Pâmela Maranhão, a única candidata travesti do estado
Neste ano, a quantidade de candidaturas trans e travestis no Brasil é quase 11 vezes maior do que em 2014. No Maranhão, só há uma: Pâmela, que pretende ser a voz das minorias na assembleia
Nas eleições, a participação de candidatos que se identificam com o gênero oposto ainda é muito baixa – mas esse quadro tem mudado de uns tempos para cá. Um levantamento feito pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) aponta que, no Brasil, em 2014, havia apenas 5 candidatas trans, enquanto, neste ano, contam-se 53, indicando um aumento de quase 11 vezes. No Maranhão, a pessoa que faz jus a esses números é Pâmela Maranhão, primeira e única travesti do estado que, nas eleições de 2018, hasteia a bandeira arco-íris na tentativa de representar politicamente sua população como deputada estadual.
“Assumindo o trabalho com todas as cores” é o lema da campanha de Pâmela, que diz não enquadrar sua militância somente a pessoas trans e travestis. “Minha luta é contra o machismo, o racismo e qualquer tipo de intolerância”, declara a candidata, ao compartilhar alguns dos projetos que pretende defender na assembleia. Entre as propostas, a principal é a criação de núcleos de direitos humanos regionais – em defesa de todas as minorias – em vez de concentrados somente na capital. Também são projetos a abertura de mais Delegacias Especiais da Mulher com delegadas mulheres para combater o feminicídio; creches em tempo integral para mães solteiras; e o parlamento ser ocupado por 50% homens e 50% mulheres, a fim de representar de fato a sociedade no congresso.
Nascida em São Domingos do Maranhão, Pâmela trabalha em um programa de rádio chamado “Toque de Mulher” onde é conhecida como Rainha do Abacaxi. Tenta se eleger desde 2012. Se lançou duas vezes como candidata a vereadora do Partido dos Trabalhadores – ao qual permanece filiada até hoje -, e duas vezes a deputada estadual, contando com 2018.
Segundo ela, devido à iminência de haver uma travesti no parlamento maranhense, houve resistência por parte das pessoas ao seu redor quando revelou que planejava se candidatar. “Em nosso país, a transfobia é institucionalizada, mas a militância nos prepara para esse tipo de coisa”, ela declara, otimista.
Representatividade
Configurando-se como o país onde mais se mata transexuais e travestis no mundo, o Brasil, em pleno 2018, tem a transfobia como empecilho para uma maior representatividade na política. Caminhando em passos de formiga, somente em abril deste ano o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reconheceu a possibilidade da autoidentificação constar nos dados eleitorais. Isso significa que eleitores e candidatos trans poderão oficializar seu nome social – como preferem ser chamados – e solicitar a mudança de gênero no registro. O processo não é burocrático; basta solicitar a mudança.
Apesar de não ser inclusa no documento do título, a informação será validada no Cadastro Eleitoral, contando para o cálculo dos percentuais mínimos e máximos de gênero no pleito deste ano, de acordo com a legislação eleitoral. São dois gêneros, masculino e feminino, e uma mulher trans que solicitar a mudança entrará na cota feminina nas legendas, tendo direito ao fundo partidário da mesma forma que as demais mulheres.
Presidente da ANTRA e mulher trans, Keila Simpson explica o crescimento de candidaturas de trans e travestis como uma resistência ao aumento do conservadorismo. Para a ativista, não basta eleger candidatos que defendem a causa; a real representatividade se dá quando os próprios indivíduos LGBT’s ocupam os cargos. “O corpo de uma mulher trans, de uma travesti, é sua própria bandeira”, explica Keila. “Ela está hasteada em qualquer lugar que ela vá”. Pâmela segue a mesma linha de raciocínio: “Somos nós que sentimos, na pele, a dor que a transfobia nos provoca; então somos nós que devemos gritar”.