Coronel Aviador Marco Coelho

Chegou a hora dos grandes lançamentos

Entre avanços e recuos, paralisações e recomeço, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) tornou-se, em cada etapa da construção e lançamentos experimentais, uma esperança de que os objetivos iniciais vão ser alcançados

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Desde o distante ano de 1979 que o Brasil vem tentando se tornar uma potência mundial e tecnológica na disputa do infinito mercado de lançamentos espaciais. Naquele ano foi apresentada a proposta da Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBAE), embrião da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), que visava a estabelecer competência no país para gerar, projetar, construir e operar um programa espacial completo, tanto na área de satélites e de veículos lançadores, como de centros de lançamentos.

Entre avanços e recuos, paralisações e recomeço, o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) tornou-se, em cada etapa da construção e lançamentos experimentais, uma esperança de que os objetivos iniciais vão ser alcançados. Hoje, mais do que expectativas, o CLA está perto de cumprir a função programada para a missão completa. “Talvez em 2021 ocorra o lançamento de grande porte a partir do centro de Alcântara”, afirma o diretor do CLA, tenente brigadeiro Marco Carnevale Coelho, em entrevista exclusiva a O Imparcial.

Esta semana Carnevale foi homenageado pela Federação das Indústrias do Maranhão, presidida por Edilson Baldez, pelo empenho em tornar viável a indústria espacial brasileira em terras maranhenses. Ele disse que, a partir da posição estratégica, no centro instalado na região metropolitana de São Luís, o CLA estará pronto para vários tipos de lançamentos de engenhos espaciais.

 Assim como conseguimos avançar na indústria aeronáutica, com os aviões, falta agora acreditar que somos capazes na indústria de foguetes

disse, otimista, Marco Carnevale.

O Imparcial – Qual a situação hoje do Centro de Lançamento de Alcântara?

Marco Carnavale – Estamos vivendo o melhor momento do Programa Espacial Brasileiro. A nossa maior vitória foi levá-lo à sociedade brasileira. Entendemos que o modelo, mais do que amadurecido, passa agora à fase de transferências tecnológicas, que é o novo desafio. E o Maranhão passa a receber esse novo projeto de muita importância. Quando a gente congrega a indústria, a academia e o governo de um modo geral, claro que os resultados aparecerão. Como tivemos sucesso no avanço da indústria aeronáutica, não temos dúvida de que o segmento espacial terá o mesmo.

Quando o senhor fala em indústria aeronáutica, o que significa isso no Centro de Lançamento de Alcântara?

O Centro de lançamento é a parte onde o desafio espacial acontece. Para ele são trazidos os veículos espaciais, as cargas úteis, os satélites. E a partir da nossa posição estratégica, que está no Centro de Alcântara, eles são lançados ao espaço. Então, como centro de lançamento de todos esses engenhos, o grande salto é conseguir avançar. Assim como conseguimos na indústria aeronáutica, com os aviões, falta agora acreditar que somos eficientes na indústria de foguetes.

Quando isso vai acontecer?

Para nós que vivemos o programa espacial, já fizemos cerca de 500 lançamentos, assim já temos cultura de lançamentos. O nosso centro sempre foi operacional. Um grande laboratório a céu aberto. Falta agora nós acreditarmos mais no desafio suborbital, no desafio orbital, ou seja, colocar cargas úteis no espaço. O país está em condições de que, para dar esse passo, chegou o momento.

O Acordo de Salvaguardas Tecnológicas celebrado entre Brasil e Estados Unidos para o uso da Base de Alcântara já foi aprovado pelo Congresso, e agora falta o quê?

Já demos o primeiro passo. O grande cliente internacional são os Estados Unidos, que estão em contato direto com a gente. Por ele (o AST) temos que manter sob sigilo aquilo que for de interesse da indústria americana e da indústria brasileira. Mas o passo na área espacial está programado. Estamos agora muito mais próximos de um grande lançamento, porque já temos uma grande cliente – o que não ocorria em outra época.

Os Estados Unidos vão alugar a base ou apenas utilizá-la para lançamentos de artefatos americanos?

O modelo de negócio está sendo estudado pela Aeronáutica, pelo Estado Brasileiro. Mas estamos confiantes, porque temos um grande produto, o Centro de Alcântara. Assim como foi celebrado o acordo com os Estados Unidos, pode acontecer com vários outros países. O Centro está preparado para prestar esse tipo de serviço para qual outro país. A contrapartida é muito mais que financeira. É a contrapartida que nos coloca em posição diferenciada no contexto das nações.

Quando os americanos vão assumir a Base, conforme o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas?

Não há perspectiva de assunção de qualquer ator que não seja o Brasil. O que vamos fazer é prestar serviço para qualquer país que desejar fazer lançamento a partir do nosso centro espacial.

Quando poderão acontecer os primeiros testes com satélites de grande porte?

A Força Aérea Brasileira fez a transferência para a Avibras do foguete espacial VSB-30. A iniciativa autoriza empresa a industrializar e comercializar o lançador de pequeno porte, voltado para a realização de experimentos em ambientes microgravitacionais. Com isso, temos certeza que podemos fazer com a indústria brasileira aquilo que fizemos com a Embraer. Com esse foguete, estamos bem próximos de levar à indústria nacional o mesmo apoio que fizemos com a Embraer. Fomentamos a Embraer no segmento aeronáutico até o momento em que o mundo empresarial assumiu a empresa. Assim, ao comando da Aeronáutica cabe fomentar o desenvolvimento da indústria aeronáutica no Brasil. Temos confiança de que esse voo do VSB-30 seja o grande passo para fomentar a indústria aeroespacial no nosso país.

O lançamento pode acorrer ainda em 2020?

Temos expectativa que sim. Porém, o mais provável é que ocorra no próximo ano.

O CLA está calibrado e preparado para fazer quais tipos de lançamentos?

Hoje temos condições de fazer micro e pequenos lançadores. Foguetes que variam em até 100 toneladas.

Qual o significado deles?

Temos capacidade para colocar 350 quilos de carga útil em órbita.

Para que servem essas cargas? Pesquisas científicas?

Satélites, micro satélites e grandes satélites. Eles cobrem uma vasta gama de operacionalidades. Imagens, Comunicações, climatologia, navegação aérea, etc. Entendemos que, com os avanços tecnológicos, os satélites vão ficando cada vez menores, mas com a capacidade tecnológica cada vez maior. Significa que estamos preparados acompanhar esses avanços.

Há uma questão sempre polêmica sobre a comunidade de Alcântara, do entorno do Centro.  Como está sendo a relação da população alcantarense com a Aeronáutica?

Não faz sentido que tenhamos um programa científico do Brasil em que o principal cliente não seja a nossa população. Passamos quase 40 anos com um programa suborbital. Então, esse programa não tinha a dimensão de um programa orbital. Mesmo nessa conjuntura de um programa de pesquisa científica espacial, sempre tratamos a população local como algo primordial para a sobrevivência do programa. Hoje, 70% do nosso efetivo são remanescentes da área do entorno. Considerando a nossa estratégia, do comando da Aeronáutica, com relação aos militares incorporados, podemos dizer que 95% do efetivo são maranhenses. Então que faz o CLA funcionar são os remanescentes da população local e a do Maranhão.

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