Entrevista Exclusiva

Zé Reinaldo: “Eu quero é unir os políticos”

Tucano falou sobre sua ligação com os políticos maranhenses, dos projetos para o Senado e suas motivações

(Foto: O Imparcial)

O atual deputado federal Zé Reinaldo (São Luís, 1939) mira agora o Senado. Filiado ao PSDB, já esteve ligado a José Sarney, de quem foi Ministro dos Transportes, mas rachou com o ex-presidente no início dos anos 2000, quando foi governador do Maranhão.

Nessa época, apoiou Flávio Dino, que começava na carreira política. Atualmente é adversário político de ambos, pelo menos no espectro político.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Imparcial, o candidato falou sobre sua ligação com os políticos maranhenses, seus projetos como Senador, e a motivação de colocar seus nome à disposição do povo em mais uma eleição.

 

Qual é sua motivação em ser candidato ao Senado?

O Maranhão precisa de gente experiência para resolver seus seríssimos problemas. O problema fundamental é o da pobreza. 50% das famílias vivem apenas do bolsa família. Ou seja, não tem emprego, não tem renda. A renda per capita do Maranhão é a menor do Brasil. E aqui nós vemos os indicadores de educação, de saúde e infraestrutura muito ruins. De modo que nosso estado precisa de ajuda. Na idade que eu estou, com a experiência que eu tenho, de ter sido Governador, Ministro, prefeito de Brasília, de conhecer muita gente. Como deputado eu trouxe 73 milhões para diversos municípios.

A bancada de deputados do Maranhão, composta por 18 pessoas, representa apenas 3% da Câmara dos Deputados. E é uma bancada que não tem opinião pública nacional, principalmente por ser pobre e por ser pequena. São Paulo, por exemplo, tem 70 deputados, então tem voz. Já no Senado todos os estados tem três representantes. É de igual para igual. A força de um senador é muito maior que a de um deputado. Infelizmente os senadores do Maranhão nunca mostraram essa força em benefício para a população. Por isso a população precisa saber o papel do Senador para ter o mesmo cuidado em escolher como quem escolhe um governador.

Então, me motiva muito essa luta para resolver os problemas fundamentais do Maranhão, principalmente o da pobreza, porque eu não vejo como o Maranhão crescer com 50% da população em uma zona de pobreza muito grande.

E qual projeto seu em especial pode ajudar o Maranhão a sair dessa situação?

Eu tenho um projeto que coloquei no programa do Alckmin, não é uma ideia minha, embora eu pense do mesmo jeito. A ideia é de James Heckman, Nobel de economia, professor da Universidade de Chicago, que faz avaliações de programa sociais. Ele veio fazer uma palestra no Brasil chamada “por que cuidar das crianças de 0 a 6 anos”, então depois disso eu fui ler os livros dele e pensei: “esse professor estava olhando Maranhão, não é possível…”. E ali encontrei a chave que eu acho para nós equilibrarmos o Maranhão, sem o qual eu não acredito que o Maranhão possa se desenvolver. Se não resolvermos esse problema nosso estado nunca será o estado que nós todos queremos. E o problema é a pobreza. Ora, vou lhe explicar o seguinte: qual é a base do programa do professor Heckman? A cabeça das crianças, de 0 a 5 anos, é uma “esponja”, eles absorvem tudo nessa idade. E a Constituição de 1988 diz que a educação até o ensino fundamental é responsabilidade maior das famílias, mas nós temos metade das famílias muito pobres. Então, que tipo de educação nós podemos ter para fazer essa criança chegar ao ensino fundamental em condições de igualdade com as crianças mais ricas? O cerne do programa e esse: nós vamos cuidar das mães desde o pré-natal, nutrição apoio, e depois das crianças, primeiro nas creches e depois no ensino infantil de alta qualidade. O que nós queremos é formar cidadãos, eles serão preparadas para a vida. Serão educadas para chegar de igual para igual no ensino fundamental, mas, principalmente, elas vão saber qual é o valor emprego, de um trabalho, vão ser educadas com atividades esportivas, culturais, nós vamos formar o cidadão de amanhã, nesses centros que nós faremos. De modo que, se esse programa for aplicado ele resolve os problemas que estão latentes no nosso estado. O problema da mortalidade infantil voltou a crescer no Maranhão, e esse programa abarca tudo isso, combate à desigualdade social, por que os alunos vão chegar de igual para igual, combate a pobreza e forma novas gerações: nós vamos formar um novo Maranhão.

Então eu almejo o senado pelo poder de fazer o bem e resolver os problemas fundamentais. Eu deixei de ser senador em 2006 para eleger o Jackson, ali eu tinha uma eleição tranquila se eu fosse um político oportunista. Quando o Flávio foi eleito em 2014 os direitos morais para ser candidato ao Senado eram meus, mas abri mão de novo para manter a coligação unida em torno do Flávio. Agora chegou minha vez.

O senhor é apontado como um dos responsáveis pela vitória do Jackson Lago, a primeira grande derrota da família Sarney no Maranhão. Agora, acusam-lhe de estar fazendo o jogo da família Sarney para tirar os votos da oposição a eles.

Eu não estou no jogo de ninguém, eu estou no jogo do Maranhão, no jogo de combater a pobreza. É claro que eu não tenho inimigos hoje. É claro que eu não vou atacar ninguém da família Sarney, nem do governador Flávio Dino também. Eu ajudei a fazer um artigo dizendo que as forças políticas do Maranhão deveriam se unir em torno dos grandes projetos, e eu ajudei a realizar uma união assim na Câmara dos Deputados. Lá, pela primeira vez os 18 deputados se uniram para fazer alguma coisa importante para o Maranhão, e está aí o ITA, um projeto que nós tivemos o apoio de toda a bancada, bem como a duplicação da São Luís de Teresina, que está sendo feita.

Eu não sou um desagregador, não querer brigar, eu quero é unir os políticos para resolver… como eu disse: 3% da bancada não tem força nenhuma. Mas o Maranhão tem políticos importantes, que se eles se unirem em torno de projetos importantes terão sucesso em colocar em prática sem dúvida nenhuma.

Como engenheiro o senhor foi responsável tanto pela ponte São Francisco, que liga o bairro São Francisco ao São Luís, e em Brasília pela ponte Honestino Guimarães, que liga dois importantes pontos da cidade. O que inviabilizou a construção da ponte que liga Flávio Dino ao ex-presidente José Sarney?

Bem… (risos). Eu acho que aí faltou um pouco de compreensão política. O presidente Sarney, diga-se com justiça, até que se interessou bastante. Mas o governador Flávio Dino não quis levar em consideração… mas não é uma crítica, é só política e cada um pensa do jeito que quiser.

Então o senhor acredita que PSDB do Maranhão se apresenta como uma terceira via, ou no nosso estado ainda estamos falando de pró-Sarney e anti-Sarney?

Se analisarmos as pesquisas veremos apenas dois candidatos principais, Flávio Dino e Roseana Sarney. De forma que não importa o que eu pense, é assim que o povo pensa, essa é a realidade hoje. Mas é uma realidade em mutação, porque eu acho que essa é a última eleição que esses nomes consagrados estarão em disputa de cargos tão importantes. Na próxima eleição para governador já virá toda essa turma nova que emerge com outras ideias e outras realidades para enfrentar.

As mesmas pesquisas que apontam uma polarização para governador colocam o senhor oscilando entre o quarto e quinto lugar na corrida ao senado. Como reverter esse quadro em um período tão curto, com pouco tempo de horário eleitoral?

Eu estou falando de pesquisa qualitativa. Pesquisa quantitativa eu não acredito em nenhuma dessas que foram publicadas aí (risos). E a metade da população ainda não decidiu candidatura, de modo que eu não vejo ninguém consolidado. Mas uma coisa é importante: a população, tenho certeza, vai se preocupar em olhar o que o candidato já fez. Tem gente que promete mundos e fundos, mas ele já fez alguma coisa? Se não fez, você pode acreditar 100% que ele vai fazer só porque ganhou a eleição? Os senadores do Maranhão, com exceção do Roberto Rocha que tem se esforçado para conseguir alguma coisa. Mas os senadores do Maranhão estão devendo muito trabalho. Se a população não sabe direito o que é um senador, é porque os políticos não mostraram isso em benefício para a população maranhense.

Acho que a candidatura ao Senado é uma candidatura a ser construída. E vai pesar o que essa pessoa já fez. Eu me orgulho muito de ter trabalhado tanto no Maranhão como fora do Maranhão. Não sei se você sabe, mas o projeto de transposição da bacia de São Francisco é meu! E ele está aí atendendo mais de um milhão de pessoas… e todo mundo quer ser o dono: Lula quer ser o dono, Temer querendo ser o dono.

Mas quando eu lutei e desenhei o projeto com apoio do Banco Mundial, eu sofri um combate violento Jornal Estado de São Paulo, por exemplo. A Norte-Sul, tudo aquilo é traçado meu, e todo mundo sabe o quanto eu sofri por aquela ferrovia. Mas na hora que ficar pronto aí sim o pessoal do Maranhão vai ver qual é o valor daquela ferrovia.

Eu aqui eu já fiz tanta coisa. Agora estou lutando pelo centro espacial, que está se tornando uma realidade. Propus uma compensação aos quilombolas através de um fundo de cada lançamento de foguete, eu trouxe o ITA para cá para fazer um grande curso de engenharia para que o Maranhão não fique de fora dos lançamentos. Fui à Índia, à China atrás da refinaria…

Eu tenho lutado minha vida inteira pelo Maranhão e pelo Brasil. Como senador vou lutar principalmente pelo Maranhão, porque essa comunidade pobre precisa de apoio.

O senhor é conhecido como um grande articulador, que evita conflito e tentar unir a classe politica maranhense. Em certa medida, você tem essa carreira de sucesso por apoio do Sarney, de Ministro do Estado ao governo do Maranhão ele te apoiou. Como você define a figura do José Sarney?

José Sarney é um dos camaradas… Camarada não! (risos). É uma das pessoas mais preparadas politicamente. E a prova disso é que um maranhense chegou a Presidente da República; de forma que você querer diminuir o Sarney está contra a realidade dos fatos. Sarney é um homem extremamente preparado, muito inteligente, e eu tenho procurado unir todo mundo. Porque se o Sarney entra nesse negócio para valer de combate à pobreza, ele pode ajudar muito. O Flávio Dino, esse projeto também apresentei para o Flávio. Eu não quero colocar ninguém de fora, eu quero é unir todo mundo.

Sarney é um dos nomes mais preparados. Acho que tem dois políticos no Brasil hoje muito acima dos outros: Lula e Sarney.

O senhor tem também uma relevância na vida de Flávio Dino, por ter apoiado ele nas primeiras eleições. Hoje, qual é a importância do Dino no Maranhão e no Brasil?

Flávio é um homem extremamente preparado, intelectualmente muito bem preparado, lê muito, inteligente, fala bem. Eu vi nele naquela ocasião um início de renovação da política do Maranhão, quando ele me procurou querendo ser apoiado para ser deputado federal. Eu incentivei o Flávio a ser candidato a prefeito e ele quase ganha. Depois eu incentivei ele a ser candidato ao governo [em 2010] e ali ele preparou a eleição dele de 2014, que foi uma coisa de consenso da população do Maranhão.

Eu vejo o Flávio com grandes qualidades, infelizmente ele não é um político no sentido que… Veja bem, o que é política?  A política nada mais é do que a arte da convivência humana. Você tem que arranjar pessoas que achem que sua ideia está certa para fazer o consenso e fazer os compromissos políticos. O Flávio, nesse ponto, ele peca, ele não é muito de conversar com os políticos, ele tem o jeito mais dele, ele tem suas convicções e impõe suas convicções ao próprio grupo dele. Ele é um político realmente muito importante no Maranhão e está se tornando uma figura nacional. Eu espero que ele consiga.

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