Antagônicos, Flávio Dino e Bolsonaro terão que provar capacidade de diálogo
Em posições políticas completamente opostas, governador do Maranhão e futuro presidente do Brasil terão que provar que podem conversar, apesar das diferenças
Como único estado do Brasil sob o comando de um governador do PCdoB, Flávio Dino, o Maranhão situa-se, com a eleição de Jair Bolsonaro, do ponto de vista ideológico, no extremo oposto ao comunismo. Os 57,8 milhões de votos (55,13%) despejados para Bolsonaro nas urnas de domingo passado, contra 47 milhões (44,87%) do petista Fernando Haddad têm muito a ver com o Maranhão de Flávio Dino. Afinal, foi uma vantagem de 1,5 milhão de votos pro Haddad.
Dos 2017 municípios do Maranhão, apenas em Imperatriz, Açailândia e São Pedro dos Crentes, o presidente eleito do Brasil venceu. No geral, o candidato do PT ganhou com 73,26% dos votos válidos contra 26,74% de Bolsonaro. Belágua, pequeno município da região leste maranhense, com 7,1 mil habitantes, e um dos mais pobres do Brasil, deu a Fernando 93,66% dos votos. Foi a repetição da votação de 2014 em Dilma Rousseff, com 93,93%. Perto de 69% dos moradores vivem do Bolsa Família.
Mas o confronto de votos entre Bolsonaro e Haddad no Nordeste resultou num quadro em que a região volta a repetir outras eleições recentes. E não é sem motivo. Entre 2002 e 2015, nos governos Lula e Dilma, o Nordeste cresceu em média 3,3% ao ano, juntamente com Norte, que teve 4,3% de incremento e Centro-Oeste, 4,1%. Portanto, foram as regiões que mais aumentaram sua participação no PIB brasileiro. Os estados do Piauí, com crescimento anual de 4,8%, Maranhão (4,5%), Paraíba (4,1%) e Ceará (3,5%) foram destaques no cenário nordestino.
O Maranhão no meio
Já no governo Flávio Dino, o crescimento do Maranhão, apontado como o campeão de pobreza nacional, foi o maior do Brasil, com 9,7%, em 2017, de acordo com relatório feito pelo setor de estudos estruturais do Itaú, valendo-se de levantamento do IBGE, publicado no dia 10 de março, pelo jornal folha de S. Paulo. Quanto a eleição de domingo, o mapa do portal G1 mostra que não só o Nordeste, mas também parte do Norte, preferiu votar em Haddad.
Bolsonaro venceu em 2.760 municípios do Brasil, Haddad levou a melhor, em número de cidades, com 2.810 municípios. Nesse contexto regional, o mais provável é que os governadores vão se aglutinar num bloco, a exemplo do que fizeram logo no começo da gestão de Michel Temer, para tratar com o Planalto. Isoladamente, ficaria impossível, já que o estilo Bolsonaro precisar ser ainda demonstrado fora da campanha e com ele sentado na cadeira principal do Palácio do Planalto.
Relação com Flávio Dino
Em entrevista, ontem, ao portal UOL, sobre a eleição de Bolsonaro, Flávio Dino disse acreditar que o Supremo Tribunal Federal (STF), em particular, deve atuar fortemente como um poder moderador em “eventuais arroubos de retrocesso, não só no plano social mas em outros terrenos como da moral. Será o STF que dará equilíbrio no jogo que se estabelecerá a partir de janeiro. Até mais que o Congresso Nacional”, avalia Dino, que foi juiz federal por 12 anos e presidente da Associação Nacional dos Juízes Federais.
“O Supremo também deve caminhar nessa direção de ser importante poder de contenção de eventuais propósitos antidemocráticos e de proteção desse legado que é a constituição de 1988″, acrescentou Flávio Dino. Ele entende que quanto mais possa acontecer [políticas sociais] será melhor. “Estamos numa sociedade brutalmente desigual. Qualquer agenda de benefícios sociais é positiva. Apenas uma visão de meia dúzia de bárbaros pode achar é viável existir meritocracia num país tão desigual no que se refere a oportunidades”.
Por sua vez, senador eleito Weverton Rocha (PDT), deputado ainda líder do PDT na Câmara, anunciou, por suas páginas nas redes sociais, que fará oposição ao governo do presidente eleito Jair Bolsonaro. Para ele (Weverton), que tomará posse no Senado no dia 1º de fevereiro, um mês depois de Bolsonaro no Planalto, “o resultado das urnas deve ser democraticamente aceito porque representa a vontade soberana do povo brasileiro”.
As bandeiras do sucesso
Também o analista político Hesau Rômulo, professor da Universidade Federal do Tocantins, disse que Bolsonaro tornou-se a liderança mais expressiva da América Latina. Com ele, a extrema direita chegou ao poder pela via eleitoral. No Brasil, diante do descrédito da população nas instituições, Bolsonaro se apossou de três bandeiras que lhes deram tamanha grandeza eleitoral: “A família, a Igreja e o Exército”.
“Bolsonaro surfou na crise de liderança partidária, com a dissolução do PSDB, Lula preso e a incapacidade surgirem novas lideranças. Ele soube capitalizar em cima do eleitorado brasileiro, que historicamente tem um viés autoritário. O candidato do PSL entendeu tudo isso e conseguiu atrair para si toda a angustia, o medo coletivo da violência. E mesmo assim todo mundo sabia que era quase impossível o PT eleger cinco presidentes seguidos.
E Flávio Dino, que arregaçou as mangas desde o impeachment de Dilma Rousseff, depois na prisão de Lula e na campanha de Fernando Haddad, qual o seu papel na esquerda agora e como será sua relação dom Bolsonaro no outro estremo ideológico?
– Vejo uma situação bastante complicada não só no Maranhão quanto o Nordeste com um todo. Sem dúvida será um teste para a habilidade de Flávio Dino negociar as questões maranhenses com Brasília. Essa habilidade passa também pela a renovação da Assembleia Legislativa, onde as bancadas estão bastante divididas, quanto na Câmara em Brasília. Os apoios institucionais são bastante pulverizados e isso pode criar dificuldades ao governador do PCdoB.
Já o caso de o grupo Sarney haver se apegado, no fim da campanha, à imagem de Bolsonaro já vitoriosa, Hezau vê como isso poderia render alguma fatia de poder, fruto dessa aproximação. “Vai contra o que Bolsonaro tem pregado. Ele diz ser contra as praticas da política velha”. Além do mais, já tem muita gente do presidente pronta a ocupar os espaços no governo. Embora, se reconheça que Sarney, desde 1965, quando foi o 1º governador entrada do pais na ditadura e o último presidente na saída da ditadura, mas, mesmo assim, o espaço ainda é muito nebuloso.