Campanha eleitoral faz ideologias políticas virarem pó
Em ano eleitoral, os partidos políticos seguem se misturando em busca de sucesso nas eleições de outubro para adquirir poder estadual e federal. No Maranhão, esse cenário é claro
A esquerda maranhense vive hoje momentos tão confusos quanto o tecer de renda de bilros diante de um japonês. As fronteiras do esquerdismo comunista no Maranhão são tomadas por peças tão diferentes como se fosse uma loja de secos e molhados. Também a direita e centro, sedimentados no sarneísmo, se misturam, formando uma nuvem de ambições, oportunismo e arranjos de última hora, tudo para enfrentar nas urnas o inimigo comum: Flávio Dino de Castro e Costa, do PCdoB.
Como os partidos sempre se misturam nas eleições em busca de espaço no poder estadual e federal, este ano não será em nada diferente. O Maranhão vai completar, em 2018, 53 anos da eleição de 1965, quando José Sarney assumiu o comando político do Estado. Será o ano mais difícil dessa longa trajetória, assim como também não é nada fácil para a esquerda, comandada por Flávio Dino, que precisa provar ao povo maranhense que valeu a pena derrotar o grupo Sarney em 2014.
Roseana Sarney precisa reciclar o discurso para convencer o eleitorado de que o sarneísmo não morreu, no qual só ela passou 14 anos no Palácio dos Leões. Portanto, arrancar o poder de Flávio Dino virou uma guerra de tudo ou nada. O mais difícil embate de urna que Roseana vai enfrentar. Já Flávio Dino, que derrotou o sarneísmo com o discurso do “novo”, está se preparando para descontruir, de uma vez, o sarneísmo, com seu modelo de gestão inovador, de combate à pobreza, sustentado na transparência, sem parentesco e sem patrimonialismo, na relação com grupos empresariais, principalmente familiares.
Em 2014, Flávio Dino ganhou as eleições no primeiro turno, com uma coligação de nove partidos, contra 16 legendas que seguiram o candidato sarneísta Lobão Filho, um arranjo de última hora, quando fracassaram as articulações comandadas por Roseana Sarney, de colocar Luís Fernando Silva, um nome conhecido do eleitorado. Já este ano, Dino pode ter o mesmo número de Lobão Filho quatro anos atrás, e Roseana, com o MDB, terá o mesmo de Flávio Dino.
Cadê a ideologia?
O governo de Flávio Dino é diariamente chamado de “comunista” pelos seus adversários e plataformas de comunicação dos Sarney, cujo grupo, na essência, não se conforma com a perda de poder. No entanto, nenhum político ou partido assume a pecha de “direitista”. Nem Roseana Sarney, nem mesmo a ex-prefeita de Lago da Pedra, Maura Jorge, que está trocando o Podemos pelo PSC do presidenciável Jair Bolsonaro, símbolo máximo do direitismo brasileiro nos dias de hoje.
No Maranhão, o PT virou vários PTs, dentre os quais a ramificação que se distanciou de Flávio Dino e voltou às origens sarneístas, como em 2006, 2010 e 2014. É o lado que pretende impor o deputado federal Waldir Maranhão, ainda no PP, como candidato a senador, na aliança com Dino. Mesmo assim, o ex-senador José Sarney se movimentou junto a Michel Temer, para empurrar o PP rumo ao palanque de Roseana, sob pena de perder os cargos federais que controla no Maranhão.
O fato de Flávio Dino ter garantido o DEM em sua coligação, uma legenda historicamente de direita, mostra o quanto a política do Maranhão perdeu a noção da ideologia que, na realidade, nunca mostrou sua cara nas campanhas. Ao longo da história das eleições maranhenses, a ideologia mais forte a permear as eleições é do dinheiro na compra de voto.
Daí a pouca atenção dada pelos governos passados à melhoria da qualidade da educação que, inexoravelmente, eleva a consciência política e a melhora de vida do cidadão. É melhor ter o voto alienado dos “grotões” da pobreza, do que noções sobre o sentido do mandato popular.
Para se ter ideia da pulverização ideológica nesta campanha, só na Câmara dos Deputados, em apenas uma semana, aproveitando a “janela” de 30 dias, criada pelo Congresso para burlar a lei da fidelidade partidária, nada menos que 45 deputados entram no frenético jogo do troca-troca de legenda. Até o dia 7 de abril, quando a “janela” se fecha, essa onda migratória vai explodir legendas e robustecer outras. O motivo principal: dinheiro público dos fundos de Campanha e Partidário, que somam mais de R$ 3 bilhões. Mais o jogo das sucessões estaduais e o federal.
Lembrança do bipartidarismo
Em 1965, com a ditadura militar ainda engatinhando no segundo ano de ter golpeado a democracia e quando candidatos do PTB e do PSD – siglas consideradas de oposição – venceram eleições para os governos estaduais, o presidente Castello Branco editou o Ato Institucional nº 2, criando a Arena e o MDB. “Ficam extintos os atuais Partidos Políticos e cancelados os respectivos registros”, dizia o artigo 18 do AI-2. A Arena sustentava o regime, e o MDB imprimia, dentro do espaço de oposição, duro combate aos militares.
Naquele intervalo entre democracia e ditadura, a fronteira entre a direta sarneístas e esquerda emedebista no Maranhão não existia. A Arena atraiu todas as tendências políticas que viam na “Revolução Redentora” a solução para todos os males pregados pelas esquerdas incipientes, de João Goulart. Sarney, apoiado por Castello Branco, cuidou de realizar uma gestão inovadora, sob o lema de “Novo Maranhão”.
Sarney, com inigualável talento na arte da política estadual e depois nacional, sabia transitar no caldeirão ideológico do período de seu governo, às vezes atraindo políticos da zona cinzenta do centro à esquerda. Até hoje, vez por outra, estende a mão também para esquerdistas de ocasião, em busca de farelos de poder. Não é à toa que o deputado José Reinaldo, um direitista convicto e historicamente sarneísta, de repente se postou no centro de um debate em que nada tem de ideológico, mas apenas de jogadas inerentes ao poder.
Universo obscuro
Se no Maranhão, assim também como no Brasil, houvesse uma fronteira ideológica demarcada entre direita e esquerda, nem José Reinaldo tinha sido eleito pelo PSB, na sombra de Flávio Dino, nem o DEM, comandado por ACM Neto, estava igualmente sendo disputado pelo governo ‘comunista’ e pelo direitismo de Eduardo Braide e de Roseana Sarney. A velha máxima de “cada macaco em seu galho” não tem sentido na eleição de 2018 no Maranhão, como foi em outros pleitos decisivos, desde 1965.
Não é sem outro motivo que o jornalista Luiz Pedro, que já transitou até pelo PTC, originário do Partido da Juventude, matriz do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), que elegeu Fernando Collor, passou pelo PDT, agora trocou o PCdoB pelo PT, com a alça da artilharia apontada para Flávio Dino e Márcio Jerry, dois mandachuvas do partido da foice e do martelo no Maranhão. Estranho é que o jornalista se abrigou no PT, que está plantado no governo e na coligação de Flávio Dino. Porém, deu eco ao mesmo barulho que a direita de Roseana, Roberto Rocha, Maura Jorge e Eduardo Braide fazem.
Não foi diferente em 2014, quando Flávio Dino conseguiu o que parecia ser impossível: negociar uma composição com o PSDB, colocando o tucano Carlos Brandão como vice-governador. A disputa do vice para este ano continua implacável, mas Flávio Dino já avisou aos partidos da base que Brandão será mantido. Até agora. Motivo: o partido, mesmo tendo candidato presidencial, não será obstáculo, como ocorreu em 2014, com Aécio Neves disputando a Presidência. Também o PCdoB terá Manuela d’Ávila candidata ao Planalto, sem interferir, porém, na coligação do Maranhão.
Um sonho de todo esquerdista: ver a esquerda unida. Mas será que a esquerda realmente se move neste sentido? O que se vê nas redes sociais é o contrário, uma briga fratricida entre pessoas que, no fundo, desejam o mesmo, apesar das divergências. Há alguns esquerdistas que parecem dedicar mais tempo a atacar gente que está no mesmo lado da luta do que no lado oposto. É muito desperdício de energia e desejo de autopromoção.