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Professor não agrediu palestrante conservador na UFMA

Baccega, do departamento de história, afirma que está processando os responsáveis por espalhar a informação falsa

Parte do vídeo da palestra no hall do CCH, UFMA. (Imagem: Youtube)

Na manhã da última quinta-feira (25), o hall do Centro de Ciências Humanas (CCH) da Universidade Federal do Maranhão foi palco de um tumulto entre alunos com ideologias políticas opostas depois de uma palestra sobre fascismo organizada pela Juventude Conservadora da UFMA, grupo intitulado Carcarás. Logo após o acontecimento, informações e vídeos circularam em blogs e veículos de São Luís.

Segundo essas fontes, a confusão teria sido causada por alunos de esquerda, que incitaram ódio e não permitiram que a palestra, ministrada pelo empresário José Lorêdo Filho, prosseguisse. O professor do departamento de história, Marcos Baccega, ainda teria partido para o embate físico com o palestrante. “Trata-se de uma calúnia”, afirma o professor, que já abriu o processo contra blogueiros e jornalistas responsáveis por compartilhar a informação equivocada.

Em nota, discentes denunciam que o Carcarás “posta em suas redes sociais montagens de vídeos tendenciosos e pequenos textos deturpando o ocorrido”. Assim como foi autorizada a realização do evento pelo diretor do CCH, também foi autorizada a manifestação de quem se opôs a ele. “É um espaço público, da sociedade. Todo mundo tem direito a se manifestar, independente de ideologia”, afirma o diretor Francisco Souza, reforçando que não houve agressão no local.

Entenda o que aconteceu

De acordo com Francisco, a palestra organizada pelo Carcarás intitulada inicialmente de “Fascismo de verdade e fascismo para idiotas” não obteve autorização para ser realizada por causa do nome de tom pejorativo e provocativo. Então, o evento foi renomeado para “O que é fascismo?” e o diretor permitiu.

Cartaz inicial do evento. (Imagem: Carcarás/Divulgação)

Presente no momento, Madian Frazão, do departamento de ciências sociais, conta que alunos fizeram uma intervenção ao fim do evento, quando foi aberto o espaço para falas e perguntas. “Eles [palestrantes] falaram sem ninguém interromper ou se manifestar”, afirma a professora. No momento permitido, os alunos desceram as escadas cantando a música “Cálice” e gritando “ele não”.

“Eu jamais seria favorável a qualquer cerceamento de liberdade, viesse de que ideologia viesse”, declarou Baccega, que também só se pronunciou quando lhe foi dada a autorização pela organização do evento. Na nota oficial dos professores, o palestrante estaria associando a igreja a símbolos monárquicos. Fiel à religião católica, o professor declara que, durante a sua fala, nada fez além de “defender sua igreja de quaisquer conspirações”.

Segundo nota dos professores, alguns presentes na palestra trajavam camisas do Bolsonaro e máscaras de Donald Trump. (Imagem: Instagram)

Em seu depoimento, José Lorêdo afirma que Baccega havia se comportado de uma maneira muito respeitosa até depois que o evento já havia terminado, quando, em sua fala, “acabou incitando os alunos a adotar uma postura mais revoltada em relação à gente”. Graças a isso, segundo o empresário, eles teriam desligado a aparelhagem de som e entoado palavras contra os conservadores. Nas palavras dele, houve balbúrdia, mas não houve agressão física.

Segundo os professores, a palestra organizada pelos Carcarás tinha caráter provocativo e deturpava conceitos históricos. Confira a nota sobre o acontecimento:

NOTA DE ESCLARECIMENTO E MOÇÃO DE APOIO AO PROFESSOR MARCOS BACCEGA

Nós, professores e estudantes presentes na manhã de vinte e cinco de outubro de 2018 no hall do CCH, no evento intitulado “Fascismo de verdade e fascismo para idiotas” viemos a público, juntamente com o coletivo da comunidade acadêmica que está na defesa permanente da democracia, manifestar nossa indignação e pedir justiça em relação às calúnias que estão sendo veiculadas pelo Grupo Carcarás – Juventude Conservadora da UFMA e através do blog Diego Emir, contra o professor Marcos Vinícius de Abreu Baccega – Doutor em História Medieval pela USP, Professor do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da UFMA – e contra o corpo docente e discente do Centro de Ciências Humanas presente, nas redes sociais.
Depois de uma fala de mais de quarenta minutos de um dos integrantes do grupo, a qual trazia questões como Hitler sendo “nacional-socialista” e o posicionamento da igreja permeada por um ambiente com símbolos da monarquia, dos templários, camisetas do Bolsonaro e máscaras do presidente dos Estados Unidos foi realizado por estudantes e professores do centro o ato performativo “Cálice”. Descendo as escadas do prédio, um grupo de estudantes e professores entoaram trechos da música “Afasta de mim esse cálice” e, em seguida, foi entoado um coro “ele não”. Quando houve um momento de pausa, os organizadores do evento abriram espaço para três perguntas. O professor Baccega, utilizando do momento aberto para as falas, pediu para se pronunciar. Disse que não tinha uma pergunta para fazer, mas uma consideração: “Primeiro uma saudação à brigada da liberdade [aplausos da comunidade acadêmica do ato performativo] …E veja não é uma pergunta, é uma observação, aliás é uma impregnação, eu falo em nome da ordem dos jesuítas, aqui. Católico é quem obedece juramento de Medellín de 78 e Puebla de 79, a igreja da América Latina fez uma opção preferencial pelos pobres!”. Nesse momento, é ovacionado pelos estudantes da UFMA que se posicionaram contra o fascismo.
O grupo Carcarás, após o ocorrido, posta em suas redes sociais montagens de vídeos tendenciosos e pequenos textos deturpando o ocorrido, e, acusando estudantes, professores e mais especificamente o professor supracitado de terem os agredido verbal e fisicamente, sido interrompidos e expulsos do CCH. Queremos deixar claro que o ato performativo realizado por estudantes, professores e a fala do professor em questão foi uma manifestação contra o avanço do fascismo, contra os discursos racistas e homofóbicos que se travestem pela insígnia de “conservador”, contra os símbolos do autoritarismo do momento presente e de regimes totalitários históricos. A deturpação dos fatos é criminosa e se insere numa tentativa de silenciamento daqueles que lutam pela democracia e em defesa da universidade pública.

Assinam a Nota:
Departamento de Artes Cênicas
Departamento de Sociologia e Antropologia
Departamento de História
Centro Acadêmico Reynaldo Faray
Associação de Professores da Universidade Federal do Maranhão (APRUMA)
Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA)
Grupos de Estudos de Hegemonia e Lutas na América Latina (GEHLAL)
Grupo de Estudos e Pesquisa de Ontologia do Pensamento Social (GEPOPS)
Grupo de Estudos de Política, Lutas Sociais e Ideologias (GEPOLIS)
Grupo de Estudos e Pesquisa em Trabalho e Sociedade (GEPTS)
Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Epistemologia e Educação
Núcleo de Estudos e Pesquisas Mulheres, Relações de Gênero e Cidadania (NIEPEM)

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