da Ilha.

Esta não é a primeira vez que um chefe do legislativo da capital pensa em se colocar a disposição para ser o futuro prefeito de São Luís. Este legado vem de geração em geração, quase consangüíneo – só faltou todos os presidentes da Casa Legislativa serem parentes. A vontade é tão antiga quanto a incapacidade de transformá-la em realidade.

Vamos listar alguns nomes de presidência da Câmara Municipal de São Luís que lançaram a mesma proposta, mas não conseguiram avançar.

OSMAR FILHO (presidente da Câmara de São Luís entre 2019-2022)

Chegou à Câmara de São Luís em 2008, aos 21 anos de idade. Garantiu reeleições em 2012, 2016 e 2020. Com passagens por partidos com expressão (como PMDB – atual MDB – e PSB), foi só no PDT que ele encontrou suporte para alcançar postos mais altos. Pela sigla, foi eleito presidente do legislativo ludovicense pela primeira vez em 2018, assumindo para o biênio 2019-2020. Foi reeleito, ainda em 2019, para ficar a frente dos trabalhos da presidência em 2021-2022. Ainda por força da filiação ao PDT, Osmar foi secretário de governo na gestão Edivaldo Holanda Júnior e se tornou um dos braços fortes do presidente da legenda no Maranhão, o senador Weverton Rocha.

Com tanto respaldo, em 2019 foi iniciado um movimento que colocava Osmar Filho como um dos nomes do PDT para ser pré-candidato à Prefeitura de São Luís. Aos poucos, o vereador-presidente da Câmara foi superando os outros pretendentes e ficando como o nome mais provável do partido. Importante lembrar que a escolha de um nome para concorrer pelo PDT tem um peso muito grande, tendo em vista que o partido vinha de uma sequência histórica de comando do Executivo na capital (Jackson Lago por três vezes, Tadeu Palácio completando mandato de Jackson e indo para um próprio e Edivaldo Holanda Júnior), além de ter apoiado alguns ex-prefeitos de outras legendas (caso de Conceição Andrade no PSB – antes da mesma ir para o grupo adversário – e João Castelo do PSDB, mesmo o partido estando dividido).

O nome de Osmar Filho deslanchou no PDT, mas não encontrou reflexo no meio popular. Ao longo do primeiro semestre de 2020, todas as pesquisas feitas colocavam o pedetista em posições nada confortáveis para uma corrida eleitoral. O máximo que ele chegou a ocupar foi a quinta colocação, mas sem atingir a casa dos dois dígitos. Com a realidade batendo a porta, o PDT abortou a pré-candidatura própria.

Osmar Filho ainda foi cogitado para ser o vice de Neto Evangelista (então no DEM), mas preferiu buscar a reeleição para a Câmara – acerto que valeu a permanência no Legislativo e na presidência da Casa.

ASTRO DE OGUM (presidente da Câmara de São Luís entre 2015-2019)

Um dos decanos da Câmara de São Luís, Astro de Ogum está no legislativo há 22 anos, tendo sido eleito para seis mandatos seguidos. Com passagens por partidos de menor expressão, como PTdoB, PPS e PMN, Astro só viria a ganhar reconhecimento, de fato, da classe política ao se colocar como nome para assumir a gestão da Câmara Municipal. Em 2014, ainda no PMN, foi eleito para o posto, em substituição a Isaías Pereirinha.

A forma de trabalho e a condução do então presidente lhe renderam um convite para trocar de partido, indo para o então Partido da República (PR), atual Partido Liberal (PL). A troca de legenda coincidia com o momento de destaque do parlamentar e a participação generosa do PR dentro do Governo do Estado – o então deputado estadual e presidente do partido, Josimar de Maranhãozinho, estava muito próximo do então governador Flávio Dino.

O anúncio da pré-candidatura de Astro de Ogum foi feito durante sessão na Câmara de São Luís. Ela ainda estava nas fileiras do PMN, aguardando a abertura da janela partidária para fazer sua desfiliação e ingressar no PR, por convite do presidente nacional da legenda, Alfredo Nascimento. A janela chegou, Astro fez a troca de partido, mas a candidatura não saiu. Em articulação com outras lideranças partidárias, a direção do PR decidiu por compor a coligação encabeçada por Edivaldo Holanda Júnior (então no PDT) e Júlio Pinheiro (PCdoB). Restou, à Astro, a opção pela reeleição para a Câmara e a garantia de que ele permaneceria como presidente da Casa.

A negativa em 2016 não tirou de Astro a disposição de ser, um dia, candidato à Prefeitura de São Luís. Tanto que em 2017, faltando três anos para o pleito de 2020, o vereador se colocou como primeiro pré-candidato. O respaldo que Astro alimentava era o número de votos que obteve em 2016 (cresceu em comparação a 2012) e a reeleição para comandar o Legislativo municipal após consenso com os demais vereadores da Casa. Bem articulado, ele chegou a reunir com comandos de alguns partidos e lideranças comunitárias, porém, foi mais uma vez preterido pela legenda a qual estava filiado, que fechou apoio a Duarte Júnior (então no Republicanos) em troca da indicação do vice (Fabiana Vilar, sobrinha de Josimar foi a escolhida). A posição do partido levou Astro de Ogum a trocar o PL pelo PCdoB.

OUTROS NOMES VENTILADOS

Bem antes de Paulo Victor, Osmar Filho e Astro de Ogum, alguns presidentes da Câmara Municipal foram sondados para entrar na disputa majoritária em São Luís. Nomes como Isaías Pereirinha, Francisco Carvalho, Ivan Sarney, Edivaldo Holanda e Manoel Ribeiro presidiram o parlamento ludovicense e foram questionados pelo interesse em concorrer à Prefeitura.

Em comum – além de presidir a Câmara –, todos tiveram a mesma resposta: se sentiam lisonjeados pela idéia tentadora, mas preferiam ir para a reeleição do mandato que estavam ou tentar a vida política em outra casa legislativa. E mais: sabiam das dificuldades em disputar com nomes bem mais fortes. Para se ter uma idéia, se algum se aventurasse a entrar numa disputa, bateria de frente com nomes como Jackson Lago, Tadeu Palácio, Conceição Andrade, João Castelo e Gardênia Gonçalves, citando aqueles que foram eleitos.

Se lembramos de quem ficou de fora, perdendo alguma eleição municipal em São Luís, temos nomes tão fortes quanto, como Flávio Dino (perdeu em 2008), Ricardo Murad (perdeu em 2004), Afonso Manoel (que vinha de presidência da Associação Comercial do Maranhão), Pedro Fernandes (estava em mandato como vereador de São Luís, mas não como presidente da Casa), Jaime Santana e Carlos Guterres. Toda essa concorrência levou os presidentes da Câmara Municipal de São Luís, cada um a sua época, pensar bem e não entrar na disputa pela Prefeitura.

PAULO VICTOR: A BOLA DA VEZ

Mais uma vez, a Câmara Municipal de São Luís tem um presidente na relação de pré-candidatos à Prefeitura da capital. Paulo Victor, ao que parece, surge com mais força que seus antecessores. E pilares bons e fortes, ele tem buscado.

O principal deles é o governador Carlos Brandão. Tendo a simpatia, carinho e apreço do chefe do Executivo estadual, Paulo Victor foi secretário de Cultura do Estado por duas vezes (entre abril e dezembro de 2022 e janeiro e abril de 2023), tendo carta branca para planejar e executar as principais festividades com garantia de que recursos seriam destinados para a realização das mesmas. Foi assim que o Maranhão teve um grande São João em 2022 e igual tratamento no Natal do mesmo ano e Carnaval de 2023. Paulo Victor já teria recebido o aval de Brandão para buscar a Prefeitura, desde que tivesse tudo muito bem planejado.

Para isso, Paulo Victor tem dialogado com diversas correntes. Conversa que começa pela Casa que preside. Em recente evento, quando da homenagem ao governador pelas 300 obras em 100 dias, 28 vereadores entregaram carta aberta à Brandão, onde afirmam apoiar a pré-candidatura de Paulo Victor.

Ao retornar à Câmara e à presidência da Casa, Paulo Victor anunciou sua pré-candidatura e bateu forte na gestão Eduardo Braide (PSD), usando como instrumentos de discurso as supostas crises no transporte público e na saúde. Dessa forma, tenta trazer o apoio popular para o seu lado.

Por fora, estão sendo costurados alianças e apoios que podem ajudar. Nesta semana, em passagem por Brasília, Paulo Victor reuniu com o ministro Flávio Dino (tratando de segurança para São Luís), mas também visitou o senador Weverton Rocha (PDT), ao lado de vereadores pedetistas. Importante lembrar que Paulo Victor iniciou sua carreira política no PDT.

Para conseguir êxito na missão inicial (indicação para concorrer à Prefeitura), dois pontos precisam, urgentemente, serem analisados com carinho por Paulo Victor. O primeiro é referente ao partido em que está. Paulo Victor ainda faz parte do PCdoB, mas ainda não parece ter convencido a direção do partido de que pode ser candidato à Prefeitura de São Luís. Dentro da esfera comunista, Paulo Victor ainda seria visto como um sonhador, longe da realidade necessária para buscar o objetivo da candidatura. Talvez por isso, ele foi visto em conversas com tucanos, o que para muitos pode sinalizar a soltura do martelo e da foice e um vôo para outra legenda.

A segunda ação de Paulo Victor tem que ser na própria Câmara Municipal. Apesar de ter o respaldo da maioria absoluta dos vereadores, ele precisa mostrar que administra uma casa ordeira e respeitável. Episódios recentes, onde vereadores bateram boca e quase foram às vias de fato, podem denotar que o comando da Casa precisa estar mais atento às questões interpessoais e de tratamento entre os pares. Senão, a máxima “casa de ferreiro, espeto de pau” vai fazer todo sentido pelas bandas da Praia Grande.

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