UM ANO DA ELEIÇÃO

Por que Bolsonaro ganhou as eleições?

O consultor de campanhas eleitorais, escritor e doutor em Ciência Política, Juliano Corbellini, conta os motivos da eleição de Jair Bolsonaro em outubro passado

Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Em outubro passado, há praticamente um ano, Jair Bolsonaro (PSL) vencia  Fernando Haddad (PT), no segundo turno da eleição presidencial, com 55,5% dos votos válidos, contra 44,8% – uma diferença expressiva de mais de 10 milhões de votos. É certo que cada eleição tem sua própria história, mas a da disputa ao Planalto de 2018 é significativamente peculiar.

Muitos compararam o pleito de 2018 com o de 1989, notadamente pela profusão de candidatos no primeiro turno (22 em 1989 e 13 em 2018), pelo espectro que representava o “centro político” ter tido um desempenho pífio e pelo segundo turno ter se convertido numa arena cruenta e polarizada, onde os dois postulantes vestiram a indumentária de projetos políticos e econômicos opostos, de esquerda e de direita, desenvolvimentista e liberal. E mais, o resultado consagrou o candidato que representava a direita e vinha de uma legenda pouco estruturada. Porém, as semelhanças, provavelmente, param por aí. Enfim, quase 30 anos de diferença deixam marcas inequívocas. Em 2018 houve as redes sociais, as “fake news”, a Operação Lava-Jato, a TV perdeu importância como meio de comunicação entre candidatos e eleitores, um dos presidenciáveis sofreu um atentado…, ambiente muito diferente de 1989.

O cientista social Juliano Corbellini e o economista Maurício Moura, experientes consultores de campanhas eleitorais, embrenharam-se na missão de identificar e expor os motivos que levaram Bolsonaro ao triunfo em 2018. Para tanto, lançaram recentemente o eletrizante e irresistível livro “A eleição disruptiva: Por que Bolsonaro venceu” (Editora Record, 168 páginas, valor médio R$ 30,00).

Um dos autores da obra, Juliano Corbellini, doutor e mestre em Ciência Política e que há 18 anos assessora campanhas eleitorais e políticos em todo o Brasil, conversou comigo sobre o livro, que é fundamental para aqueles que querem entender o fenômeno da eleição presidencial de 2018.

Quais fatores levaram Bolsonaro à vitória na corrida presidencial de 2018?

JC: Citamos três fatores principais: os efeitos desmoralizadores da Operação Lava Jato sobre o sistema político tradicional, e em especial o PT; a crise da segurança pública e o surgimento do WhatsApp como nova plataforma de comunicação política.

Por que a crise econômica iniciada em 2014, que é uma das maiores da história do país e até hoje persiste, não foi determinante para o resultado da eleição?

Evidentemente ela compõe com muita força esse quadro, e é especialmente relevante para o desgaste do PT. Mas os efeitos da Lava-Jato foram o que levou as pessoas a buscar uma alternativa fora da política tradicional, em invés de uma liderança de oposição calcada no discurso.

A migração dos votos de Lula para Bolsonaro

Um segmento do eleitorado de Lula acabou migrando para Bolsonaro. Quais as semelhanças dessas duas personalidades?

Não há semelhanças. O que acontece é que parte dos eleitores queria votar em Lula, mas não necessariamente no PT. E aí migraram para um voto anti-sistema. Mas não identifico nada de parecido entre um e outro personagem.

Qual a diferença do “rouba, mas faz” de Lula para o “rouba, mas faz” de Paulo Maluf ou de Adhemar de Barros?

Maluf ou Adhemar de Barros eram ‘obreiristas’. Lula não fez pontes ou viadutos, ele ‘fez pra mim’. Deu oportunidade direta para as pessoas, mudou profundamente a vida nas regiões mais pobres do país. Isso criou não só gratidão, como uma espécie de identidade de classe. Além disso, os eleitores de Lula, que o consideram culpado, acham que seus supostos pecados são muito, muitíssimo menores que os praticados pela política tradicional.

A facada sofrida por Bolsonaro em Juiz de Fora/MG, em setembro do ano passado, foi determinante para a sua vitória?

Sem dúvida favoreceu a Bolsonaro. O deixou recluso no ambiente digital, o vitimizou e o humanizou, rendeu a ele uma mídia espontânea que nenhum outro candidato teve. Mas não foi o determinante. Determinante foi a conjuntura.

O grande embate da eleição foi entre o “Partido da Lava-Jato” o “Lulismo”?

Sim. Com a crise dos partidos tradicionais, essas foram as duas únicas narrativas que ficaram de pé, que tinham sentido para o eleitor, capacidade de mobilização e de motivação para o voto.

Por que Bolsonaro, um político com 30 anos de atuação, com três filhos políticos, conseguiu convencer o eleitorado de que ele era um “outsider”?

Sob o ponto de vista do eleitor, Bolsonaro era o ‘novo’ basicamente porque não era investigado nem estava envolvido em casos de corrupção. Essa era a linha de corte, não importava quanto tempo ele já estava na política.

Como Bolsonaro, um candidato com pouca estrutura, conseguiu desenvolver uma estratégia de marketing tão consistente?

Difícil saber o que era planejado e o que era espontâneo na estratégia de campanha de Bolsonaro. Mas podemos dizer que o grande segredo dele foi ser autêntico.

Há relação entre os fenômenos eleitorais Trump e Bolsonaro?

Ambos, em seus devidos contextos, eram ‘a negação de tudo que está aí’, o voto de protesto contra a política tradicional. Mas Trump, a seu favor, tinha o apoio de toda a máquina republicana, que é muito poderosa. Nos EUA, é impensável um candidato ‘outsider’ vencer uma eleição presidencial. Ele teve que surgir por dentro desse sistema.

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