“Dois de outubro vai colocar na urna a vontade do povo”, diz Enilton Rodrigues
O candidato psolista, Enilton Rodrigues, responde sobre propostas nos campos gerais como insegurança alimentar, educação e sobre estatização.
A menos de uma semana para definição das eleições de 2022, o candidato do PSOL, Enilton Rodrigues, aparece muito aquém nas pesquisas. Mesmo assim, segue na disputa para Governador do estado do Maranhão.
O atual presidente da sigla no Estado, já tentou ser vereador de Arame – sua cidade natal – no ano de 2020 e também concorreu a deputado estadual, em 2018. Em entrevista ao O Imparcial, o candidato falou de suas principais propostas, como geração de emprego e renda, as alianças políticas do partido e do combate aos conflitos fundiários.
O Imparcial: Candidato, os números nas pesquisas não são bons. Isso já era esperado pelo partido? E a candidatura própria pela sigla foi realmente viável?
A pesquisa é um retrato do momento. A gente sabe que essa é uma realidade a nível nacional e aqui no Maranhão não é diferente. O PSOL tem feito um trabalho no estado do Maranhão diferente de todos os outros processos que a gente fez, porque hoje a conjuntura nacional é diferenciada e isso faz com que a gente no estado consiga estar pontuando nas pesquisas. O PSOL em toda sua história de fundação, nos seus 17 anos de fundação, sempre teve um candidato a governador e agora não seria diferente. O diferencial é que o partido está mais estruturado, a nível estadual, presente em torno de 50 municípios, e a gente conseguiu fazer uma pré-campanha, fazendo um giro pelo Maranhão e visitar todas as grandes regiões, como a baixada maranhense, o baixo Parnaíba, região sul do estado, a região da Grande Ilha aqui de São Luís. Isso mostra que pode ser que a gente esteja bem melhor do que mostram os números, mas a gente diz que não vamos desacreditar os institutos de pesquisa, mas acreditamos que é o retrato do momento e acreditamos que o PSOL pode, sim, estar no segundo turno, que pode surpreender, porque afinal de contas quem define é o povo, o povo que vota, cada cabeça é um voto, então é nisso que a gente acredita e é isso que estamos construindo.
Mesmo sem uma carreira política de forma efetiva, como é que você pretende conseguir os votos necessários para o Governo do Estado?
A construção política a gente é quem faz. O PSOL, por exemplo, foi meu primeiro partido, sou fundador do partido a nível nacional. Eu faço política mais diretamente desde os anos 2005 e 2006, mas eu acompanho o processo como um todo. Eu votei no Lula em 2002, e não era filiado ao PT. Então para gente é esse processo de construção. Os mandatos eletivos são muito importantes, mas para gente a política não se resume a ter mandato. O processo de construção que a gente faz é a construção do movimento social. Eu fui do movimento estudantil, coordenador do Diretório Central Honestino Guimarães lá em Brasília, na UNB, onde eu me formei engenheiro florestal, então ali no movimento estudantil você consegue viver na realidade o que a falta de política causa para o jovem. A gente acredita que esse processo de construção ajuda a estar dialogando com a juventude e com o povo maranhense para dizer que é, sim, importante a política, mas não só resumir a democracia do processo eleitoral de dois em dois anos em ir lá, na urna, e votar, mas que é esse processo de construção, de organização, de elaboração de políticas públicas coletivas, para que aquele governo que vai ganhar possa estar executando aquela política. Eu acho que o bom governador, o bom governante é aquele que ouve a sociedade organizada, que já vem historicamente construindo políticas públicas para que de fato aquela política que seja colocada em execução vá atender aqueles que a construíram. Na nossa avaliação essa disputa tem sido a eleição da eleição, então por isso que é importante a nossa participação, da gente estar disputando, sim, a consciência, estar disputando o voto.
Falando em dar continuidade a um projeto político vamos falar de proposta. Diferentemente do que já tem sido feito no Maranhão, qual é a principal proposta que o partido propõe?
A gente acredita que o povo do Maranhão, em torno de 7 milhões de pessoas, precisa estar incluído no orçamento. Sabe-se que o orçamento do Maranhão é limitado para a necessidade que o estado tem. São mais ou menos 25 bilhões de reais, mas dividido aí pelas suas secretarias. E a gente acredita que precisa incrementar esse orçamento. A gente tem uma proposta principal que é a criação do Banco Popular do Estado, que seria uma instituição financeira pública, com tarefas específicas de fazer com que esse orçamento do estado seja incrementado, para que aquelas políticas que são prioritárias possam de fato sair do papel. Mas como é que a gente vai fazer isso? Sabemos que as folhas de pagamento das prefeituras são muito disputadas pelos bancos oficiais, e também que o nosso banco estadual do Maranhão, que foi privatizado lá no início dos anos noventa, naquela levada que teve de privatização de bancos estaduais, não resolveu os problemas daquela época. Então foi a política que não deu certo na nossa avaliação. Por isso, queremos criar o banco popular no estado que tenha linha de crédito específica para o agricultor familiar, para o micro, para o pequeno, para o médio empresário, porque, às vezes, o trabalhador informal está na informalidade porque os bancos oficiais não abrem as portas para ele, para ter um crédito que possa desenvolver a sua banquinha. O estado vai ter esse investimento inicial, mas ele vai ter o retorno a médio e longo prazo. E você poder fazer uma parceria com duzentos e dezessete municípios e estar contribuindo para geração de emprego e renda no estado. Ou, por exemplo, colocar bolsa para os estudantes do ensino médio para diminuir a evasão escolar e que o jovem possa chegar à universidade. Hoje, por exemplo, já tem alguns exemplos das escolas públicas, universidade estadual e universidade federal que têm a bolsa de iniciação científica. Isso não acontece no segundo grau. A gente quer instituir também a bolsa do estudante do ensino médio, para que ele possa continuar na escola, diminuir a evasão escolar e assim teremos nos próximos anos mais emprego, mais renda e um jovem com consciência social.
Saindo do campo do empreendimento e da educação, onde a estatização poderia favorecer mais à sociedade: é na saúde, no transporte público? Como é que seria?
Eu sou candidato a governador, e eu não sou a favor do Estado mínimo. Tem candidato aí que diz que tem que acabar com tudo que é Estado, deixar só o mínimo do mínimo para a força privada resolver. A gente viu que isso não é a solução. Aqui em São Luís a gente tem o exemplo do Ferryboat que está aí e é só problema em cima de problema. Às vezes, o Governo intervém com o aporte financeiro, mas depois deixa na mão da iniciativa privada e a gente vê o que está acontecendo aí com o Ferryboat, transporte que atende muita gente aqui da região da Baixada Maranhense. O nosso programa prevê, por exemplo, todas as estatais que são estratégicas para gente, do ponto de vista do Maranhão. A CAEMA, por exemplo, a gente sabe que foi sucateada; tem, por exemplo, o interno na questão fundiária, que foi historicamente sucateado também, sem concurso público, sem servidor das áreas agrárias; a gente vê, por exemplo, quase 24 anos sem concurso para área da saúde; a educação virou aí um esquema dos contratos, só contrato mais contrato para os professores. Então é uma forma que a gente vê de tentar reestruturar aquilo que foi sucateado historicamente. O Estado como o nosso que, infelizmente, é um estado com os piores índices sociais, ele ainda carece de um Estado forte, que traga para si a responsabilidade de resolver os grandes problemas. Acreditamos que reestruturando a educação, a saúde, a parte das áreas agrárias, melhorando essas áreas estratégicas, como a questão do saneamento básico, a gente acredita que a médio e longo prazo podemos conseguir sair desses índices alarmantes do ponto de vista negativo que o Maranhão tem.
O Maranhão é o sexto Estado com maior percentual de insegurança alimentar do país, ou seja, ocupamos o sexto lugar entre os Estados em que há maior número de pessoas passando fome. Como reverter esse quadro?
Infelizmente, essa é uma realidade nacional. O Brasil voltou para o mapa da fome. A gente acredita que foi fruto de uma política deliberada. A gente vê que grande número de galpões da Conap foi fechado, e se fecham os armazéns, você inflaciona, aumenta o preço dos produtos essenciais da cesta básica, para que as pessoas se alimentem, porque o Governo não fez uma reserva, então, quando você não faz uma reserva, nesse setor que só visa o lucro, acaba aumentando os preços, e o governo tem como colocar aqueles alimentos da cesta básica no mercado e acaba elevando o preço dos alimentos. Isso foi uma política deliberada do Governo Federal. Infelizmente aqui no Maranhão não é diferente. Você vê que aqui em torno de 48% das famílias maranhenses vivem com menos de cinco dólares, e isso não é passar fome, mas está na questão da insegurança alimentar. Então para resolver isso a gente tem que ter investimento no setor político que produz comida, que produz alimento, porque não é o agronegócio devastador que produz alimento no nosso país. Quem produz alimento no Brasil é a agricultura familiar e você vê que esse setor não tem a prioridade do ponto de vista financeiro a nível nacional, e, infelizmente, aqui no estado também não. A gente quer incentivar o setor da agricultura familiar, para que as pessoas produzam alimento. Então, para produzir, o governo tem que ter isso como política e tem que garantir o financiamento, tem que garantir a assistência técnica. Então nessa forma de você investir na agricultura familiar, com crédito, desburocratização, com assistência técnica e com garantia da compra daquela produção, você também consegue fazer com que a pessoa permaneça no campo, que tenha mais qualidade de vida e que possa se desenvolver, e, com esse desenvolvimento, trazer distribuição de renda e também a questão social envolvida nisso. É uma proposta nossa, nos nossos programas de governo, e que queremos implementar.
Em 2021, o Maranhão foi o segundo estado brasileiro com mais assassinatos no campo, o que reforça os históricos e violentos conflitos agrários, tendo as comunidades indígenas e quilombolas como principais vítimas. Como mudar essa situação?
Na nossa avaliação a conjuntura contribuiu muito para que isso acontecesse. Porque uma coisa é você ter, por exemplo, na presidência da república um presidente que coloque na Fundação Palmares uma pessoa que representa o movimento negro; uma coisa é você ter um presidente da república, que coloca na FUNAI uma pessoa que entenda minimamente da causa indígena e vai trabalhar de acordo com o próprio estatuto da FUNAI. Mas, outra coisa, é você ter o presidente da república que faz tudo ao contrário, que incentiva o contrário daquilo que a constituição garante aos quilombolas, aos indígenas. Se você tem um presidente que quer, inclusive, destruir a própria constituição, isso faz com que esses conflitos que já existiam possam aumentar ainda mais. Isso acontece no Brasil e no Maranhão não é diferente. É uma questão nacional. A nossa senadora é uma liderança quilombola, Antonia Cariongo, que vive na pele essa questão do descompromisso político. Em relação a essas questões nacionais, às vezes os governos estaduais não trazem para si como prioridade política para resolver. Essa questão da reestruturação dos nossos órgãos estaduais é uma forma de resolver isso. A gente colocando, por exemplo, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente para observar o que tem colocado na legislação ambiental e não apenas ser escritório de despachar licença a qualquer custo, e isso vai contribuir para que esses conflitos possam diminuir; pode-se criar a Câmara especializada em parceria com o Ministério Público, com o Judiciário, uma parceria direta com a Assembleia Legislativa, para que mude a legislação e reconhecer que essas comunidades, esses povos, tenham esse direito constituído. E então se a gente não levar isso a sério, investir na questão da legislação e der prioridade política do ponto de vista dos órgãos que fazem esse trabalho, a gente não vai conseguir sair do patamar inicial que tá colocado. Infelizmente, nos últimos sete anos e meio, nesse governo que está colocado aí, essa política não teve importância, por isso que está acontecendo esses conflitos.
Levando em consideração o histórico do PSOL e a baixa representatividade que o partido tem no congresso, como é que vão ficar as alianças políticas baseado no resultado das eleições presidenciais?
O PSOL, hoje, tem uma bancada razoável a nível nacional. Eu, por exemplo, tenho mais tempo hoje na televisão do que o candidato que está na minha frente nas pesquisas, exatamente por conta da nossa bancada. Vivemos uma nova conjuntura. Pela primeira vez, não temos um candidato a Presidente da República, e estamos apoiando Lula por acreditar que é o momento, porque essa é a eleição mais importante de toda a história democrática do Brasil, e para que a gente possa reestabelecer minimamente as questões democráticas que são colocadas e garantidas na constituição de 1988. Então temos que ganhar com o Lula e temos, sim, que eleger uma grande bancada de, no mínimo, cento e oitenta deputados desse campo político mais progressista, que quer fazer com que o povo brasileiro possa viver mais, possa ser mais feliz, possa ter amor e menos ódio; então a gente acredita que o PSOL vai contribuir muito com isso. Aqui no Maranhão a gente não tem deputado estadual, temos deputados federais, a gente quer eleger pela primeira vez a nossa bancada na Assembleia Legislativa e para Câmara Federal, mas a gente acredita que o dia dois de outubro agora próximo vai colocar na urna a vontade do povo. Então a tarefa que o PSOL está contribuindo, juntamente com outros estados, como Pará, Rio de Janeiro, Amapá, Rio Grande do Sul, vai, sim, conseguir dobrar nossa bancada, eleger bancadas novas e contribuir com esse grande debate nacional e com esse próximo mandato, que vai fazer com que o Brasil melhore.