LUTO

Morrem em Caxias Jacques Medeiros e Capitão Carneiro, ex-presidentes da ACL

Todos eram professores. Todos participavam de instituições culturais locais, como a Academia Caxiense de Letras

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A cidade de Caxias perdeu em 2019 ilustres filhos que honraram e honram, com seus trabalhos, a História e Cultura do município. Em pouco tempo faleceram Valquíria Fernandes, Raimundo Medeiros e, no mesmo dia 16 de outubro, Pedro Carneiro e Jacques Inandy Medeiros.

Todos eram professores. Todos participavam de instituições culturais locais, como a Academia Caxiense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e Academia Sertaneja de Letras, Educação e Artes do Maranhão (Asleama).

Na última quarta-feira, 16 de outubro, os caxienses receberam a notícia do falecimento do professor Antônio Pedro Carneiro, ex-presidente da Academia Caxiense de Letras (ACL). No entanto, a nova notícia de que o professor Jacque Inany Medeiros, também ex-presidente da ACL e vice-presidente do Instituto Histórico caxiense acabara de falecer em São Luís, chocou a cidade. Jacques residia em São Luís. Estava adoentado, em casa; sentiu-se mal, foi levado a hospital da capital maranhense e foi internado em UTI. Não resistiu.

Jacques Medeiros tem uma das mais largas folhas de serviços prestados a Caxias e ao Maranhão, sobretudo nos campos da Educação e da Cultura. Graduado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense, onde estudou de 1967 a 1970, Jacques Medeiros, após a formatura, retorna ao Maranhão e trabalha na Secretaria de Agricultura do estado. Em períodos diversos, desenvolve funções de gestão no Banco de Desenvolvimento do Maranhão: Chefe da Divisão de Acompanhamento e Controle de Projetos (1977/78), Chefe do Departamento Rural (1978/79) e Chefe da Divisão Agroindustrial (1987). No Banco do Estado do Maranhão, foi Diretor de Crédito Imobiliário (1994) e Diretor Administrativo (1995/2000).

No campo da Educação, Jacques Inandy Medeiros mostrou seu talento desde cedo: ainda menor, aos 17 anos, já dava aulas no Colégio Caxiense e, depois, na Escola Normal de Caxias e Ginásio Coelho Netto. Em São Luís, estudou no Liceu Maranhense. Nos anos 1970, após retornar do Rio de Janeiro, já veterinário formado, Jacques Medeiros passa a dar aulas na Universidade Estadual do Maranhão (Uema), na capital: em 1975/76 ministra Biofísica, Bacteriologia e Imunologia no curso de Medicina Veterinária. De 1975 a 1979, dirige o Departamento de Ciências Fisiológicas da Unidade de Estudos de Agronomia. Em 1982/83 é membro titular do Conselho Universitário da Uema e, de 1979 a 1983, diretor da Faculdade de Medicina Veterinária, escola que ele ajudou a fundar. De 1983 a 1987, chega ao topo da carreira: reitor da Universidade da qual, de 1975 a 1990, era professor titular.

Após a reitoria, Jacques Medeiros foi convidado a emprestar seu talento à Educação e Cultura de sua cidade. Deu aulas no Centro de Estudos Superiores de Caxias (Cesc/Uema) e, de 1989 a 1991, foi secretário da Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia. Depois, de 2005 a 2006, foi secretário da Secretaria de Cultura, Patrimônio Histórico, Esporte, Turismo e Juventude de Caxias. Na mesma época, de 2002 a 2006, foi presidente eleito e reeleito da Academia Caxiense de Letras. Também foi membro fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (IHGC), do qual foi vice-presidente. No IHGC ocupa a Cadeira nº 7, cujo patrono é seu pai, o professor, jornalista, servidor público e gestor escolar Francisco Caldas Medeiros, caxiense que, tão precoce quanto o futuro filho, já aos 20 anos era oficialmente nomeado como diretor de uma escola estadual, o Colégio Agrícola, no município de Barra do Corda.

Jacques Medeiros escreveu diversos livros, entre eles o muito citado “Arca de Memórias” e “A História da Educação de Caxias”. Era dono de vasta cultura, literária, universal. Gostava de viajar pelo mundo. Sabia de memória dados geográficos dos diversos países, muitos visitados por ele. Apoiava e estimulava novos escritores.

Sua prestação de serviços o levou a ser homenageado com a Medalha do Mérito Timbira, Medalha do Mérito Brigadeiro Falcão e Medalha Gomes de Sousa de Mérito Universitário.

Quando Jacques Medeiros viajava a Imperatriz como reitor da Uema, costumávamos nos encontrar e, na própria Universidade ou em grupo de amigos e conhecidos (entre os quais o professor universitário Osvaldo Ferreira de Carvalho, também caxiense), fazíamos questão de falar sobre “coisas” de Caxias. A conterraneidade fortalecia a amizade. Nas minhas muitas viagens a Caxias, conversávamos à volta de uma mesa posta na larga calçada do Excelsior Hotel, ou nas reuniões da Academia e do Instituto Histórico, onde ambos éramos membros ou diretores. Por telefone, de São Luís, Jacques e eu trocávamos informações e insatisfações relacionadas ao universo da Cultura e História caxienses.

Em mensagens e textos que me enviava via WhatsApp, Jacques Medeiros falava sobre Caxias e caxienses, Abraham Lincoln, Castro Alves, Confúcio, Cristo, Darwin, Duque de Caxias, São Luís, Vespasiano Ramos, a importância da Comunicação entre os seres humanos, a Universidade brasileira, fazia sua lista dos melhores hinos nacionais entre os diversos países, enviava excertos de Fernando Pessoa e outros autores, gravava áudios onde detalhava aspectos históricos e biográficos acerca de pessoas de Caxias etc. Mostrou-se surpreso, incrédulo e chocado com as mortes dos caxienses e amigos comuns Valquíria Fernandes, professora, e Antônio Nascimento Cruz, ativista cultural. Em maio deste ano escreveu-me sobre a troca de correspondência entre ele e outro talentoso caxiense, o escritor Berredo de Menezes., sobre o qual eu havia escrito um texto. Quando soube que eu era um feliz proprietário de “Catedral de Vácuos”, o livro inaugural de Berredo de Menezes, Jacques não se aquietou até eu concordar desfazer-me da obra, enviando-a para ele (o que fiz), pois esse livro lhe trazia grandes evocações.

Em 9 de setembro fez seu último contato comigo e aplaudiu um texto que fiz sobre a etimologia da palavra “veterinário”, a profissão dele.

Quatro meses antes, em 5 de maio de 2019, Jacques Medeiros escreveu-me assim, com algo de sibilino ou presciente:

“- As mãos trêmulas.
– As pernas trôpegas.
– O coração mais cheio do nada.
– O futuro bem menor.
São os bônus da idade.”

Agora, para ele já não há mais nada disso.

São os bônus da Eternidade.

Descanse em paz, Conterrâneo, Confrade, Colega, Amigo.

EDMILSON SANCHES
Da Academia Caxiense de Letras.
Do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.
Da Asleama e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

Morre ex-presidente da Academia Caxiense de Letras

Antônio Pedro Carneiro tinha muitos títulos, acadêmicos e profissionais. Sargento, tenente, capitão, comandante e instrutor (do Tiro de Guerra 10-002), diretor (da Ciretran – Circunscrição Regional de Trânsito), diretor (escolas), bacharel (em Direito), escritor…

Mas, quando ele assinava convites em nome da Academia Caxiense de Letras (ACL), que ele presidiu de 2014 a 2016, seu nome era antecedido de “Professor”.

Na tarde desta quarta-feira, 16 de outubro de 2019, o Professor Antônio Pedro Carneiro faleceu em Caxias (MA), cidade à qual tantos e variados serviços prestou, sempre com a marca da seriedade, da eficiência, da responsabilidade. Seu corpo está sendo velado na sede da ACL, na Rua Alderico Silva (antiga Rua 1º de Agosto), centro, de onde sairá, na manhã de 17/10/2019, para sepultamento no Cemitério Aluísio Lobo, anexo ao Cemitério Nossa Senhora dos Remédios.

Aos 88 anos, Pedro Carneiro, além de inteligentes filhos, deixa um legado para Caxias e para o Maranhão, legado que inclui gerações de alunos, atividades como militar, gestor de órgãos públicos, professor e diretor em estabelecimentos de ensino, presidente da Academia de Letras, diversas obras publicadas e a publicar.

Desde que a notícia da morte de Pedro Carneiro foi-se espalhando, um grande número de amigos e conhecidos tem-se manifestado, com registros nas redes e grupos sociais. Um conjunto de pessoas em especial traz relatos em mensagens escritas e em áudios: são os muitos alunos do Capitão, que, entre saudosos e pesarosos, descrevem passagens dos tempos em que estiveram “sob o tacão”, a autoridade inconteste do instrutor militar ou do diretor escolar.

Além de militar do Exército Brasileiro, Pedro Carneiro foi diretor e professor em escolas de Caxias. No Colégio Diocesano, por exemplo, ensinou Inglês, língua em que era diplomado pela National Schools, na Califórnia (Estados Unidos).

Um dos membros fundadores da Academia Caxiense de Letras, Pedro Carneiro ocupava a Cadeira nº 13, cujo patrono é o multitalentoso professor caxiense Jadihel José de Almeida Carvalho, formado em Engenharia Elétrica e Mecânica. Pedro Carneiro publicou pelo menos três livros: “Negritude e Poder”, “Cosmovisão de um Cronista” e “No Mundo da Poesia”, este o mais recente. Seu filho Nehemias Carneiro, disponibilizou versões impressas e eletrônicas (“e-books”) desses livros, inclusive um título novo, “Ternura de Mãe”. Interessados podem consultar o “site” da mundialmente famosa loja de comércio digital Amazon.

Conheci Antônio Pedro Carneiro. Sendo ele de pouca exposição (“low profile”), eu o visitava em sua residência em Caxias. Conversávamos. Falávamos sobre Literatura, Cultura e aspectos relacionados a Gestão Pública e desenvolvimento do município. Ele me presenteou com exemplares de alguns de seus livros. Certa feita, em 2014, junto com um confrade, demoramo-nos em argumentos e contra-argumentos na tentativa de convencê-lo a candidatar-se à presidência da Academia Caxiense de Letras. Como se sabe, naquele ano ele foi eleito presidente, à frente da chapa “Lucy Teixeira”, nome que homenageava a poeta, romancista e contista caxiense (1922-2007) que estudou na Europa e foi a quinta mulher a ocupar uma Cadeira na Academia Maranhense de Letras.

Há menos de três meses, em julho deste ano, procurei saber de notícias dele junto à sua talentosa filha, a bióloga e professora universitária Ester Carneiro, que, sempre alegre, simpática, espontânea, auxiliou-me discretamente no lançamento de um livro meu — “Do Incontido Orgulho de Ser Caxiense” –, durante palestra que ministrei no auditório lotado do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias, evento organizado pela Associação da Velha Guarda Caxiense.

Antônio Pedro Carneiro era cidadão caxiense, conforme Lei Municipal nº 780, de 30 de novembro de 1976. Era oficial da reserva do Exército, posto de capitão.

No terceto final de seu soneto “Catarse”, Pedro Carneiro põe em versos o que se deve desejar a quem não mais está aqui:

“[…] que da morte surja nova vida,
livre de temores, dor e frustrações.”


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