ELEIÇÕES 2022

De olho na reeleição Bolsonaro mira em Dino, Dória e Luciano Huck

O governador Flávio Dino até agora não se expõe claramente como pré-candidato presidencial

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As eleições gerais de 2022 estão distantes três anos, mas já produzem uma inédita efervescência política que chega a empanar até as disputas municipais de 2020. No meio desse tempão, os cenários mudam-se, instantaneamente, a cada movimento do presidente Jair Bolsonaro, dos prováveis concorrentes ao Palácio do Planalto e dos indicadores econômicos e sociais.

Tudo isso tem como pano de fundo o frisson e atritos dentro do Congresso Nacional, com repercussão imediata no Judiciário, operando em consonância com o que se passa dentro e fora dos autos, além de eventual barulho das ruas. Portanto, a antecipação da disputa presidencial pode arrastar o país o alongamento da crise. Ou, quem sabe, produzir resultados positivos, apesar do acirramento do ambiente de confronto que se trava entre o governo federal, os estados que não lhe estendem a mão da reverência, meios de comunicação que se recusam a ceder no papel de crítico de atos oficiais e de cumprir o dever sagrado de divulgar o que interessa à população, conforme prevê o Artigo 5º da Constituição Federal.

Mesmo nesse ambiente de crise, a disputa presidencial de 2022 está mais evidente na pauta presidencial do que até um plano consistente de engatar a marcha do desenvolvimento.

O Maranhão está colocado no centro desse cenário. Não por ser um dos estados mais pobres do Brasil, mas por ter no comando um governador do PCdoB, chamado de “comunista”, como se tivesse implantado no meio-norte do Brasil uma extensão do regime cubano. Flávio Dino usa a estratégia de citar trechos da Bíblia onde quer que discurse, fale em entrevista ou em palestras, afugentando credulidades errôneas e para provar que o fato de sua filiação ao PCdoB não o tornou um “comunista clássico” que abomina a religião e o “capitalismo selvagem” do século XX.

Comunista do século 19
Em 2016, quando Dino já governava o Maranhão por dois anos sob a bandeira vermelha da foice e o martelo, o papa Francisco pode ter ido ao seu “socorro”, mesmo involuntariamente. O pontífice afirmou que também “os comunistas pensam como os cristãos”, ao responder sobre se gostaria de viver numa sociedade de inspiração marxista, em entrevista publicada no jornal italiano “La Repubblica”.

No Maranhão, Flávio Dino tem repetido, em algumas oportunidades, que é “comunista, graças a Deus”, uma referência indireta ao livro de estreia “Anarquista Graças a Deus”, da escritora Zélia Gattai, que o transformou num clássico memorial, familiar, sem a afetiva ideologia anarquista do pai italiano.

O governador enfatiza que não há incoerência nisso, citando o Ato dos Apóstolos, capitulo 4, versículo 32. Pode até ser uma resposta incoerente, como entendeu um dos jornalistas que o entrevistara na Band. Mas é bom saber o que dizem os versículos do livro dos Apóstolos: 32 – “E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que, coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns”; o 34 acrescenta: “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos”; e, finalmente, o 35 é mais direto: “E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha”.

Quando Dino justifica a posição de “comunista”, citando a Bíblia, gera enorme estranhamento em setores religiosos, por exemplo. Mas Flávio Dino foi mais adiante, ao explicar seu “comunismo” cristão. “Ser comunista é defender a partilha, a solidariedade, sobretudo a justiça social”, lógico que são valores que precisam ser atualizados. E ele arremata: “Se acharmos que esses valores estão fora de moda, significa que a sociedade fracassou”. Explica ainda que não há mais a dogmação do século XIX, porque a história vive em permanente mudança.

Direita versus esquerda
Há hoje na política maranhense o confronto ideológico entre a extrema direita dos envolvidos diretamente com o bolsonarismo incipiente – exemplo dos deputados Josimar do Maranhãozinho, Aluísio Mendes, Hildo Rocha e o senador Roberto Rocha – e da esquerda, comandada por Flávio Dino e seus aliados, filiados ou não ao PCdoB. No meio permeiam os sarneístas recalcitrante, ora contra tudo que disser respeito a Flávio Dino, ora sem posição definida no embate dele com Jair Bolsonaro. Na hora de voto, dependendo do que ocorrer nos próximos anos, nada será como antes.

O governador Flávio Dino até agora não se expõe claramente como pré-candidato presidencial. Mas também não nega o desejo de concorrer, quando é perguntado a respeito. Como terá em 2022 o ano mais determinante de seu futuro político e do governo, o “comunista” atua numa estratégia nacional, mas sem perder de vista o quadro estadual de sua própria sucessão. No Maranhão, a corrida ao Palácio dos Leões tem o vice-governador Carlos Brandão, o senador Weverton Rocha, o deputado federal Josimar do Maranhãozinho e o presidente da Assembleia Legislativa, Othelino Neto. Porém, tanto Maranhãozinho quanto Othelino seriam bem acomodados na disputa da única vaga de senador.

Campanha antecipada
Já na distante eleição presidencial de 2022 não é segredo para ninguém que a disputa já começou fazendo enorme barulho. O próprio presidente da República ainda não desceu do palanque – e os adversários, que não são bobos, pegaram o bonde da campanha antecipada. Pouco depois de completar sete meses à frente do governo brasileiro, Jair Bolsonaro revelou a intenção de entregar o ‘país melhor’ em 2026. Ele vai levando de roldão sua aversão a qualquer nome que insinuar-se como interessado em sua cadeira no Planalto. O chega pra lá é imediato e com a dureza de quem está na guerra.

Chamou Flávio Dino de “paraíba”, além de ordenar “nada para o Maranhão” ao chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni. De quebra, mais recente, resolveu atacar os adversários Luciano Huck e João Dória. Huck, ele xingou de “pau mandado da Globo”. Quanto ao governador de São Paulo, com o qual se juntou na eleição de 2018, Bolsonaro o desqualificou, em setembro, chamando-o de ‘ejaculação precoce’, sem chance em 2022, por não ter apoio popular para disputar sua sucessão.

Até a líder de seu governo, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) não foi poupada das bordoadas política do presidente. Ao afirmar que não tem ninguém como candidato a prefeito em 2020, referiu-se a Joice, que anda animada como candidata em São Paulo, apoiada por João Doria: “A Joice está com um pé em cada canoa”, afirmou. Significa que, numa posição dessa não dá para alguém se segurar de pé.

Enquanto o PSL se derrete no calor das ambições e vaidades, Flávio Dino disse, esta semana, ao site de Brasília Metrópoles que, embora sendo um nome cotado para a disputa presidencial, em um cenário hipotético de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sair candidato do PT, ele estará no palanque apoiando a sua volta. 

“Acho que seria a expressão da retomada de uma perspectiva de crescimento, com justiça social e distribuição de renda”, destacou. Dino classifica a vertente política do presidente Jair Bolsonaro como “belicista” e “extremista”, que se mantém alimentando conflitos “contra tudo e contra todos, tanto na área internacional quanto internamente”.

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