Alexandre Almeida: “Defendo um novo critério na divisão dos tributos”
Candidato se posicionou contra a descriminalização do aborto, mas aberto ao debate sobre o porte de armas de fogo.
Deputado estadual pelo segundo mandato, o advogado Alexandre Almeida (PSDB) tem apenas 35 anos e se lança ao Senado como “o candidato mais jovem do Brasil”. Em seu discurso bate na tecla que a mudança é necessária instantaneamente, e não para o futuro distante.
Prometendo o novo, afirma ter clareza sobre o que é política: um instrumento de transformação. Em entrevista ao jornal O Imparcial, o candidato respondeu perguntas sobre as “novas pautas” que surgem no debate político contemporâneo. Entre elas, posicionou-se convictamente contra a descriminalização do aborto, mas aberto ao debate sobre o porte de armas de fogo.
O que você está defendendo, qual é a sua bandeira?
Eu entendo que nós temos uma batalha urgente que é um Maranhão justo, pra já! Nós estamos cansados de ficar sob promessas. Nós defendemos que o Maranhão precisa ser melhor agora. E nós entendemos que saúde, segurança, educação, para agora.
Mas o que difere você dos outros candidatos?
Primeiro a idade, eu sou o candidato mais novo da história do Brasil. Segundo, nós defendemos uma renovação política de verdade no senado nacional. Não basta ser novo na idade, tem que ser novo nas práticas políticas. É também necessário que nós precisamos enfrentar o problema do Maranhão agora. Quantos Senadores o Maranhão já teve quenão foram capazes de tirar nosso estado da realidade que ainda hoje vivemos.
Todo ano quando o IBGE divulga os indicadores sociais, o Maranhão figura entre os piores do Brasil, porque os Senadores, deputados estaduais e congressistas, com a sua experiência, não são capazes de resolver esse problema histórico. Então nós defendemos uma postura diferente.
Veja bem, deputado. Apesar do discurso de novo, o senhor está em um partido que atua de maneira um tanto quanto conservadora na esfera nacional. Um partido que de certa forma defende a manutenção de valores tradicionais. Então, que renovação política é essa que o senhor está falando?
O Brasil vive uma crise de representatividade, e essa crise afeta todos os partidos, por isso eu defendo uma reforma política urgente. Um reforma que valorize uma democracia partidária, e que dentro dessa reforma nós possamos ter uma diminuição de deputados e senadores, que essa reforma seja capaz de fazer com que os partidos e os representantes escolhidos pela população representem na essência os interesses da população. Hoje o candidato se apresenta em época de eleição prometendo defender os interesses da população, mas quando se elege defende mais os interesses de governo, partidos, empreiteiras e bancos, do que da população.
O ex-presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati, disse essa semana ao jornal O Estado de S.Paulo que o partido errou em questionar o resultado das eleições de 2014, aprovar ‘pautas-bomba’ apenas para ser contra o PT, mergulhar de cabeça no projeto Aécio Neves, e principalmente entrar no governo Temer. Nas palavras dele: “Fomos engolidos pela tentação do poder”. Você, como candidato ao senado, concorda com esse mea culpa, acha que seu partido errou?
Eu entrei no PSDB faz 5 meses, e entrei por uma razão muito específica: fui convidado a disputar o cargo de senador. Meu ex-partido só me dava a oportunidade de disputar a reeleição de deputado estadual. Na minha cabeça, o fato de receber esse convite, demonstra que o PSDB tem o interesse de ter uma nova postura política no Brasil.
E como explicar para o eleitor que essa mudança de partido envolve, mais do que a conveniência de disputar o Senado, uma identificação ideológica com o partido?
O maior compromisso que eu tenho é com a população maranhense, trabalhar para implantar projetos que de fato possam melhorar a segurança do país. Nesse caso, por exemplo, defendo a municipalização da segurança pública. Um novo critério na distribuição das receitas oriundo dos tributos no Brasil: é inadmissível 64% desses tributos estar concentrado na União, 23% com os estados, e apenas 13% com os municípios. Entendo também que precisamos implantar medidas públicas que obriguem os municípios a desenvolver projetos na área do esporte, cultura e lazer, com a mesma natureza do FUNDEB e do Fundo Nacional de Saúde. E isso tudo só será possível com a redução do nosso estado, e por isso mais uma vez eu destaco a necessidade de reduzir um terço o congresso nacional e reverter todo esse recurso em políticas públicas para a população. Por isso meu compromisso é representar a população. Então toda essa questão partidária será resolvida se nós promovermos uma reforma política que valorize de fato o mandatário como o real representante da população.
Logo, se defende a redução do Estado, o senhor se coloca como um candidato à direita.
Essa coisa de direita e esquerda é muito mais de pensador do que de funcionalidade na prática. O que nós precisamos é fazer com que o estado funcione na prática.
O partido da situação acusa os atuais senadores de não colaborarem com o governador. Caso você seja eleito, e o seu candidato ao governo não, como seria sua atuação?
Tendo sempre no horizonte defender os interesses da população. Essa será a tona do nosso mandato.
Então hoje, por exemplo, você sentaria numa mesa para conversar com Flávio Dino?
Sem dificuldade alguma, eu sou do diálogo. Não podemos ter políticos representado grupos, partidos, e fazer uma divisão da sociedade. Nós precisamos ter a compreensão que nosso papel é defender os interesses de toda população.
Uma coisa está confusa, candidato. Como um senador eleito vai defender os direitos do eleitor se ele não deve representar partidos, e ao mesmo tempo ser alguém que represente uma ideia maior que sua própria figura? Porque ao mesmo tempo em que o senhor me diz que nós vivemos uma crise onde as pessoas votam em pessoas e não em partidos (ou ideias), o senhor diz que é importante defender os direitos do povo sem ideologia. Nós podemos aprofundar o assunto e trazer acadêmicos para dizer o que é esquerda ou direita, mas alguns atos óbvios colocam um partido mais à esquerda e outros mais à direita.
Olha só, quando o eleitor vai pra urna, ele tem a compreensão que cada cargo tem um papel diferente. Ele não se preocupa em escolher o senador do governador, ou o deputado do governador, porque ele quer que o senador seja o senador do governador. O eleitor quer que o senador seja o senador dele. Essa divisão é muito mais uma obra de arte dos políticos profissionais do que algo que contemple a população. No fim de tudo, o que o povo quer é que a vida melhor a partir de políticas públicas que estão nas mãos dos seus representantes. Por isso que eu me afasto dessa discussão de direita e de esquerda, porque eu não consigo ter a compreensão do que é direita e o que é esquerda. O que eu tenho de compreensão é que a política é um instrumento que todos nós temos para construir uma sociedade melhor.
Nas entrevistas recentes que O Imparcial realizou com os postulantes ao senado algumas perguntas se mostraram importantes a nível nacional, inclusive com retorno do eleitorado via redes sociais. Uma delas é a questão do aborto, que ganha força na América do Sul após aprovação no Uruguai e avanço na Argentina. Como o senhor encara essa pauta?
Eu sou contra o aborto. Mas tenho uma preocupação clara que nós temos que ter a capacidade de desenvolver políticas públicas para dar as mulheres o direito de ter uma gravidez com condições seguras de ter o seu filho.
Mas, sendo contra, se essa pauta chegue ao Senado e o senhor é um dos eleitos, você se posicionaria contra?
Sou contra.
Acha ao menos que ela deve ser discutida?
Discutida sim. Tanto é importante a discussão que eu defendo a implementação de políticas públicas. Quantas mulheres de alguma maneira tiveram que abortar porque faltou para elas um tratamento de saúde para que ela possa ter a segurança da sua gravidez.
Mas o que estou colocando em pauta não isso. Estou falando da mulher que quer deliberadamente interromper a gravidez, seja por observação médica ou não.
Estou te dizendo que sou contra o aborto, e tenho uma preocupação a mais que é garantir para essa mulher tenha acompanhamento psicológico, médico…
Mas a mulher não quer ter um filho ela não vai ter, clandestinamente ou não, o aborto é uma realidade. Essa é a discussão.
Calma aí. Ela não quer ter o filho?
Não.
E ela engravidou?
Sim, por algum motivo… independente do motivo, desde uma agressão ou uma noite mal planejada.
Tem a prevenção pra isso. Agora, eu quero acreditar que esse assunto não seja colocado assim com tanta banalidade. Nós estamos falando de uma vida. E a mulher não pode, porque ‘eu brinquei numa noite, engravidei, não quero ter filho’. Filho é uma coisa sagrada, uma coisa divina. Por isso, repito, sou a favor da vida. Por isso sou contra o aborto. E sendo a favor da vida, preciso garantir a mulheres brasileiras política pública que de a ela segurança nesse processo de gravidez.
Mas você não acha que quem deve decidir sobre esse tema são as mulheres, e não nós, homens, brancos, heterossexuais?
Eu sou a favor da vida.
Ok. Outra tema, desses “novos assuntos”, é a legalização das drogas. Outra pauta que poderá chegar ao senado na próxima legislatura.
Olha só, será que o Brasil está liberado para a liberação? No caso da maconha, ou das drogas em geral você está falando?
Pode ser da maconha, vamos abordar o tema da maconha.
A pergunta que eu quero fazer é: será que Brasil está preparado para isso? Esse é um debate necessário.
Então o senhor gostaria de ver esse debate sendo discutido amplamente, em rede nacional?
Sim, sim…
Você disse que é a favor da municipalização da segurança pública. Como isso funcionaria? Esse é o carro chefe da sua campanha?
Sim. A constituição da a competência de fazer apenas a guarda do patrimônio. Eu entendo que os municípios precisam ter protagonismo nesse trabalho de enfrentamento a criminalidade. Mas não basta apenas a competência, temos que dar condições financeiras para os municípios desenvolverem isso. Por isso defendo novo critério na divisão dos tributos. E da mesma forma defendo a diminuição do estado. Tudo isso tem como objetivo tirar dinheiro de privilégios e salários, e colocar de fato onde precisamos ter receita.
Um candidato que lidera as pesquisas presidenciais defende a liberação do porte de arma. Nesse projeto de municipalização e segurança pública, como se encaixa esse tema?
Nós precisamos fazer um debate muito mais amplo. Então eu me permito dizer que prefiro participar do debate querendo entender o que de fato diz quem defende o porte autorizado por lei do que nesse momento emitir uma opinião.
Será que não é esse o posicionamento que o senhor deveria ter em relação ao aborto?
Não. Eu sou muito convicto em relação ao aborto e não vou abrir mão de ser a favor da vida.